Perdemos mesmo?

A equipe eliminada da Copa América, com alguns personagens diferentes, é a mesma que levou de 7 a 1 da Alemanha há pouco tempo
segunda-feira, 13 de junho de 2016
por Vinicius Gastin
(Foto: Manu Dias / AGECOM)
(Foto: Manu Dias / AGECOM)

A Seleção Brasileira perdeu para o Peru e está eliminada da Copa América. Essa mesma equipe, apenas com alguns personagens diferentes, levou de 7 a 1 da Alemanha há pouco tempo. O que mudou? Absolutamente nada. Há algum tempo, torcer pelo sucesso do time canarinho é quase o mesmo que desejar o insucesso do futebol nacional.

O novo vexame da Seleção Brasileira pode representar uma vitória para o esporte mais popular do planeta em nosso país. Ou pelo menos deveria. Basta fazer a leitura correta e transformar interpretação em atitude. Se os sete não foram suficientes, talvez ficar de fora da Copa América para Equador e Peru seja um novo alerta. O grito de uma paixão nacional, que há anos pede socorro.

Para entender o contexto é preciso voltar ao passado. Desde 1970, o Brasil ganhou duas copas com direito a um jejum de 24 anos. Há de se destacar o talento de dois jogadores acima da média – Bebeto e Romário. Hoje temos apenas um (Neymar). Há mais de 40 anos, o Brasil sobrevive apenas de talentos, e os resultados maquiam um cenário tenebroso.

Curiosamente, a partir da década de 80, a profissionalização do futebol exigiu organização, investimentos e planejamento. A nossa seleção é reflexo do país como um todo. Ou seja: não houve nada disso. O que temos a oferecer em termos de estrutura? E na questão tática? Outros países evoluíram, investiram e planejaram. Incorporaram a essência do futebol brasileiro de outrora e aperfeiçoaram, enquanto nós retrocedemos. A decadência não começou nesses últimos anos.

O Brasil usa os clubes e a paixão de seu povo pelo esporte para outros fins. São instrumentos de manipulação. O futebol virou um grande negócio, e os jogadores são apenas produtos, moldados de acordo com a exigência de mercado. O aspecto social está esquecido. A formação desses atletas no Brasil atende exclusivamente ao modelo europeu, onde a qualidade técnica fica em segundo plano, priorizando a questão física. É preciso vender rápido. E o mais grave: existem leis, como a Pelé, que protegem esse tipo de ação e deixam os clubes desguarnecidos.

A elitização do futebol nacional, cada vez mais evidente com os privilégios a uma meia dúzia de times e a asfixia aos clubes de menor investimento (que são as verdadeiras fábricas de talentos), apenas reforçam esse cenário. Exemplo: dois clubes recebem quase três vezes mais o valor das cotas de televisão que outros clubes de mesma importância cultural, histórica e patrimonial. Não existe meritocracia ou interesse em fortalecer de maneira uniforme. Por que? Juntos, esses dois clubes representam cerca de 70 milhões de pessoas. E essa é a realidade política no Brasil sob todas as instâncias: a maioria manipulada perpetua o poder. No futebol não é diferente.

Essa geração de jogadores reflete tudo isso de forma cristalina. Identificação? Não existe. O atleta brasileiro é astro na Europa e anônimo no próprio país. Defender a seleção parece ser um peso. Pobre futebol brasileiro, comandado há anos pelo mesmo grupo. O futebol no Brasil nunca foi "só futebol". Aproveitam-se disso, mas de maneira suja.

A escolha por Dunga depois da Copa de 2014 foi uma nova tentativa de obter resultados imediatos, sem a preocupação com o trabalho a longo prazo, que exigiria uma ampla discussão desde a base. Os resultados não aconteceram, e voltaremos a falar sobre assuntos que já deveriam ter sido profundamente debatidos. Tomara que, desta vez, com alguma consequência prática positiva.

Será que perdemos mesmo, então? Escrevemos mais um capítulo triste para a história da seleção, mas que pode se transformar em uma grande vitória, caso a análise correta seja feita. No momento em que tantos caciques políticos são investigados e punidos, por que não inserir a tribo do futebol nesse contexto?

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