Friburgo foi o município fluminense com menos deslizamentos no verão

Cerca de 20% dos bairros do município estão em área de risco, diz secretário de Defesa Civil, João Paulo Mori
quarta-feira, 26 de setembro de 2018
por Guilherme Alt (guilherme@avozdaserra.com.br)
O coronel João Paulo Mori em seu gabinete (Foto: Henrique Pinheiro)
O coronel João Paulo Mori em seu gabinete (Foto: Henrique Pinheiro)

De acordo com um levantamento divulgado recentemente pela Secretaria Estadual de Defesa Civil, Nova Friburgo teve queda no registro do número de deslizamentos de terra. No último verão foram registrados no município 564 chamados por causa de chuvas fortes. Deste total, sete referem-se a inundações de pequeno e médio portes. Pelo menos 14 chamados foram para ocorrências de alagamentos em ruas e bairros, mesmo número registrado de deslizamentos de pequena e grande proporção. Trinta e cinco imóveis foram interditados temporariamente deixando 17 moradores desalojados (quando a pessoa fica momentaneamente sem poder voltar para casa). Ninguém ficou desabrigado (quando a pessoa perde definitivamente a moradia).

Os dados fazem parte de um balanço com as principais ocorrências dos 92 municípios do Estado do Rio durante o verão passado, levantados pela Defesa Civil estadual. Foi considerado o período entre dezembro de 2017 e março de 2018. Com o estudo, o órgão traçou um panorama de ameaças e ocorrências que atingiram os municípios, como deslizamentos, desabamentos, inundações e enxurradas.

Nova Friburgo tem cerca de 90 bairros e 20 deles estão localizados em área de risco. Em entrevista exclusiva para A VOZ DA SERRA, o secretário de Defesa Civil de Nova Friburgo, coronel João Paulo Mori, afirmou que a tragédia de 2011 foi um divisor de águas.

AVS: O que contribuiu para a redução no número de deslizamentos de terra em Nova Friburgo?

Coronel Mori: Existe a Defesa Civil antes e depois de 2011. Infelizmente teve que acontecer aquela tragédia para dar um olhar maior para a Defesa Civil. Vários fatores contribuíram para que Friburgo, hoje, seja o município com menos deslizamentos no estado. A participação de vários órgãos como a Cruz Vermelha, o estado... Friburgo foi o município que mais realizou obras para prevenção de deslizamentos, justamente porque foi o mais impactado pela tragédia de 2011. Depois de 2011, não tivemos nenhuma morte registrada por conta de fenômenos naturais, enquanto Petrópolis teve mais de 30 e Teresópolis cerca de dez.

Como foi a atuação da Defesa Civil, em 2012, no loteamento Três Irmãos onde houve o escorregamento de pedras de uma encosta?

Nesse dia já estava chovendo muito e chegou um aviso para a Defesa Civil, às 6h, alertando sobre os riscos de deslizamentos. Acionamos as sirenes, fomos para o local, tiramos todas as famílias dali. Era uma quarta-feira, véspera de feriado, e a rede hoteleira, junto com restaurantes me ligando por conta de reservas que haviam sido canceladas, e o próprio prefeito estava aqui pedindo para desligar as sirenes. Às 16h a pedra rolou e houve aquele grande deslizamento. Acredito que pela nossa persistência a gente tenha salvado umas 50 pessoas, naquele dia.

O que a Defesa Civil tem feito para evitar tragédias?

De 2012 a esse ano foram feitos mais de 100 simulados de evacuação de moradores em áreas de risco. Temos feito palestras nas comunidades constantemente. Infelizmente a participação das pessoas durante os simulados tem sido fraca. Precisa melhorar muito, mas ainda assim estamos atingindo o nosso objetivo que é deixar todos preparados.

O serviço de SMS tem sido importante mecanismo para informar e proteger a população. Ele é usado somente em caso de risco e não informativo de chuva, certo?

Faço um apelo para que a população não deixe de se cadastrar para receber os informes da Defesa Civil. É muito simples, basta enviar um SMS com o seu CEP para o número 40199 e automaticamente é feito o cadastro para receber os informes pelo celular. É um serviço gratuito. Muita gente questiona que as vezes começa a chover forte e a gente não envia alerta, mas por um simples motivo: não é um alerta de chuva, é um alerta de risco. Nem sempre quando chove forte há risco de deslizamentos”.

Quantos e quais são os estágios de risco?

São três estágios: atenção, alerta e alerta máximo. Se observarmos que a milimetragem está muito alta, está havendo um acumulado de chuva, observando os radares e vendo que está se formando uma nova frente fria aí sim entramos no estágio de atenção e mandamos o SMS. Quando entramos em alerta máximo mandamos o SMS avisando que as sirenes vão tocar. Para deixar bem claro, importante enfatizar: quando a sirene tocar não é para todo mundo ir para o ponto de apoio, é só para quem mora em área de risco – e só vai para o ponto de apoio quem não tem mesmo para onde ir.

Quantas pessoas estão em área de risco e em quantos bairros?

São cerca de 22 mil pessoas morando em áreas com risco de deslizamentos e pelo menos quatro mil em áreas com riscos de alagamentos, em aproximadamente 20 bairros.

Como é realizado o teste das sirenes?

Uma vez por mês, todo dia 10, às 10h, nós acionamos as sirenes por dois minutos para fazer testes. Caso no dia do teste os moradores das áreas de risco não ouvirem as sirenes, devem contatar imediatamente a Defesa Civil para que seja providenciado o reparo. São 35 sirenes ao todo, em 20 comunidades.

E os simulados?

Os simulados são realizados nas comunidades de risco uma vez por ano. Em 2018 nós fizemos agora em agosto e início de setembro. Durante o simulado fazemos cadastros de pessoas acamadas, deficientes, idosos que não conseguem se deslocar sozinhos, para prestar auxílio necessário. Em um desses simulados em que percebemos que a frequência estava baixa, fomos perguntar para alguns moradores o motivo de não participarem do simulado. Em resposta alguns moradores disseram que já sabiam o que fazer, por qual rua andar, qual o melhor caminho, o que levar. É bom saber que as pessoas estão preparadas. Mas todo ano fazemos os simulados porque pode haver moradores novos. O simulado é importantíssimo.

Há alguma previsão ou estimativa em relação às chuvas de verão?

Os meteorologistas afirmam a previsão é feita para o período de 24 horas seguintes. Já a estimativa pode ser feita a partir de três meses para um determinado período. No momento ainda não temos nada de concreto. Teremos a estimativa só a partir de novembro.

Em relação ao Plano Verão de 2018, com a Defesa Civil está se organizando?

Todo ano atualizamos o nosso Plano Verão, para ter cadastrado todas as empresas que podem prestar um auxílio a Defesa Civil, em caso de emergência. As concessionárias como a Faol, Águas de Nova Friburgo, Energisa e EBMA, são obrigadas por lei a prestar auxílio. Cada setor tem o seu plano de contingência, nós, as concessionárias, a Secretaria de Educação, Saúde... Quando chove bastante e entramos em estado de atenção, ficamos de  plantão. Se entrarmos em estado de alerta, toda equipe vem para a sede da Defesa Civil, emitimos o SMS e a população que mora em áreas de risco se prepara, separa documentos, remédios – conforme a orientação já passada. Se chegarmos ao alerta máximo aí a população deve se deslocam para um local seguro. Nesse meio tempo, as escolas (muitas delas são usadas como ponto de apoio) recebem um aviso de que existe a possibilidade de algumas famílias irem pra lá.

Qual a precisão da meteorologia para uma previsão de chuvas fortes?

Na região sudeste é difícil fazer uma previsão meteorológica e na região serrana é mais difícil ainda porque são vários fatores que influenciam: a serra, a altitude, zona de convergência que vem do norte e passa exatamente pelo Rio de Janeiro, temos o sudoeste que traz os ventos. São vários fatores que modificam o clima. A margem de acerto da previsão do tempo é de 95% para 24 horas.

A Defesa Civil está preparada para um imprevisto meteorológico?

Hoje nós estamos preparados para dar uma resposta. Eu acredito muito na Defesa Civil de forma preventiva. O interessante é se prevenir para o desastre, é o que os japoneses fazem. Lá tem de tudo: terremoto, inundação, tsunami, vulcão e nós aqui só temos a chuva. A Defesa Civil está nas escolas trabalhando a prevenção. A chuva de 2011, se acontecesse hoje, a tragédia seria bem menor. Não seria inevitável, porque foi algo muito atípico, mas teríamos poupado muitas vidas.

 

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