Habilidades

Por Carlos Emerson Junior
sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
por Jornal A Voz da Serra

“Falta de habilidade deveria ser escrita na carteira de identidade: fulana, número de carteira tal, não sabe cozinhar, não sabe dirigir e não tem condições para escrever contos. Assim... Simples, direto, na lata para a pessoa realmente aprender o que pode e não pode fazer.”

Com esta maneira franca e bem-humorada, minha amiga Letícia Coelho, poeta, escritora e editora, inicia seu delicioso artigo defendendo todos aqueles que, conhecendo o tamanho de suas dificuldades, investem concretamente em suas habilidades, sejam elas quais forem.

A minha carteira de identidade seria bem diferente. Sei cozinhar o suficiente para não morrer de fome e não dar vexame se aparecer um convidado. Guio, ou melhor, guiava muitíssimo bem e gosto de escrever contos. Mas decididamente não levo o menor jeito para passar roupas, consertos caseiros ou escrever poesias.

Dá pena ver minhas camisas, quando eu mesmo resolvo desamassá-las. A confusão começa na hora de montar a tábua de passar e termina com minha total incapacidade de engomar (é isso mesmo?) golas. Uma tristeza mesmo. Exagero quando coloco o amaciante, erro na temperatura do ferro de passar e pasmem, já empaquei com a dúvida atroz se deveria passar uma camiseta também pelo avesso!

Eu sempre acreditei que era o rei da cocada preta dos consertos caseiros, até que um dia, delicadamente, minha mulher veio pedir que deixasse esse tipo de serviço para quem sabe o que está fazendo. Mas eu não fiquei aborrecido, pelo contrário, respirei aliviado. Sabem lá o que é furar uma parede com uma furadeira elétrica e dar de cara com um cano de água? Eu sei!

Já poesias... bom, eu adoro poesias mas tenho um grave problema, uma dificuldade absoluta em rimar. Minhas frustradas tentativas mostraram-se bobas, sem sentido, falta de ritmo e pobres de rima. Talvez com estudo e muito treino eu consiga escrever alguma coisa apresentável mas, por enquanto, prefiro apreciar os belíssimos trabalhos que os poetas de verdade produzem.

Tão importante quanto reconhecer suas limitações é perceber onde você pode se desenvolver. Sempre tive uma enorme facilidade para tirar músicas de ouvido. Minha irmã estudava piano no Conservatório Brasileiro de Música, lá no Rio e praticava várias horas por dia. Eu ficava rodeando, observando e logo estava tocando a mesma peça, cheia de erros, é claro, mas de forma reconhecível!

Outra: tenho enorme facilidade com línguas e me defendo razoavelmente em inglês, francês e espanhol. Aliás, passei boa parte da vida brincando que sabia falar servo-croata e até minhas filhas acreditavam, principalmente quando eu recitava frases e mais frases apenas usando sons sem nenhum sentido. Infelizmente a guerra da Bósnia trouxe a Sérvia aos noticiários e acabou com minha alegria...

Pois é, meus amigos, como não dei o devido valor a essas habilidades, hoje não sou um às dos teclados, como o Keith Jarret ou, quem sabe, um famoso escritor trilíngue, daqueles que toma o café da manhã em Nova York, faz uma palestra de tardinha em Londres e janta em Paris, sempre muitíssimo bem acompanhado de belas escandinavas! Está bom, deixem-me sonhar!

Voltando a falar sério, a autora do texto garante que o mundo seria muito melhor se as pessoas valorizassem suas habilidades, aceitando que algumas coisas é melhor nem fazer. Também acho e acredito que no futuro, com o avanço da ciência, os bebês virão com um certificado de vocações ou, se vocês preferirem, um manual de instruções!

No fim das contas, nossa vida é tão atribulada e com tantas nuances que, acredito, não muda nem um pouco só porque eu não sei tocar piano, falar javanês, escrever poesias ou passar roupas. Bem ou mal, acabamos fazendo sempre aquilo que mais gostamos ou temos aptidão.

*****

E já que estamos falando em habilidades, lembrei-me do desabafo publicado por um grande amigo carioca em seu blog. Vejam só se ele não tem toda a razão:

“Essa história de medo simplesmente me dá muito medo! Afinal, sou o único homem em uma casa cheia de mulheres e quem mata baratas, aranhas, mariposas, lagartixas, ratos ou qualquer coisa rastejante e gosmenta sou eu mesmo, sem o menor apoio ou ajuda da galera que, nessas horas, se tranca no primeiro cômodo livre de tais criaturas.

Para piorar, ainda tenho que exibir o cadáver, provando que exterminei o perigo. Agora, pergunta se alguém quer saber se tenho medo dessas coisas? Claro que tenho, imagina! Ferroada de vespa dói pra burro, mordida de rato pode provocar doenças e já fiquei com a mão direita do tamanho de um pé por causa de um enxame de abelhas.

Existe uma verdadeira ditadura feminina do medo que ainda não libertou o homem dessa função de matador de insetos, goste ou não. Como não sei se elas têm essa intenção, está na hora de nos unirmos e dar um basta. Homens também têm direito de ter medo de baratas!”

Assino embaixo e apoio totalmente!

carlosemersonjr@gmail.com

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