Francisco de Moura: “Estou satisfeito com o trabalho que fizemos”

Ex-diretor do campus da Uerj em Nova Friburgo faz um balanço das atividades realizadas ao longo dos últimos quatro anos, durante seu segundo mandato
terça-feira, 01 de março de 2016
por Márcio Madeira
(Foto: Márcio Madeira)
(Foto: Márcio Madeira)

A VOZ DA SERRA: Quanto tempo o senhor ficou à frente do Instituto Politécnico aqui em Nova Friburgo?
Francisco de Moura: Ao todo foram oito anos, porque esse foi o meu segundo mandato. Eu também havia sido o diretor entre 2004 e 2008, quando conseguimos implantar o curso de Engenharia de Computação e também o mestrado em Ciência e Tecnologia de Materiais, além de uma ênfase em petróleo e gás no curso de Engenharia Mecânica. A bem da verdade eu estava satisfeito com o trabalho que havia realizado, e não pensava em retornar à direção do Instituto Politécnico. Mas, em função da tragédia, em 2011 estava todo mundo desesperançado. Nós estávamos dando nossas aulas numa instituição privada que havia alugado um espaço para a Uerj aqui em Friburgo, e estávamos com dificuldades para acessar os laboratórios, que tinham ficado na Fundação Getúlio Vargas. Estava todo mundo desanimado e, tendo sido diretor no passado, eu senti que deveria tentar ajudar de alguma forma no processo de recuperação da instituição. Houve eleições naquele ano, e eu me candidatei junto com o professor Ivan Napoleão. Fomos eleitos e tomamos posse em março de 2012. Naquela altura estava havendo uma grande obra em dois galpões da Triumph que tinham sido alugados para a Uerj se localizar em Friburgo, e foi assim que começamos a trabalhar.

Sim, essa é uma questão importante. Qual o contexto em que seu segundo mandato começou?
Quando nós assumimos só havia dois andares semiprontos, o restante ainda estava em situação de obra. Foram tempos bastante difíceis, e nosso primeiro objetivo era de que a instituição voltasse a ter o brilho que ela merece, e que o Estado e a cidade de Nova Friburgo merecem. É sempre bom lembrar que o Instituto Politécnico do Rio de Janeiro foi uma iniciativa da Secretaria de Ciência e Tecnologia em 1989, e nasceu com o objetivo de ser um centro de desenvolvimento na área de engenharia e das ciências para apoiar o desenvolvimento da indústria no Estado, que naquela época estava sofrendo bastante em meio aos processos de informatização, robotização e automação. Havia, enfim, a necessidade de renovação do parque industrial, e esse era o objetivo inicial. Sabemos que nosso país sofre muito com a descontinuidade de planejamento, mas de alguma forma o projeto continuou quando foi incorporado pela Uerj em 1993, inclusive conservando os objetivos iniciais: preocupação ambiental, com o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis e de ponta para dar suporte à indústria do estado.

Pesquisa e produção de conhecimento...
Sim, pesquisa e produção de conhecimento em áreas avançadas. E eu vim para Nova Friburgo e para o IPRJ atraído por essas ideias. Cheguei aqui em 1995, e essa vocação foi ganhando cada vez mais importância, no meu modo de ver. Então, procuramos fazer esse desenvolvimento. Apresentamos diversas propostas à reitoria e a diversos entes públicos para que isso se tornasse realidade. E uma das conquistas que nós tivemos ao longo deste mandato foi a compra do imóvel, que era alugado. Eram dois prédios, que agora passaram a ser quatro prédios, uma área muito grande, com estacionamento amplo, e vale lembrar que em função desta compra a empresa doou para a Uerj o clube Olifas. Então o espaço, que sempre foi um problema para o IPRJ, agora deixou de ser. Estamos na fábrica Filó, num lugar bem central e com 16 mil mentros quadrados de área construída.

E boa parte desse espaço ainda está disponível para ser ocupado com novas atividades, correto?
Sim, basicamente nós estamos ocupando quatro mil metros quadrados.

Muito se fala na vinda de novos cursos para Nova Friburgo. Qual sua visão a respeito de como deve ser norteado este processo de expansão?
A meu ver, nós temos que continuar apostando na construção de um centro de tecnologia avançada. Podemos continuar avançando na área de engenharia, mas que seja na engenharia de ponta. Por exemplo: nós temos a possibilidade de criar aqui um curso de Engenharia Química Fina, voltada para a composição de fármacos. O Brasil gasta uma quantidade enorme de dinheiro para importar medicamentos, porque ainda não conseguimos produzir tudo aquilo que precisamos. Por outro lado, nós temos aqui em Nova Friburgo a maior biodiversidade do País. Estamos falando de um manancial de possíveis novos medicamentos extraídos aqui mesmo. Então, se pudermos unir o potencial da universidade ao potencial local, isso seria fantástico. O governador não diz que precisamos buscar soluções para não ficarmos tão dependentes do petróleo? Ora, então vamos investir nisso.

E com relação aos cursos de pós-graduação?
Na mesma linha, meu sentimento é de que também temos que investir em novas pós-graduações, e uma que eu considero bastante interessante seria um mestrado em Engenharia Farmacêutica. A gente ainda não tem pernas para fazer isso, porque inicialmente teríamos que conseguir o apoio para a implantação do curso de Engenharia Química Fina, como já explicitei. Existe um interesse interno nessa proposta, e com isso equacionado o próximo passo seria um curso de Engenharia de Fármacos. Essa é uma tendência mundial, pois os fármacos estão cada vez mais sendo feitos de forma especializada, com simulação, com estudos de casos específicos. E quem pesquisar esta década vai perceber que estão surgindo diversos cursos de engenharia de fármacos mundo afora, e eu penso que é este objetivo que a gente tem que perseguir. Não podemos ficar olhando só para as indústrias típicas do século XIX e do princípio do século XX, a gente tem que olhar para a frente, porque é isso que vai trazer riqueza. Temos que nos diferenciar, e a bioengenharia é a nova fronteira do conhecimento, a busca por unir a tecnologia com a biologia, com a medicina. Há outras frentes, obviamente, mas essa é fundamental para que seja possível formular produtos que possam ser inseridos no mercado internacional, trazendo riquezas que não são meramente advindas de exploração de recursos não-renováveis. O barril do petróleo chegou a passar dos US$ 100, mas é preciso lembrar que existem remédios que, num frasquinho, chegam a esse preço. Então nós temos que ir é para o frasquinho, temos que aprender a fazer isso. Agora... Isso não sai de graça, é preciso fazer investimentos. E nós temos jovens brilhantes aqui na cidade, na região... Alunos que vêm de fora, novos professores que estão chegando com uma garra imensa, então nós temos que aproveitar essa garotada e olhar para o futuro.

Espaço a universidade agora tem...
Espaço tem, e não deve ser desperdiçado. Aliás, essa é uma questão complexa, porque há muitos interesses. A minha visão é de que a gente deve preservar esse espaço para a expansão do Instituto Politécnico a fim de avançar nessas áreas de engenharia de ponta, de pesquisa científica, porque isso traz riqueza. Isso é fundamental.

O senhor lembrou que o Instituto nasceu para dar apoio à indústria. Quais iniciativas recentes de apoio ao mercado de trabalho o senhor gostaria de destacar?
São várias. Há dois anos, por exemplo, eu estou envolvido com o Instituto Serrano de Economia Criativa (Isec), e existe inclusive um convênio estabelecido entre a Uerj e o Isec para auxiliar a consolidação do polo de audiovisual. Nesse contexto existe o projeto do Cena, que é a Casa de Tecnologias Narrativas, que foi concebido para ser um estúdio-escola, e também um laboratório de audiovisual e multimídia. Nós também podemos contribuir para este polo trazendo formações, capacitações, treinamentos... E, claro, com tecnologia. Nós temos o curso de Engenharia da Computação, nós temos professores voltados à área de computação gráfica, a área de simulação de fluidos, que é extremamente necessária para a realização de desenhos animados realistas ou efeitos especiais. Enfim, nós temos uma série de profissionais que podem agregar tecnologia às produções de Nova Friburgo. Temos um especialista em narrativas interativas que englobam, por exemplo, os videogames. Então essa é uma área de atuação que interessa à sociedade e também à universidade, porque envolve tecnologia de ponta. Infelizmente, no entanto, as coisas acontecem muito devagar. Já faz mais de dois anos, por exemplo, que nós tivemos um projeto aprovado em valor superior a R$ 2 milhões para a compra de um super computador, e ainda não o temos por aqui. Vai acontecer, mas ainda estamos aguardando a liberação desses recursos pela Finep. Esses são alguns dos exemplos desta constante tentativa de aproximação entre a universidade e as forças vivas da sociedade, que se manifesta também, e de forma muito concreta, através da incubadora de empresas.

E quanto ao perfil dos estudantes? Aparentemente ele tem mudado nos últimos anos...
Tem mudado bastante. Quando começamos nosso trabalho o perfil era basicamente o mesmo, formado por alunos do sexo masculino. Atualmente, no entanto, a diversidade de backgrounds é muito maior. Temos mulheres e homens, e uma diversidade étnica e econômica muito maior também. Atualmente a universidade oferece a bolsa de permanência para os alunos de baixa renda, os cotistas - o que é fantástico. A cada semestre os alunos ganham os livros que vão ser utilizados, ganham calculadoras. Então são oportunidades muito grandes. Nós temos alunos que vieram de situações muito desfavorecidas, e atualmente já estão até fazendo doutorado. Tivemos um caso recente de um aluno nessas circunstâncias que conseguiu se formar com uma boa qualificação e atualmente está estudando em Londres. Quer dizer, a universidade consolidou-se como um instrumento de mudança de vida. Acredito que a população como um todo ainda não tenha se dado conta disso, mas as possibilidades de estudo oferecidas aqui em nosso campus da Uerj abrem um universo para esses alunos, e vários deles têm encontrado ali a possibilidade de ajudar as próprias famílias a saírem de uma situação desprivilegiada.

A sensação é de dever cumprido?
Eu estou completamente satisfeito com o trabalho desenvolvido pela direção, minha e do professor Ivan Napoleão. Repito: ele foi um parceiro excelente durante esse processo todo, nos ajudou a puxar esse barco e a colocá-lo no rumo. A instituição está em ebulição, e apesar de toda a crise no Estado a gente continua discutindo uma série de projetos. Os próximos anos vão ser muito favoráveis e com certeza a instituição vai brilhar bastante.

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TAGS: UERJ | entrevista
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