Incêndio no Museu Nacional destruiu todas as borboletas de Julius Arp

Industrial alemão radicado em Friburgo doou à instituição em 1939 todo o seu acervo, a maior coleção de lepdópteros da América do Sul
terça-feira, 04 de setembro de 2018
por Jornal A Voz da Serra
As chamas consumindo o Museu Nacional na Quinta da Boa Vista (Foto: Reprodução da web)
As chamas consumindo o Museu Nacional na Quinta da Boa Vista (Foto: Reprodução da web)

Além de ser quase "irmão" de Nova Friburgo, tendo ambos sido criados pelo Rei Dom João VI com diferença de pouco mais de um mês, em 1818, o Museu Histórico Nacional, no Rio, consumido pelas chamas neste domingo, guarda outra curiosa coincidência com a bicentenária Nova Friburgo: em 1939 o empresário alemão Julius Arp doou à instituição todo o seu acervo de borboletas, lembra o jornalista Girlan Guilland na coluna do Massimo desta terça-feira, 4.

Julius Arp, fundador da Fábrica de Rendas Arp e da primeira usina hidrelétrica de Nova Friburgo, deu nome a várias espécies de borboleta, inseto pelo qual era apaixonado e colecionou a vida inteira. Sua coleção de 35 mil espécimes de lepdópteros, a maior do gênero em toda América do Sul, ocupava 15 armários e mais de 600 gavetas do Setor de Entomologia do museu (fotos).

A doação lhe rendeu até uma carta do então presidente da República, Getúlio Vargas. Esse fato é narrado com riqueza de detalhes no livro "Nova Friburgo em Quatro Tempos" (1986), de Carlos Rodolpho Fischer, em edição comemorativa dos 75 anos da Rendas Arp. A fábrica chegava a produzir bordados em forma de borboleta (foto).

Quem foi Julius Arp

Como lembra a historiadora Janaína Botelho, o alemão Peter Julius Ferdinand Arp veio com 23 anos para o Brasil e tornou-se o primeiro industrial de Friburgo. Chegou ao Rio no início de 1882. Em Santos (SP), dedicou-se ao comércio do café e, um ano depois, voltou para o Rio de Janeiro, empregando-se em uma empresa importadora de máquinas de costura, brinquedos e armas. Quando o dono da empresa Nothmann morreu, a adquiriu  com outro sócio, alterando o nome para Arp & Cia. Mais tarde essa firma se transformaria em uma holding.  Em 1901, Julius Arp tornou-se sócio também de uma fábrica de meias em Joinville (SC).

Empreendedor, obteve a primeira concessão do  serviço de fornecimento de energia elétrica em Nova Friburgo. Daí a pequena Usina Hans, no Rio Santo Antônio, entre Mury e o Centro. A Companhia de Eletricidade de Nova Friburgo era o sinal verde para implementação de um parque industrial na cidade.

Comprando terras dos herdeiros dos barões de Nova Friburgo, Julius Arp fundou em junho de 1911, com a razão social M.Sinjen & Cia., a Fábrica de Rendas Arp (foto). Em sociedade com Maximilian Wilhelm Bogislav Falck, Julius Arp montou uma fábrica de artigos de passamanaria, surgindo a Fábrica Ypu S.A. Em 1919, se desligaria da Fábrica Ypu.

A estação de trem foi  então tomada pelo transporte contínuo de máquinas para as indústrias friburguenses. O vaivém de técnicos alemães a Nova Friburgo despertava a curiosidade local. Foi Julius Arp quem convenceu Carl Ernst Otto Siems, que desejava instalar uma fábrica no Brasil, a investir na cidade. Assim, em 1925, surgia a Fábrica de Filó S.A., de propriedade de Otto Siems, no qual Arp também era acionista. Estava formada a Trindade Teutônica. Em 1937, incentivados por Julius Arp, Hans Gaiser e Frederico Sichel inauguravam o ciclo metalúrgico junto às empresas alemãs no município: criava-se a Fábrica de Ferragens Hans Gaiser (Haga). 

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