Fim da era Andreotti

O casamento de cinco anos terá o seu divórcio. Talvez apenas um até breve, embora o fim desse relacionamento não tenha sido tão feliz. O rebaixamento para a segunda divisão do campeonato carioca e o desgaste natural provocado pelo longo período de trabalho colocaram um ponto final na primeira passagem do técnico Gerson Andreotti pelo Friburguense. 

Desde que assumiu o Tricolor da Serra, em 2011, o treinador comandou a equipe em 159 jogos oficiais. E, de fato, o saldo deixado por Andreotti é positivo: são 62 vitórias, 46 empates e 51 derrotas. Mais do que isso: o olhar atento para as divisões de base e as inúmeras oportunidades para os jovens jogadores são, talvez, o maior legado.

“O Gerson é uma grande pessoa, um excelente profissional. Ele esteve em Nova Friburgo e nós conversamos. E ele não está saindo por conta do rebaixamento, apesar da imagem da segunda divisão ter manchado um pouco. Houve o entendimento que é preciso renovar, dentro da filosofia de trabalho que temos. É muito mais uma mudança de estratégia, e também pelo lado financeiro. Geralmente, todos os treinadores, à exceção do Edson Souza, ficam em média quatro anos no Friburguense. É a nossa forma de trabalhar. Nós vamos estar junto do Gerson, ajudando a procurar um novo projeto para ele, onde, inclusive, poderemos encaixar algum jogador nosso por empréstimo”, explica o gerente José Siqueira, que continua à frente do futebol.

Apesar do reconhecimento, já não havia mais respaldo para a continuidade do trabalho. A boa relação com atletas, dirigentes e funcionários e a aposta no dia a dia são pontos positivos de Andreotti, mas que esbarram no desgaste natural dos cinco anos de trabalho. De fato, em meio a algumas turbulências — como a eliminação para o Crack na série D, o vice da Copa Rio e eliminações neste mesmo torneio, além do sufoco no estadual de 2015 —, Andreotti jamais correu riscos de demissão no clube até esta temporada, apesar dos questionamentos feitos a algumas mudanças táticas, opções de escalação e substituições promovidas durante as partidas. Algo considerado natural dentro do futebol.

A primeira possibilidade real de interrupção do trabalho surgiu logo depois da derrota para o Resende, na Taça Rio, quando o próprio treinador colocou o cargo à disposição. A goleada por 6 a 1 sofrida contra o Bonsucesso reforçou o cenário propenso à queda, mas houve consenso entre atletas e dirigentes de que a responsabilidade não era apenas de Andreotti. O trabalho prosseguiu, mas terminou com o rebaixamento para a série B. A diretoria, então, entendeu que é o momento de começar um novo trabalho.

Merica deve ser efetivado
O principal desafio do Friburguense para 2017 será se organizar financeiramente. A diretoria busca renovação de contrato com o patrocinador master, a metalúrgica Stam, que termina no fim de 2016. Além disso, como o time não vai disputar a elite do Estadual, não receberá cotas de televisão. A estimativa é de uma perda considerável no orçamento do próximo ano, algo em torno de R$ 1,3 milhão, considerando apenas os direitos de transmissão. 

Por esse motivo, o Frizão não vai ao mercado para buscar um novo comandante, e sim, apostará em uma solução caseira. A decisão, inclusive, segue o planejamento que já era conhecido por Gerson Andreotti. Desta forma, Merica deve realmente ser efetivado como o técnico da equipe na Copa Rio e no Estadual de 2017. 

“Os clubes pequenos, nos últimos anos, não podem ficar sem contar com o dinheiro da TV. Teremos, para o ano que vem, uma queda de 80% na arrecadação. O momento de crise econômica atual no Brasil é totalmente diferente de quando caímos em 2010. E ainda tivemos o sentimento de reerguer a cidade pela tragédia de 2011. Temos que organizar essa parte financeira para decidir se vamos ou não para a Copa Rio, se vamos ou não manter alguns jogadores”, detalha Siqueira.

Quem é Merica 
Natural de Recreio, em Minas Gerais, Merica Ferreira fez parte de um dos melhores times da história do Friburguense, em 1999. Aos 33 anos de idade, comandou o time juvenil na excelente campanha no Estadual de 2015, após experiência como auxiliar de Gerson Andreotti na equipe profissional. Merica reforça o time de técnicos das divisões de base que já vestiram a camisa tricolor — Almir Fonseca, Anderson Alves e Eduardo são os exemplos recentes —, mas provavelmente dará o passo que os outros ex-companheiros de campo não conseguiram.

“O Merica já vinha sendo preparado, desde que passou a auxiliar o Gerson, e atende ao nosso perfil. É um treinador jovem, mas que entende a filosofia do clube e dialoga. Existe muita gente que diz que o Siqueira escala o Friburguense, que determina uma ou outra mudança. Isso não é verdade. Eu apenas gosto de participar do processo, de estar por dentro de tudo o que acontece e de dialogar. Faço parte de uma comissão. O Merica é uma pessoa que tem essa consciência, entende a nossa filosofia e sabe que é preciso trabalhar pelo clube, mantendo um padrão de trabalho tático e de dia a dia que nós sempre adotamos no clube. É uma característica semelhante ao do Roy e Júlio Marinho, e a tendência é realmente ter o Merica na Copa Rio”, avalia Siqueira.

Os números de Andreotti no Friburguense:
- Jogos: 159
- Vitórias: 62
- Empates: 46
- Derrotas: 51
- Principais resultados: 
Vice-campeão da Copa Rio (2011), vice-campeão carioca série B (2011), 6º Campeonato Brasileiro série D (2012), vice-campeão da Taça Rio (2014)
- Maiores vitórias: 
12/02/2011 – Friburguense 6 x 0 Portuguesa, Eduardo Guinle
26/08/2012 – Friburguense 6 x 0 Guarani-MG, Eduardo Guinle (Série D)
- Maiores derrotas: 
26/01/2014 – Vasco 6 x 1 Friburguense, São Januário
03/04/2016 – Bonsucesso 6 x 1 Friburguense, Moça Bonita