Gerente do Frizão comemora liberação de cerveja nos estádios do Rio de Janeiro

De acordo com o texto aprovado pela Alerj e sancionado pelo governador, a bebida será vendida por ambulantes e nas lanchonetes antes dos jogos e nos intervalos das partidas
quarta-feira, 21 de outubro de 2015
por Vinicius Gastin
Gerente José Siqueira é a favor da venda de cerveja nos estádios de futebol (Foto: Vinicius Gastin)
Gerente José Siqueira é a favor da venda de cerveja nos estádios de futebol (Foto: Vinicius Gastin)

Pontos positivos, discutíveis e polêmicos. O debate sobre a venda de cerveja nos estádios de futebol voltou à tona no Rio de Janeiro, sete anos depois de sua proibição. Em votação realizada na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), a maioria dos deputados votou a favor do projeto de lei que prevê o retorno da venda de cervejas nos estádios do Rio de Janeiro. Na última semana, a liberação foi sancionada pelo governador Luiz Fernando Pezão, e já na terça-feira, 20, no jogo entre Botafogo e Ceará, pelo Campeonato Brasileiro Série B, a venda estava liberada no estádio Nilton Santos.

A proibição estava em vigor desde 2008, mas nem sempre é cumprida como o determinado. Apesar do controle dentro dos estádios, alguns pontos, como a possibilidade de venda a apenas cinco quilômetros de distância dos estádios, não são respeitados.

O gerente de futebol do principal clube de futebol de Nova Friburgo, José Siqueira, é diretamente afetado pela liberação ou proibição da bebida e defende a venda de cerveja nos estádios. Para o dirigente, instituições como o Friburguense concorriam até então com outros estabelecimentos que comercializam o produto.

“A proibição ajuda a esvaziar os estádios. Temos um produto (o jogo), que é dos clubes de futebol, e concorre com a falta de cerveja nos estádios e presença delas nos bares e nas casas. Lógico que a bebida em excesso gera transtornos. Mas o futebol paga um preço de situações que não acontecem em outros grandes eventos, como, por exemplo, o Rock in Rio. “As questões da violência e do consumo em excesso são frutos de problemas que temos dentro da nossa sociedade”, defende

O gerente do Tricolor da Serra vai além, e aponta a proibição da cerveja como um dos fatores responsáveis pelo afastamento de torcedores dos estádios e pelos transtornos no processo de entrada da torcida nos grandes jogos.

“Não vejo a cerveja como um problema, pelo menos durante o tempo em que o torcedor está dentro do estádio. Uma das reclamações do Consórcio Maracanã, por exemplo, é a questão da entrada dos torcedores quase na hora do jogo. Isso acontece exatamente por não ter a cerveja dentro dos estádios, o que obriga a quem gosta de beber consumir a bebida ao redor. Há uma série de questões envolvidas”, analisa. “Muita gente vai ao jogo do Friburguense para confraternizar e tomar cerveja com amigos. Desde a proibição do consumo dentro do estádio, isso não existe e o torcedor se afastou. Temos comprovado que não é a bebida que gera a violência”, observa Siqueira.

De acordo com o texto aprovado pela Alerj e sancionado pelo governador, a bebida será vendida por ambulantes e nas lanchonetes antes dos jogos e nos intervalos das partidas. A lei determina ainda que o produto seja servido em copos ou garrafas plásticas. Uma emenda que prevê mensagens educativas sobre o consumo de álcool nos telões dos estádios também foi inserida.

O projeto conta com o aval da Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj), que vê na medida um chamariz para atrair mais público para os estádios. A venda da bebida é vista pelo órgão e pelos administradores das grandes arenas de todo o país como um facilitador na tarefa de colocar o público dentro dos estádios com antecedência. Muitos desses estádios, inclusive, possuem empresas cervejeiras como acionistas publicitários.

Estudos não relacionam cerveja e violência em estádios

A lei até então em vigor surgiu a partir de um Termo de Adendo ao Protocolo de Intenções, assinado entre a CBF, ainda com Ricardo Teixeira, e o Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais da Justiça, em 2008. Nenhum deles possui poder legislativo, diferente do Estatuto do Torcedor, que versa sobre o assunto no artigo 13-A, sobre as condições para acesso e permanência do torcedor no recinto esportivo. De acordo com o texto, o torcedor “Não deve portar objetos, bebidas ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência.”

Além de vago, o trecho do Estatuto do Torcedor não proíbe o consumo. Pesquisas recentes comprovam que a violência nos estádios não está diretamente relacionada ao álcool. Uma delas, encomendada por uma famosa multinacional distribuidora de bebidas em julho de 2012, listou as paixões do brasileiro. A primeira delas é o futebol. A segunda é a cerveja. A terceira é futebol com cerveja.

Um estudo da Fundação Getúlio Vargas calcula que uma em cada quatro cervejas bebidas no país tem relação com o futebol. O fato mostra que a ausência da bebida no estádio não impede as pessoas de consumirem o produto quando vão aos jogos. A questão econômica é outro ponto importante: a mesma pesquisa da FGV aponta que R$ 338 milhões são gerados no país a cada R$ 100 milhões gastos com cerveja. Estima-se um prejuízo de R$ 10 por torcedor por causa da proibição. Ou seja, se o público for de 20 mil pessoas, são R$ 200 mil a menos no faturamento.

Em grandes eventos no país, como a Copa do Mundo e na Copa das Confederações, a Lei Geral da Copa abriu uma exceção para que a bebida fosse vendida nos estádios das 12 sedes. O Mundial mostrou que torcida e cerveja podem conviver relativamente bem em determinadas circunstâncias. Não houve grandes incidentes, embora a rivalidade entre seleções seja muito menor que entre clubes.

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