Friburgo celebra Dia da Consciência Negra, mas falta inclusão

Comunidade cobra ações de valorização da cultura e combate ao racismo estrutural
terça-feira, 20 de novembro de 2018
por Alerrandre Barros (alerrandre@avozdaserra.com.br)
Alunos da Escola Municipal Padre Rafael fazem apresentação de dança durante o evento (Fotos: Henrique Pinheiro)
Alunos da Escola Municipal Padre Rafael fazem apresentação de dança durante o evento (Fotos: Henrique Pinheiro)

 

Falta em Nova Friburgo um órgão público de promoção da igualdade racial, avaliou a presidente da colônia Pan-Africana e do Centro Afro-Brasileiro Ysun-Okê, Ilma Santos, durante a solenidade pelo Dia Nacional da Consciência Negra, realizado nesta terça-feira, 20, na Praça das Colônias, no Suspiro. Um espaço, segundo ela, que promova a participação dos negros na vida social.

“Somos 55% da população, mas olhe para os lados. Quantos negros são vistos em posições de destaque? Estamos nos guetos. É necessário um órgão que promova a história e a cultura negra nas escolas, conforme a lei 10.639/2003. Que estimule o empreendedorismo negro, que dê apoio à comunidade nas ações de combate ao racismo e intolerância contra religiões de matriz africana. Esporádicos na cidade, acredito que casos de violência não vêm à tona por falta desse apoio ou da compreensão de que racismo é crime”, disse Ilma Santos.

O evento começou por volta das 10h, dentro do espaço Praça das Colônias, devido à chuva, e teve a participação do prefeito Renato Bravo e da primeira-dama Cristina Bravo, secretários, vereadores e representantes das dez colônias do município. Dezenas de pessoas acompanharam a solenidade, que foi marcada pelo discurso da professora Eliane Santos. Ela destacou que a população negra não foi colonizadora, mas colonizada.

“Anos de escravidão, açoites, falta de dignidade e direitos. Não entendam essa fala como um lamento ou reclamação ou que somos coitadinhos. Isso é apenas constatação de fatos, porque queremos liberdade e equidade, não igualdade. Respeito e direitos garantidos, através de ações e políticas públicas em cumprimento às legislações vigentes. Entendemos que chegaremos lá quando tivermos governantes nas três esferas que nos deem acesso e o poder da caneta. Não por caridade, mas por reconhecimento de nossa capacidade”, disse a professora.

Renato Bravo também falou e destacou a importância da data. “Precisamos fazer a leitura correta da nossa história. Estamos aqui para aprender. O discurso da professora Elisa nos leva a essa reflexão. Equidade é a palavra. Esse é um momento muito especial, que precisa ser compartilhado entre todos nós que estamos aqui”, disse o prefeito.

Em seguida, alunos do Colégio Municipal Padre Rafael, no bairro Cordoeira, fizeram apresentações de dança. Com vestimentas africanas e acorrentados, dançaram a canção “Identidade”, do sambista Jorge Aragão, um manifesto à dignidade negra. Em seguida, os estudantes dançaram com bambus. Terminaram a apresentação cantando uma música em dialeto zulu, que envolveu em uma grande roda os acompanhavam o evento. A celebração foi encerrada com a dança folclórica brasileira maculelê, apresentada por integrantes da Associação Grupo de Capoeira Regiangola.

Ainda na praça, no espaço dedicado à colônia negra, foi realizada uma oficina de bonecos abayomi, feitos com retalhos de tecidos. No local, também estava em cartaz uma exposição do fotógrafo Zezinho Andrade. A celebração da data seguiu para a Estação Livre (antiga rodoviária urbana), na Praça Getúlio Vargas, onde, a partir das 14h, teve várias atividades e apresentações de música, com destaque para a roda de samba com Moça Prosa.

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