Ginástica no Brasil, equipe e Rio 2016: o que diz Silvana Noel

Idealizadora e coordenadora do projeto Inec/Silvana Gym fala sobre o grupo e o panorama da ginástica no país
segunda-feira, 03 de outubro de 2016
por Vinicius Gastin
Grupo participou com um total de 42 pessoas: ápice durante os Jogos Olímpicos do Rio (Foto: Acervo pessoal)
Grupo participou com um total de 42 pessoas: ápice durante os Jogos Olímpicos do Rio (Foto: Acervo pessoal)

Depois de representar Nova Friburgo e o Brasil em 14 países, o grupo Silvana Gym foi a própria representação da cultura brasileira durante suas apresentações nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. E assim continuou sendo durante as Paralímpiadas na cidade maravilhosa. Em meio às mais de 30 apresentações, somando os dois eventos, surgiu ainda o desafio de programar um espetáculo em 3D. Com um detalhe: no espaço de apenas três dias! Missão aceita e cumprida com sucesso.

A participação histórica do Brasil na ginástica reforça o potencial do país para essa modalidade. Seja ela a ginástica artística (de aparelhos, a mais famosa), de trampolim e a rítmica, com bolas, fitas, arcos e outros adereços. Além dessas existem outras quatro, que não são olímpicas, mas integram as confederações e federações internacionais. A praticada pelo Grupo Silvana Gym é uma delas, onde mistura-se solo, acrobacia, dança e folclore para preencher as apresentações. Um total de 42 participantes, sendo seis bailarinos e 34 meninos e meninas.  

Idealizadora e coordenadora do projeto Inec/Silvana Gym, Silvana Noel fala sobre o grupo e o panorama da ginástica no país em entrevista para A VOZ DA SERRA. O país, que já conta com uma confederação e federações, além de um calendário organizado, ainda precisa avançar na parte estrutural, incentivar e receber apoio na parte financeira e na divulgação. Apenas desta forma será possível projetar uma evolução ainda maior da modalidade no Brasil. “Quanto mais crianças e adolescentes envolvidos, maior a possibilidade de encontrarmos talentos”, garante Silvana.

A VOZ DA SERRA: Ginástica no Brasil... Depois da participação histórica da delegação brasileira nos Jogos do Rio, muita gente questiona sobre a evolução da modalidade no país. Há estrutura, investimentos e divulgação que justifiquem esse sucesso?
Silvana Noel:
Se considerarmos os últimos 20 anos nós tivemos uma grande evolução. Não tínhamos uma equipe inteira em Olimpíadas, tampouco atletas de destaque. Hoje nós temos tudo isso. A importância desses atletas, do ídolo é muito importante.

Apesar dessa evolução e do surgimento dos ídolos, a ginástica ainda não é tão popular quanto poderia. Por quê?
Ainda não é tão popular porque depende de aparelhos, proteção. Podemos fazer uma iniciação, mas para o desenvolvimento pleno é preciso estrutura. Isso custa dinheiro. Mas evoluímos. Não somos apenas o país do futebol e do vôlei, como também da ginástica. Essas Olimpíadas vieram consagrar e divulgar outras modalidades. As crianças precisam ter oportunidades de escolha, para que possamos ter mais jovens praticando desde a escola.

O investimento no trabalho de base e na popularização desde as crianças seria o caminho?
Nós temos turmas de adolescentes e adultos em nossa equipe, mas é preciso começar cedo para chegar a um nível de competição, a um nível olímpico. Mas é bom ressaltar que a ginástica não tem só o objetivo do alto nível. É um esporte que desenvolve diversas valências físicas, desde o baby, por exemplo. Aqui começamos com crianças desde dois anos e meio, três anos. A Daiane dos Santos, por exemplo, foi descoberta em um parque, por acaso, e depois foi levada para os treinos em ginásio.

Podemos considerar que você teve essa visão há 35 anos, quando fundou o grupo Silvana Gym. Por que trabalhar com ginástica e a partir de quando começa a inserção das crianças nesse trabalho?
O início foi bastante difícil. Há 35 anos, ainda no interior, como Nova Friburgo, a divulgação era ainda menor. Comprei alguns aparelhos, inclusive de fora do Brasil, e comecei numa sala de ginástica. Fomos desenvolvendo a ginástica artística. Mas hoje partimos da artística para a ginástica para todos. Tudo isso surgiu a partir da necessidade de incluir mais crianças no projeto. Ser atleta olímpico é para poucos, digamos assim. Pensei que não poderia desperdiçar sonhos, realidades de crianças. Descobri então a oportunidade de, com muito treinamento, se chegar a uma seleção, e um alto nível. Nós procuramos desenvolver o grupo, e pudemos consagrar tudo isso com a participação nas Olimpíadas.

De fato, as Olimpíadas foram o ápice dessa trajetória. Como surgiu o convite?
Nosso grupo já participou de vários eventos pelo Brasil e em outros 14 países. Ganhamos uma visibilidade grande, e acabei sendo convidada a coordenar essa modalidade na Confederação Brasileira de Ginástica. Fui eleita a presidente da modalidade na União Panamericana, através do trabalho. Quando chegaram as Olimpíadas e foi pensada a parte de apresentações, o nosso grupo foi indicado e aprovado. Outros também se apresentaram, mas tivemos um desafio maior.

E qual foi esse desafio?
Fomos o único grupo que se apresentou na Arena da Ginástica, onde estavam os maiores profissionais e entendidos de ginástica. Topamos o desafio, e foi um prazer enorme. Tivemos três apresentações no basquete, inclusive no intervalo de um jogo dos Estados Unidos. A equipe dos saltos ornamentais também pediu uma apresentação nossa, e corremos de uma arena para outra. Fizemos um total de 30 apresentações. Muito mais do que o previsto a princípio. Para nossa surpresa, o americano responsável pela Arena de Ginástica, o Chris Severson, escolheu o nosso grupo pra fazer um trabalho especial e inédito no Brasil, em projeção simultânea em 3D.

Considerando que o convite aconteceu durante os Jogos, como fazer para preparar as apresentações?
Fizemos uma coreografia sobre a projeção, interagindo com ela. Tivemos apenas três dias para treinar antes de realizar essa apresentação. Foi corrido, mas muito legal. Deu tudo certo, recebemos elogios e um convite para estarmos também presentes nos Jogos Paralímpicos.

Além da equipe, o grupo também desenvolve um trabalho através da ONG Inec/Silvana Gym. Como intercalar essas duas frentes?
Não queremos apenas ser um grupo profissional de ginástica. Queremos formar bons cidadãos, e passar todos os ensinamentos do esporte. A ginástica ensina a superar desafios, a ter resistência, dentre outros. Essa é a principal ideia na nossa ONG, que está completando dez anos em 2016.

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