Gentileza é o novo flerte: a crônica de Bia Willcox

Gentis do mundo, uni-vos! Peguem suas armas - celular para filmar, exemplos para dar e hashtags para viralizar - e mãos à obra!
terça-feira, 21 de novembro de 2017
por Bia Willcox
Gentileza é o novo flerte: a crônica de Bia Willcox

A gentileza tem dia mundial e foi na semana que passou. Nesse dia eu deveria ter ouvido fogos como os de Copacabana em dia de Ano Novo ou como dia de final de Copa do Mundo. Eu deveria ter participado de brindes e confraternizações. Porque se trata de celebrar a gentileza - coisa rara em dias de fratura exposta nas redes sociais.

Ser gentil é conseguir entender o que pode trazer conforto ao outro e proporcionar sem contrapartida. É ser a Disneylândia instantânea de quem você está interagindo. Ser gentil é ser a sobremesa, o vaso de flores naturais naquela sala sóbria que habita nossos espaços interiores muitas vezes.

Gentileza é fundamental, que me perdoem os rudes - Vinicius repaginado para anos de selvageria de modos e costumes. Costumo dizer que há dois tipos de gentileza: a dolosa e a culposa.

Existem os que não tiveram a chance de aprender a ser gentil e educado. Existe a real falta de educação e verniz que faz com que pessoas façam grosserias e indelicadezas como se fosse algo da natureza deles: selvagem e sem lapidação. Eles não tem tanta culpa pela falta de refinamento - cresceram sem conhecer os modos gentis. Podem e devem aprender, mas são café com leite.

E existem os grosseiros por opção: conviveram em ambientes de gentileza, educação e finura mas fazem questão de serem trogloditas e desagradáveis. Esses agem com dolo.

Esqueci de dizer que tem uma fração de pessoas que, mesmo sem a chance de terem frequentado "escola de gentileza e finura", mesmo sendo simples de modos e de linguagem, são extremamente gentis. Não há dolo nem culpa, eles são os autodidatas da gentileza. Se me perguntar porque eles saíram assim, diria que nasceram com dosagem alta de sensibilidade e empatia no sangue.

São pessoas altamente gostáveis. Penso se não cabe a essas pessoas genuinamente gentis combaterem o mal especialmente no mundo online. Vemos hoje muita agressividade, ofensa, xingamento e, mais que isso, linchamento de gente na internet. Não se pode ter deslize nem cometer qualquer erro que, pronto!, R.I.P. nas redes sociais. Para essa onda gigante, essa superbactéria ou vírus, o melhor antídoto são as correntes de gentileza.

É a gentileza, o bem e a sensibilidade que vão combater tanta descortesia e maldade. Gentis do mundo, uni-vos! Peguem suas armas - celular para filmar, exemplos para dar e hashtags para viralizar - e mãos à obra!

É uma onda violeta, suave, que pode alcançar mundos longínquos de falta de educação.

Querem ter inspiração? Lembrem-se do motorista de ônibus que, em vez de rir de quem não conseguiu entrar a tempo para a prova do Enem, mudou seu itinerário arriscando seu próprio emprego para levar mais de dez candidatos ao local de prova. Lembrem-se também do rapaz Gabriel, cujo sonho era ver o show do Coldplay em São Paulo, mas que, ainda no início do show, foi retirado por PMs e algemado por nada. Perfil em Instagram, vaquinhas se cotizaram para ele assistir ao show em Porto Alegre e a companhia aérea Azul deu a passagem.

De agora em diante, a prioridade é voar de Azul.

Quanto aos gentis, me lembrei da incrível Jane Austen: “Não quero que as pessoas sejam muito gentis; pois tal poupa-me o trabalho de gostar muito delas.” Sim, a gentileza é apaixonante em dias como os de hoje.

 

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