No Dia da Juventude, pedagoga analisa papel da tecnologia na vida das novas gerações

Para Lucia Mineiro, mesmo aproximados por redes sociais e aplicativos, jovens estão cada vez mais individualistas
sábado, 30 de março de 2019
por Guilherme Alt (guilherme@avozdaserra.com.br)

Comemorado neste sábado, 30, o Dia Mundial da Juventude tem como maior objetivo focar na educação determinada e na conscientização de jovens sobre as responsabilidades que poderão assumir como representantes do futuro. A VOZ DA SERRA entrevistou a pedagoga Lucia Mineiro, que há 36 anos atua na área e é uma das responsáveis pelo nobre ato de ensinar e educar gerações, mostrando os vastos caminhos de sucesso a serem seguidos.

Lucia também atua no ensino profissionalizante, que em suas palavras “é um mundo extremamente apaixonante e, um público diferente, ávido por aprender porque é um público que se prepara para o mercado de trabalho”. Em uma faixa compreendida entre 19 e 29 anos, a juventude atual passa por mudanças que suas gerações anteriores não experimentaram e é impossível falar em mudança sem falar em tecnologia e como ela está presente em nossas vidas. 

AVS: O que você pode nos dizer sobre essas gerações, em seus 36 anos de atuação na área?

Lucia Mineiro: São gerações bem diferentes. Há dez anos tínhamos um grupo que trabalhava com a proximidade, era muito de andar e conversar com o amigo, estar sempre juntos. Hoje a gente percebe que a juventude está mais individualista. A tecnologia colocou em nossas mãos, e não só na da juventude, produtos que nos afastam.

O que é irônico porque a tecnologia que veio para aproximar acabou afastando as pessoas...

É uma preocupação nossa porque enquanto a gente vê uma geração antenada e conectada, ela se torna cada vez mais isolada e isso traz outras complicações como relacionamentos, angústia, falta de controle de ansiedade.

A juventude hoje é mais ansiosa do que antes?

Com a máquina se tem tudo muito rápido, instantâneo e o contato físico, pessoal, não acontece na mesma velocidade. As pessoas querem respostas muito rápidas e não conseguimos fazer isso em âmbito pessoal. As relações são construídas através de valores, erros, acertos, convivência e quando você tem a ilusão de que a coisa vem muito rápido, isso se esvazia. É uma espécie de mundo paralelo. Mas apesar disso tudo, a gente sabe que existem vantagens, como a velocidade de comunicação, interagir com pessoas muito distantes, e isso é fantástico.

Em dez anos, a juventude mudou muito?

Mudou demais, é um processo natural. A juventude é uma fase em que você se descobre como pessoa, como profissional e se a pessoa não tem tempo de se observar, de se analisar, se não encontra ferramentas que te dão essa visão você pode ficar angustiado e isso é ruim porque pode passar para o outro.

Estamos vivenciando a “geração mimimi" ou os problemas sempre estiveram presentes, mas hoje as pessoas têm mais coragem para expô-los?

A pessoa está por trás de uma máquina na maior parte das vezes então você fala o que quer e quando recebe mensagens refutando aquilo que você coloca, por estar em uma zona de conforto, você pode desligar a máquina, retirar a pessoa do seu convívio virtual e com isso ter a impressão de que pode falar tudo. É um cuidado que a gente tem tido com os jovens, dando orientações sobre o que falam, o que postam, porque tudo tem consequências.

O bullying tem aumentado, diminuído ou está a mesma coisa, com relação aos anos anteriores?

Tem aumentado muito. Na nossa época, as relações de implicância que um tinha com outro, você acabava construindo uma blindagem. Então, quando as coisas chegavam, não chegavam como bullying. Hoje as pessoas estão desprotegidas, emocionalmente,  então qualquer coisa que nos atinja vai ser muito forte. E há a sensação de constrangimento, a pessoa se sente humilhada e é consequência da dificuldade de relações que nós temos hoje.

Que tipo de trabalho é feito para atenuar problemas como esse?

A conversa, o olho no olho é sempre o mais recomendado. O exercício do olho no olho, a pessoa poder dizer o que pensa frente a frente e depois, se chegar ao consenso é o melhor caminho. O momento de conversar não é pelo Whatsapp, ali é somente troca de mensagens. Precisamos trabalhar muito as relações interpessoais, não só entre colegas, mas com a família. É preciso que o jovem saia do quarto, da frente do computador, que abra a porta. Estar fechado dá a sensação de que, só porque está em casa, está em segurança. Eu creio muito no olho no olho.

Como você pode definir a juventude atual em uma palavra?

Movimento. A palavra é essa. A busca e a troca constante de informação, a procura pela identidade, que sempre foi uma característica da juventude, hoje é ainda mais forte porque a pessoa está muito sozinha. E para se construir é uma ginástica muito maior. Eu percebo que nós temos um futuro brilhante pela frente, com pessoas que estão com a cabeça fervendo de ideias e essa é umas das principais funções como pedagoga: potencializar as coisas boas que essas pessoas têm, oportunizar os encontros e mediar os desencontros.

 

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