População reclama da falta de banheiros públicos na cidade

quarta-feira, 18 de abril de 2012
por Jornal A Voz da Serra
População reclama da falta de banheiros públicos na cidade
População reclama da falta de banheiros públicos na cidade

Dalva Ventura

Levante a mão quem nunca passou por isso. Você está tranquilamente andando na rua quando, de repente, sente aquela vontade de ir ao banheiro. Às vezes dá para segurar, mas em algumas ocasiões não tem jeito. A solução é procurar o banheiro mais próximo se não quiser passar vergonha no meio da rua.

E aí é que está o problema. Como em Nova Friburgo não existe banheiro público—atenção, nenhum banheiro público—a solução é correr até o restaurante, a lanchonete, o bar, ao supermercado ou shopping mais próximo. Na hora do aperto, não dá para escolher, mas a verdade é que os sanitários de alguns destes locais—senão, da maioria—se encontram em condições lastimáveis do ponto de vista higiênico.

A situação é complicada, pois os comerciantes alegam, com razão, que a obrigação de construir, reformar e manter banheiros públicos é do governo e não deles. Ou seja, ao franquear os sanitários de seus estabelecimentos à população, estão prestando um serviço à comunidade. E todos, sem exceção, se queixam da falta de civilidade da população, que deixa os banheiros sujos e depredados.

Quanto mais central o estabelecimento, mais costuma ser procurado por quem precisa. Da mesma forma, no carnaval ou em datas especiais, ocorre uma grande concentração de pessoas na rua e, naturalmente, aumenta a “procura” por estes locais, já que os banheiros químicos, quando instalados, nunca são em número suficiente.

A coisa chegou a um ponto que alguns desses comerciantes deixaram de abrir seus bares durante o carnaval, mesmo amargando prejuízos com isso. Foi o caso do Marcelo Pinguim, do Bar’t Papo, localizado no térreo do prédio da Energisa—Rua Dante Laginestra, quase na esquina da Praça Getúlio Vargas. Por ficar num ponto bem central, o bar seria procurado por todo tipo de gente. Muito complicado. Pinguim não negaria, mas sabe que as pessoas nem sempre são cuidadosas ao ponto de manter o banheiro do jeito que encontraram.

Os banheiros do Bar’t Papo são impecáveis, contrastando com o da maioria dos bares e, principalmente, dos botequins da cidade. Tem até um, especial, para cadeirantes. Eles foram, inclusive, elogiados num e-mail enviado por um leitor para A VOZ DA SERRA. E até receberam menção honrosa da Câmara Municipal.

O fato é que quem mora ou tem comércio no Centro sofre o diabo com esse problema, pois os “mijões” não escolhem lugar. Emilene Diniz, proprietária da banca localizada na Praça Getúlio Vargas, em frente ao antigo fórum, é uma delas. Ela já chega com um saco plástico nas mãos para não sujá-las enquanto lava sua banca. A água, pega emprestado dos taxistas. Caso contrário, nem ela nem ninguém aguentaria chegar perto da banca, pois o cheiro de urina, diz, é insuportável.

E o que dizer dos banheiros da rodoviária? Sem comentários. Seu estado é deplorável, para dizer o mínimo. Quem paga o pato para tamanho descaso é, mais uma vez, a população. Será? Quem garante que não seriam conservados se fossem limpos com frequência?

Ali, bem pertinho, na Rua Sete de Setembro, fica o bar e restaurante Sabor da Roça, também muito procurado pelos que precisam se aliviar. Revoltada, a proprietária do bar, Maria Lopes, ressalta que não é obrigada a deixar pessoas que sequer são clientes usarem o banheiro.

“Elas nem pedem e já vão entrando. Quando vejo, já estão até saindo. Eu nem me importaria, mas acabei botando chave e até a fechadura alguém quebrou e levou. É o dia inteiro assim, desde o momento em que a gente abre a porta até a hora em que fechamos. O pior é que fazem a maior lambança. É limpar e o primeiro que chega suja tudo.”

O gerente do Supermercado Extra, Cesio Barsílio, faz coro com dona Maria. Muito procurados pela comunidade, os banheiros do Extra não servem de exemplo para qualquer estabelecimento. A situação já era crítica desde os tempos do antigo ABC e não parece ter melhorado muito desde que este passou ao controle do Extra. Cesio diz que os banheiros passaram por uma pequena reforma. As lixeiras foram trocadas e as portas, substituídas.

“A questão é muito complicada. Nossos banheiros são franqueados à população em geral—e não apenas aos nossos clientes—e, infelizmente, tem muita gente mal-educada que não respeita as mais elementares regras de educação e civilidade. Quebram tudo, sujam tudo.”

A equipe de limpeza do supermercado, afirma o gerente, é orientada para limpar os banheiros de 15 em 15 minutos, mas ele mesmo reconhece que a recomendação é difícil de ser cumprida à risca.

Já os banheiros do Supermercado Tutti Frutti, no final da Praça Getúlio Vargas, são impecáveis. Um exemplo para outros estabelecimentos. Um deles tem até bancada para as mães trocarem a fralda dos bebês. Embora sejam, em princípio, destinados aos clientes, como os demais, nem parece que são usados por tanta gente. Para dar conta desta façanha, o supermercado designou dois funcionários só para cuidar dos banheiros. Também teve o cuidado de deixar a chave no atendimento.

“Mas é complicado. Tem gente que depreda mesmo. Pega até as tampas da privada, as peças que sustentam o papel higiênico, o porta-papel toalha. Por incrível que pareça, alguns viram o recipiente de sabão líquido para baixo só para desperdiçar, afirmou o gerente Edson Rocha.

Prefeitura não tem projeto para construção de banheiros

A explicação para toda esta falta de educação pode ser a revolta com a falta de banheiros públicos na cidade. Assim, acaba sobrando para quem não tem nada com isso e está até prestando um serviço que, a rigor, não lhes compete.

“Aqui em Nova Friburgo a gente tem que se virar. Quantas vezes somos obrigados a pedir aos comerciantes para usar seu banheiro. É muito complicado”, diz a professora aposentada Marise Corrêa.

Outra que já tem um “mapa mental” dos lugares aos quais pode recorrer sem muito constrangimento, e de banheiros limpos, é a auxiliar de escritório Gisele Cardoso.

“Como fico muitas horas na rua, em filas de banco ou do INSS, já passei por muitas situações complicadas. Quem já precisou pedir para usar o banheiro de uma lanchonete, às pressas, sabe o que isso significa. É muito chato porque dá a impressão de que a gente só entrou ali porque precisava. Muitas vezes gasto um dinheiro que eu nem queria nem podia gastar só para poder usar o banheiro sem me sentir envergonhada de pedir. Acho um absurdo uma cidade como Nova Friburgo não dispor de um único banheiro público para a população.”

Enquanto isso, a Prefeitura não apresenta solução para o problema. O secretário de Serviços Públicos, Roberto Torres, reconhece a necessidade de uma solução, mas afirma desconhecer a existência de um projeto para a construção de banheiros públicos. O ex-secretário da pasta, Alexandre Cruz, joga a culpa na população, que não conserva os bens públicos e os depreda sem dó nem piedade.

Aliás, diz ele, não apenas os públicos. “Vale tudo quando se fala em banheiros, pois ali as pessoas ficam fechadas, é triste isso.” Alexandre Cruz acha que a situação só vai mudar quando a população se conscientizar da necessidade de cuidar e conservar o bem comum.

“Você vê, a Prefeitura construiu aqueles banheiros—que nem deveriam mais ser chamados de banheiros—ali no Bairro Ypu, embaixo do viaduto. Deu no que deu. Também franqueamos à população os banheiros do restaurante popular, na Prefeitura. Tivemos que fechar à chave, pois ficavam imundos, até o pessoal dos serviços gerais se recusava a limpar. Sinceramente, não sei qual é a solução.”

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