Mulheres pedem o fim da cultura do estupro em Nova Friburgo

Em ato pacífico, grupo caminhou com cartazes e chamou a atenção para a violência contra mulher na cidade
quinta-feira, 02 de junho de 2016
por Alerrandre Barros
(Fotos: Eliziene Vellozo)
(Fotos: Eliziene Vellozo)

Cerca de cem mulheres fizeram um ato contra o machismo, a cultura do estupro e em defesa dos direitos das mulheres, no início da noite desta quarta-feira, 1º, no centro de Nova Friburgo. As jovens lembraram o caso de estupro coletivo de uma adolescente, ocorrido na última semana, em um bairro na Zona Oeste do Rio de Janeiro, e gritaram palavras de ordem e exibiram cartazes com mensagens como “Machismo mata”, “30% dos estupradores são da família da vítima” e “Meu corpo, minhas regras”.

O grupo se concentrou em frente à Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) e seguiu em caminhada, a partir das 19h30, pela Avenida Presidente Costa e Silva. As mulheres, algumas acompanhadas de namorados, pararam próximo ao Hospital Raul Sertã, onde criticaram a violência obstétrica. Em seguida, caminharam até a Praça do Suspiro, onde falaram sobre a “opressão dos padrões de beleza”. As jovens seguiram para Estação Livre (antiga rodoviária urbana) e criticaram o machismo nas baladas. Depois, nas escadarias do antigo Fórum, elas comentaram que a mulher precisa cada vez mais “ocupar os espaços e garantir seu direito de se expressar”. O protesto foi acompanhado pela Polícia Militar.

O ato pacífico terminou, por volta das 21h30, na Praça Getúlio Vargas. Ao redor da estátua do ex-presidente, o corpo de uma atriz seminua, repleto de mensagens de ódio, foi lavado pelas jovens. A artista usou uma sacola preta na cabeça para representar o sufocamento causado pelo estupro, mas também a “violência” e a “morte”. No local, as meninas, emocionadas, citaram nomes de jovens vítimas de estupro em Friburgo e outras cidades.

“Foi forte, bem emocionante!”, disse uma das organizadoras do ato, a jornalista Amanda Batista. “Essa caminhada foi realizada para conscientização das mulheres sobre a importância do feminismo e o fim da violência do patriarcado. Apesar de muito homens terem rido de nós durante o ato, não ligamos, apenas ignoramos, mas gritamos que queremos respeito”, comentou.

O ato “Por todas elas. Por todas Nós” foi realizado em várias cidades do país nesta quinta-feira, 1º. A mobilização foi provocada depois que uma adolescente, de 16 anos, foi vítima de um estupro coletivo, no dia 21 de maio, no Rio de Janeiro. O caso veio à tona cinco dias depois, quando foi publicado na internet um vídeo dela, nua e desacordada, sendo tocada por um homem. Nesta segunda-feira, 30, a delegada da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV), Cristiana Bento, afirmou que está convicta que houve estupro. A polícia, entretanto, ainda não tem elementos para confirmar a versão de que mais de 30 homens participaram do crime. Três suspeitos foram presos provisoriamente e outros estão sendo procurados.

Aumenta os casos de estupro no RJ

Na última terça-feira, 31, A VOZ DA SERRA mostrou que o crime é mais comum do que se imagina em Nova Friburgo. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), nos últimos quatro meses, foram registrados 17 casos de estupro — o que também inclui casos de atentado violento ao pudor — na 151ª DP. Três a mais que no mesmo período do ano anterior. Só em abril, seis mulheres procuraram a delegacia da cidade para denunciar seus abusadores. Em 2015, houve 52 casos no total, no município.

Os dados sobre estupro são ainda mais alarmantes no estado do Rio de Janeiro: ocorreram uma média de 13 casos por dia entre 1º de janeiro e 30 de abril deste ano. De acordo com o IPS, órgão ligado à Secretaria de Estado de Segurança do Rio, foram registrados 1.543 casos de estupro no estado nos primeiros quatro meses de 2016. Apenas em abril deste ano, foram registrados 428 de estupro no estado . No mesmo mês de 2015, o número foi ligeiramente menor — 420 casos. O total de registros nos quatro primeiros meses de 2015, porém, foi maior que o do mesmo período deste ano — 1.690 contra 1.543. A cidade em que houve mais registros entre janeiro e abril foi Cabo Frio, com 98 casos no total.

Depois da repercussão do caso de estupro coletivo, o presidente interino Michel Temer anunciou algumas medidas com intuito de melhorar a segurança pública no país, principalmente em relação ao combate à violência contra as mulheres. Entre as novidades estão a criação de um núcleo especial de proteção da mulher e o lançamento de convênios específicos com aporte de dinheiro do governo federal.

“Estamos assistindo a uma onda crescente de violência contra a mulher. A competência não é da União, mas podemos ajudar no combate à violência contra a mulher. Neste sentido, estamos vendo como podemos incrementar o auxílio aos Estados no combate a este tipo de violência porque entendemos que a conjugação de esforços é fundamental”, afirmou o presidente.

 

  • (Foto: Eliziene Vellozo)

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TAGS: manifestação | violência contra a mulher | violência doméstica
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