Girlan Guilland: "Um caso de amor com Nova Friburgo"

"Profissional moldou a cidade, com suas mãos de artesão, dando-lhe formas que a definiram", descreve jornalista
segunda-feira, 30 de abril de 2018
por Girlan Guilland
A queijaria-escola: um dos legados de Heródoto (Arquivo AVS)
A queijaria-escola: um dos legados de Heródoto (Arquivo AVS)

O engenheiro Heródoto Bento de Mello dedicou mais de 60 anos de sua vida e existência a Nova Friburgo. Jovem, recém-casado e recém-formado, com carreira promissora de engenheiro militar, trocou repentinamente a posição de oficial da engenharia do Exército pela cidade que o encantou, naquele verão de 1947.

Numa visita ao pai, funcionário da companhia ferroviária Leopoldina, o luar refletido nas águas do “sereno Bengalas que desliza sob olhar do Cruzeiro do Sul”, influenciaria o sonhador rapaz a optar por Nova Friburgo como o lugar de sua vida, a partir daquela noite de domingo. Iniciava-se uma nova História.

Duas vidas, dois destinos, que se juntariam em uma só trajetória.

A cidade passaria a ter, então, dois engenheiros: o então prefeito Cesar Guinle e o jovem e aguerrido Heródoto que estreava sua longa e promissora carreira, ao protocolar na prefeitura projeto de construção de casas populares. Despertaria a atenção do prefeito, curioso com novo colega de profissão.

Ambos se tornariam mais do que parceiros, amigos de longa data.

Sete décadas depois, o nonagenário Heródoto não está mais entre nós, a não ser na fiel lembrança, mas é verdadeiramente, o mais bonito caso de amor entre um homem e a cidade que escolheu para viver.

Mais tarde, outro engenheiro, seu amigo pessoal, otambém saudoso Raphael Luiz de Siqueira Jaccoud, diria que não era possível andar por Nova Friburgo sem passar por uma obra do ex-prefeito.

Hoje, é pertinente dizer que o profissional moldou a cidade, com suas mãos de artesão, dando-lhe formas que a definiram. Caso contrário, o que pensar como seria, por exemplo, o bairro Olaria sem as obras dos condomínios que lhe conferiram um ar europeu, com arquitetura de chalés coloniais? Ou outros recantos com a marca de seu gosto apurado? E como imaginar a entrada e saída da cidade, sem o viaduto, sem o eixo rodoviário?

Todas estas perguntas têm uma única resposta: legado. Essa palavra mágica e usada a mancheias, nem sempre com total conhecimento de seu verdadeiro significado. Heródoto sim, deixa legado, na cidade agora bicentenária, a Velha sempre Nova Friburgo, que ele tanto amou e defendeu.

Um legado que herdou do irmão, Ariosto. Em julho de 1981, Heródoto desempenhou a missão que mais tarde consideraria a mais difícil de sua vida: chefiar delegação de 361 friburguenses, na Suíça, no segundo encontro suíço-brasileiro, parte do intercâmbio iniciado por Ariosto e Martin Nicoulin, com o Canton de Fribourg. Eram ainda as celebrações do quinto centenário do ingresso do Canton na Confederação Helvética.

 

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