Montanha Cup: um importante evento para alavancar a modalidade no município

Na primeira edição, apenas com o apoio da Prefeitura, o Montanha Cup contou com 150 atletas, algo inédito no estado até então
quarta-feira, 04 de maio de 2016
por Vinicius Gastin
Momento da largada em São Pedro da Serra: esporte, turismo e economia são contemplados
Momento da largada em São Pedro da Serra: esporte, turismo e economia são contemplados

Estrutura para as grandes competições e eventos de ciclismo Nova Friburgo sempre teve. Tanto é que Eduardo Salusse e tantos outros já exploravam esse potencial natural da cidade desde meados do final do século 19, como mostrou a primeira reportagem da série sobre o Resgate do Ciclismo na última quinta-feira, 28 de abril. De fato, houve tentativas de se criar eventos sólidos no decorrer dos anos, que pudessem aproveitar dos mais diversos modos as trilhas e a natureza friburguense para a prática da modalidade. Alguns obtiveram relativo sucesso, mas faltou continuidade.

Há 11 anos, o cirurgião-dentista Orlando Miéle Junior idealizou uma competição de ciclismo em Nova Friburgo. Apaixonado pelo esporte, participou de diversos eventos pelo estado e visualizou exatamente esse potencial da cidade para organizar este tipo de evento. Na primeira edição, apenas com o apoio da Prefeitura, o Montanha Cup contou com 150 atletas, algo inédito no estado até então.

 “Fizemos a primeira edição sem correr atrás de patrocínios, por opção mesmo. Não tínhamos certeza de como iria acontecer e nem se conseguiríamos realmente fazer o evento”, contou Miéle. O sucesso fez o Montanha Cup crescer e reunir um número maior de participantes a cada ano. Pontos estratégicos eram escolhidos para a largada e a chegada das provas, movimentando também a economia e o turismo do município e localidades onde o evento se concentra. 
Novos patrocinadores foram atraídos, e a cidade abraçou a ideia com o crescimento do projeto. “Todos os segmentos querem que as coisas funcionem. O movimento nas pousadas de São Pedro da Serra e adjacências, por exemplo, dobra no fim de semana de competição. Já tivemos pessoas de Tocantins, Bahia, do sul, Itália e de várias outras partes do mundo.” 

Outro ponto positivo do Montanha Cup é a participação de personalidades do ciclismo, como o campeão brasileiro e pentacampeão da prova, Robson Ferreira, além de Henrique Avancini, outro grande nome da modalidade, presentes em diversas edições. Tudo isso sem contar, logicamente, com os anônimos e amantes do ciclismo, que proporcionam a sustentação necessária para a realização do evento.
Na edição deste ano, aproximadamente 400 atletas estiveram presentes. A atividade integrou as comemorações da criação do 7º distrito. De acordo com dados do município, a taxa de ocupação das pousadas na localidade chegou a praticamente 100%.

No primeiro dia de prova, os atletas seguiram pela região de Alto do Macabu, passaram por um pequeno trecho da localidade de Santo Antônio e retornaram ao centro de São Pedro da Serra. O percurso totalizou 38 quilômetros, com picos de até 1.400 metros. 

Após a largada em São Pedro, os ciclistas passaram por Vargem Alta, pela localidade de Cruzeiro, Venda Azul e retornaram para o sétimo distrito, percorrendo 42 quilômetros, porém sem tantas subidas. Já houve também edições com largada na Praça Dermeval Barbosa Moreira, seguindo pela antiga linha do trem e Mury, com destino ao trajeto principal em Macaé de Cima. 

Toda a sinalização é feita na véspera, e as orientações direcionam o percurso corretamente. A organização e os cuidados garantem os resultados positivos e inclusive possibilitam a ampliação do evento: em 2015 e este ano foram dois dias de prova.

O modelo, inclusive, passou a ser cobiçado por outras cidades. No próximo dia 12 de junho, Teresópolis vai receber a segunda etapa do Montanha Cup 2016, algo que deverá representar a elevação do evento a um outro patamar. Assunto que será abordado na próxima reportagem da série O Resgate do Cicilismo, na edição da próxima quinta-feira, 12.

 

 

Personagens típicos

Sérgio e Alarico: exemplos de superação que marcam os 11 anos do evento

Dentre os milhares de competidores que já visitaram Nova Friburgo para participar do Montanha Cup, alguns trouxeram histórias que ajudaram a marcar a importância além das pistas do evento. Sérgio Fonseca e Alarico Moura são exemplos de personificação da teoria “o esporte transforma vidas”.

Aos 81 anos de idade, o aposentado Sérgio da Cunha Fonseca esteve presente em algumas edições. “Sempre andei de bicicleta. Gosto de ciclismo e venho a Nova Friburgo para participar com essa galera bacana. Eu sou o mascote dessa turma”, brinca.

Sérgio geralmente larga um pouco antes do grupo, e não chega a realizar o percurso completo. Mas espera os demais ciclistas para saudá-los com um desejo de boa sorte. “Não tenho condições físicas de correr com eles, mas só de participar já representa muito, me dá uma força grande. Não sei se eu dou energia a eles ou se são eles que me dão energia.”

Alarico Moura, 69 anos, é atleta de mountain bike, mas não como outro qualquer. Por onde passa, torna-se o centro das atenções. Conhecido pelo Brasil inteiro, o carioca desperta a curiosidade entre as pessoas e vira exemplo para todos que conhecem a sua história de vida. 

Amante dos esportes radicais e do rock, “Ala Bikeman”, como é conhecido, participa regularmente do Montanha Cup. Há 30 anos, perdeu a perna esquerda, e mesmo assim, enfrenta os diversos obstáculos da vida, inclusive os morros, com a bike pelo país. “É o que eu gosto de fazer”, comenta.

Há pouco tempo, Alarico derrapou exatamente enquanto pedalava, foi jogado contra a parede e caiu de uma altura de aproximadamente cinco metros. Quebrou alguns dentes e ficou com parte do lado direito do corpo paralisado — justamente o que possui a única perna. Poucos acreditavam que Ala pudesse voltar a pedalar, mas a recuperação do atleta surpreendeu até mesmo aos médicos. 

Aos poucos, ele retomou a vida radical. O ciclismo ajudou Alarico a superar não só a deficiência, como também a dependência química. “Eu tinha uma vida completamente desregrada, e o esporte me deu a oportunidade de recomeçar. Após completar o Montanha Cup de 2011, entrei no esporte e ganhei uma saúde fantástica. Com uma deficiência física eu não vejo nada diferente. Tudo isso me traz uma gratificação incomparável”, conta ele. 
Ala desenvolve projetos sociais e realiza palestras por todo o país. Dentro deste roteiro, o ciclista visita os detentos em presídios nos últimos meses do ano. “Os presos prestam atenção e gostam do meu jeito. Eles riem do meu modo de falar, adoram! Dizem muitas vezes que são poucos que fazem o que eu faço pela sociedade e me agradecem”, ressalta.

 

 

 

  • Desenvolvido por Orlando Miéle, o Montanha Cup é ponto crucial no resgate do ciclismo municipal

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  • Um dos pódios do evento deste ano: participação de mais de 400 atletas

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TAGS: ciclismo
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