Morre Villas-Bôas Corrêa

Ícone do jornalismo brasileiro, Villas atuou por quase 70 anos nos mais importantes veículos de informação
sexta-feira, 16 de dezembro de 2016
por Jornal A Voz da Serra
Morre Villas-Bôas Corrêa

No início da noite de quinta-feira, 15, faleceu o jornalista Villas-Bôas Corrêa, aos 93 anos, em consequência de problemas respiratórios, no Hospital São Lucas, em Copacabana, onde estava internado desde o último dia 10.

Sua trajetória teve início em 1948, no extinto jornal carioca A Notícia, e seguiu criando seu estilo que se tornaria inconfundível e serviria de inspiração para colegas e gerações futuras, no Diário de Notícias, O Dia, Jornal do Brasil e O Estado de São Paulo.

Como comentarista político em rádio e TV - Bandeirantes e extinta Manchete -, era admirado pelo estilo elegante e sofisticado que marcava de forma indelével seus textos onde a apuração detalhada não deixavam dúvidas quanto à veracidade da informação.

No Jornal do Brasil, onde assinou coluna até 2011, teve como colega o jornalista Ancelmo Gois, que na sexta-feira, 16, escreveu em O Globo: “Ao lado de Carlos Castelo Branco, o Castelinho, Villas foi um dos maiores nomes do jornalismo político durante a metade do século XX. Nesse período, ele viveu momentos intensos, passando pelos governos de Juscelino Kubitschek e João Goulart. Houve o golpe de 1964, a ditadura militar, as lutas pela redemocratização, a anistia, as Diretas Já. Ou seja, ele foi um analista privilegiado desses momentos intensos da história do Brasil”, destacou Ancelmo.

Carioca, da Tijuca, Luiz Antônio Villas-Bôas Corrêa se formou em direito na Faculdade Nacional, em 1943, onde presidiu o Centro Acadêmico. Foi na faculdade que desenvolveu seu perfil de analista político, que o projetaria como um importante jornalista do setor, tornando-se o mais antigo do país, até sua morte. Brilhou na carreira pela qual era apaixonado por mais de 68 anos, em rádios e emissoras de televisão, inclusive em editoriais que marcaram o jornalismo.    

Deixou dois livros de memórias publicados: “Casos da Fazenda do Retiro” (2001) e “Conversa com a memória: a História do Meio Século de Jornalismo Político”, uma autobiografia de um repórter político. Publicou ainda “Os Presidenciáveis”, entre outros.

Assim como encerrou sua colaboração com o Jornal do Brasil, em 2011, foi também, no mesmo ano, que “o último sobrevivente da geração que cunhou o modelo de reportagem política que ainda hoje se pratica”, como se auto definiu em meados 1985, escreveu seu último artigo para A VOZ DA SERRA, onde manteve uma coluna semanal, durante mais de dez anos.

Era em Nova Friburgo que Villas-Bôas passava os fins de semana, feriados, temporadas de verão, sempre acompanhado da esposa Regina, num belo condomínio de casas em Mury. E aqui consolidou uma bela amizade com o saudoso jornalista Laercio Ventura, patrono de A VOZ DA SERRA, entre outros amigos, como Roosevelt Concy.  

Villas-Bôas Corrêa morreu de falência múltiplas dos órgãos, aos 93 anos, após uma semana internado no Hospital São Lucas, no Rio. Viúvo, deixa dois filhos, três netos e três bisnetos. À família enlutada, direção e equipe de A VOZ DA SERRA enviam seus votos de mais profundo pesar.

Para Villas, com carinho
Por Roosevelt Concy

“Conheci o Villas, era assim que o chamávamos, por intermédio de Laercio Ventura, há uns 25 anos. Era um homem alto, magro, com uma voz firme, muito positivo e amigo. Residia no Rio e tinha sua casa de veraneio em Mury, no condomínio Cantão Suíço, de onde não abria a mão de estar, sempre que possível. Era metódico: saía de sua casa na Gávea (à época), às sextas-feiras, por volta das 7h, e chegava em Friburgo às 9h15. Então, vinha para o centro bater um papo, trocar umas ideias com o amigo Laercio, no jornal A VOZ DA SERRA, beber um café e depois dar umas voltas pela cidade.

Uma vez por mês durante longos anos, almoçávamos, os três, numa dessas sextas-feiras. Sua paixão por Friburgo e o natural interesse pela política local e o seu conhecimento dos bastidores da política nacional, faziam o papo se prolongar por duas ou três horas. Certa vez, quando foi renovar o contrato com a TV Manchete onde tinha um quadro diário sobre política no telejornal, condicionou que só trabalharia de segunda a quinta-feira, pois, as sextas seriam dedicadas exclusivamente a Friburgo. A emissora aceitou sem mais delongas, todos sabiam da paixão dele pela cidade.

O grande amor de sua vida era sua mulher, Regina, uma pessoa atenciosa e sempre muito carinhosa com ele. Participativa e acolhedora, ela fazia questão de estar presente na vida do marido. Lembro- me do aniversário de 80 anos do Villas, quando Regina nos convidou, sem que ele soubesse, para um almoço em família no restaurante Bräun&Bräun, em Mury.

Certa vez, próximo ao Natal, ganhei um presente inesquecível do casal: um filhote de dog alemão nascido em sua casa de Mury, cujos pais desfilavam pelos jardins e nos assustavam sempre que íamos visitá-los. Os cães tinham cerca de um metro de altura, talvez tenha sido essa a motivação para o presente, fazer com que eu perdesse o medo.

Aprendi muito de Brasil e de política com o Villas. Cada encontro era uma aula, e ali vislumbrávamos o homem íntegro que ele era. Um jornalista perspicaz, imparcial, uma referência naquilo que fazia. Seu legado é o de um profissional comprometido com a essência do jornalismo, com a verdade, e com o seu país. O Brasil perde um grande e insubstituível analista político, e Friburgo, um grande e apaixonado friburguense.

(Roosevelt Concy é advogado, professor e diretor da Universidade Candido Mendes, campus Nova Friburgo)

Foto da galeria
Os amigos Laercio Ventura e Villas-Bôas Corrêa (Foto: Arquivo A VOZ DA SERRA)
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