Livro resgata memórias das bandas de Nova Friburgo

Em mais de 350 páginas, Fábio Erthal viaja no tempo e vai aos primórdios da origem da música no Brasil
sábado, 26 de maio de 2018
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
A capa do livro de Fábio Erthal (Reprodução)
A capa do livro de Fábio Erthal (Reprodução)

Na próxima segunda-feira, 28, às 18h30, o médico veterinário, pesquisador e escritor Fábio Erthal, lança novo livro, pela Marca Gráfica e Editora, desta feita em edição comemorativa pelos 200 anos de Nova Friburgo: “Memórias das Bandas de Nova Friburgo”.  

Seu conteúdo não se limita às histórias das bandas. O autor aborda o contexto histórico em que elas foram criadas, o ambiente social e cultural da época, e, questão da maior relevância, como se mantiveram por mais de 100 anos. É autobiográfico também ao abordar o interesse do autor pela música, sua eterna ligação com bandas, sua paixão pelo assunto que acabou por levá-lo à presidência da Sociedade Musical Recreio Bonjardinense, em sua cidade natal.

Em mais de 350 páginas, Fábio Erthal viaja no tempo e vai aos primórdios da origem da música no Brasil. Esmiúça a existência das bandas mais antigas, as rurais, as operárias, as colegiais, as sociedades musicais. Detalha com preciosismo de pesquisador, daqueles que não desistem diante dos obstáculos, e foram muitos, o passo a passo da trajetória não só de bandas, mas de seus compositores, instrumentistas, maestros, músicos, provedores, apoiadores. Esta é uma obra de fôlego, cujo autor merece todo o reconhecimento não só do público em geral, mas de historiadores, pesquisadores e pessoas envolvidas com arte e cultura.

“Rebuscar o passado é tarefa fascinante, ao mesmo tempo desafiante. Somente o dedicado propósito e uma grande paixão, nos levam a percorrer tortuosos caminhos à procura de informações, nem sempre correspondidos, porém gratificantes, por trazer à tona fatos históricos, pouco conhecidos. Com esse propósito, dediquei-me a este trabalho”, escreveu o autor no prólogo do livro.

Para o professor universitário José Flávio Silveira Feiteira, friburguense e ex-aluno do Anchieta, “graças ao interesse humano pela música, os cientistas puderam ampliar seus conhecimentos e, ao longo do tempo, desenvolver tecnologias notáveis disponíveis atualmente… Esta realidade reforça o pensamento do grande compositor brasileiro Heitor Villa Lobos: A música é o motor da vida!… Dessa paixão musical, mergulhado na poesia e em ressonância com a arte surge Fábio Erthal, este autor que, mais uma vez, nos presenteia com um livro sobre tudo isso”.

A paixão

Logo no primeiro capítulo, Erthal conta como tudo começou, como foi o seu “despertar pelo gosto da música”. Cita o compositor russo Igor Stravinsky (1882-1971), que proclamava, “a obra de arte deve ser exaltante”, ao que o jornalista Arnaldo Jabor teria emendado: “A arte deve ser a exaltação da própria vida”.

A partir dessas lembranças, o escritor revela que tinha 13 anos quando sentiu essa exaltação pela primeira vez. “Foi num domingo de maio de 1952, quando voltava da missa do Colégio Anchieta e deparei-me com o concerto da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), regida por Eleazar de Carvalho, na Praça 15 de Novembro (atual Praça Getúlio Vargas). Inesquecível lembrança, inapagável em minha memória”.  

Nas procissões, seu lugar era sempre ao lado da Banda Recreio Bonjardinense, da qual seu pai foi diretor, um irnão, clarinetista, e ele próprio, seu presidente, quando a banda chegou ao centenário, em 2000. Estudou acordeon, “sempre me imaginando ser músico, participar de uma banda, mas o dom de um ouvido apurado, afastou-me dos estudos, sem deixar de tocar. Confortava-me imaginar a satisfação dos músicos ao ouvirem os aplausos que recebem. A emoção me redime e, efusivamente, faço das minhas mãos um perfeito instrumento”.

Já morando em Friburgo, constituindo família, “cultuando as bandas de música, atraiu-me pesquisá-las”. Desde então, Fábio Erthal não parou mais. Buscou as mais diversas fontes orais, documentais, o Pró-Memória, “precioso repositório da história local e regional, que tem por guardiã e organizadora a extraordinária Thereza de Albuquerque e Mello. Improviso-me, pois, de escritor, por tão exíguos os livros pertinentes. Escreve-se sobre óperas, balé, música clássica ou erudita, de capela, e música popular, mas sobre bandas de música mesmo, raramente são encontrados”.

E foi com a gana e garra de quem conviveu e participou tão ativa e apaixonadamente de tantas bandas, de momentos musicais históricos, experimentando emoções ao longo de toda a sua vida, que Fábio Erthal mergulhou de alma e coração nesse livro, por longos quatro anos. Uma obra que, ao mesmo tempo em que homenageia músicos, honra a memória de quantos se dedicaram a manter viva a tradição das bandas de todo lugar, desse Brasil.      

Sobre o autor  

“Fábio Erthal é um misto de detetive-arqueólogo-pesquisador que nos mostra tudo isso no importante e minucioso levantamento das ‘Memórias…’. Mais de 20 Liras do presente e do passado, os teatros, mesmo os que não existem mais, os coretos, os espaços culturais da cidade, os idealistas que mantiveram uma rica e incomparável tradição e, principalmente, os músicos, desfilam nas sonoras páginas deste precioso livro. A pesquisa do autor nos mostra como Nova Friburgo foi um pujante centro de grandes bandas e notáveis compositores, mestres e instrumentistas. Com este livro, a história das Bandas foi resgatada para a posteridade”. (Trecho da orelha do livro, por Ricardo Tacuchian, patrono da S.M.B.Campesina, embaixador do sesquicentenário da S.M.B.Euterpe Friburguense e membro da Academia Brasileira de Música).

Bandas de Friburgo

    Além da sesquicentenária Euterpe (1863) e a de quase século e meio Campesina (1870), ambas em atividade ininterrupta desde que foram fundadas, listamos aqui outras bandas, algumas já extintas: Sociedade Musical Euterpe Lumiarense (Lumiar), Grupo Musical e Agrícola (Penna de Ouro), Banda União dos Artistas, Banda do Tiro de Guerra Friburguense, Recreio Musical dos Operários da Fábrica Arp, Banda Alliança, Sociedade Musical Recreio Infantil Amparense, Fraternidade Friburguense, Sociedade Musical Rio Grande (Riograndina), Banda Estrella Friburguense, Sociedade Musical Recreio dos Artistas, Sociedade Musical Conselheirense, Real Banda de Olaria, Sociedade Musical Flor da Liberdade, 15 de Novembro (Lumiar), Banda do Colégio Freese, Pérola Salinense, Banda do Colégio Humanidades (local onde foi construído o Colégio Anchieta), Banda dos Alunos do Colégio Anchieta, Banda do Colégio N.S. Mercês, Associação Musical Ebenezer.

 

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