Festa, recordações e rivalidades: os 100 anos do Esperança

Se o sentimento pudesse se materializar em cores, o verde e branco teria predominado
sábado, 17 de dezembro de 2016
por Vinicius Gastin
Presidente Bachinni e Juca ajudar a descerrar a bandeira durante a inauguração da placa
Presidente Bachinni e Juca ajudar a descerrar a bandeira durante a inauguração da placa

Se o sentimento pudesse se materializar em cores, o verde e branco teria predominado nos corações das dezenas de pessoas que festejaram o centenário do Esperança Futebol Clube no último domingo, 11. O evento, realizado na sede do Nova Friburgo, também celebrou os 101 anos do time esperancista, e foi recheado por bastante emoção, saudosismo e o toque de rivalidade que não poderia faltar.

A solenidade teve início com o relato da trajetória desportiva da equipe verdejante. As grandes partidas, os primeiros campeonatos, os fundadores e presidentes esmeraldinos foram relembrados e trouxeram o ar de saudade. Em seguida, a Banda Campesina Friburguense se apresentou, e trouxe em seu repertório a música popular brasileira. Na sequência, o Presidente do Conselho Deliberativo do Nova Friburgo, Carlos Arnaldo Bravo Berbert, o Juca, relembrou as relações então mantidas com o esquadrão de Luiza Carpenter.

O clímax da festividade foi o descerramento da placa comemorativa, localizada no mesmo pedestal da homenagem ao Friburgo F.C. Na honraria está eternizada  aquela que é considerada, por muitos, a maior glória alcançada por um clube da cidade: o título estadual de futebol, conquistado pelo Esperança Futebol Clube em 1962. Logo após, foram distribuídos certificados a personalidades esperancistas, tais como ex-dirigentes, torcedores lendários e atletas.

Um dos homenageados foi o ex-jogador Chiminga, autor de dois gols na final que conferiu ao Esperança o título estadual. A decisão foi realizada em Teresópolis, com goleada do Esperança sobre o Metalúrgico, de São Gonçalo/RJ, por 5x0.

Um toque de rivalidade...

Saudosismo e boas lembranças também remetem à rivalidade. E ela continua existindo, mesmo quase 40 anos depois da fusão entre Esperança e o Friburgo. “O confronto foi, sim, a grande rivalidade do esporte de uma cidade cujo inconsciente coletivo foi sempre dividido. De um lado, o Friburgo, beneficiado pelo mecenato da grande burguesia comercial e pelo mandonismo político de Dante Laginestra; do outro, o Esperança, time de maior penetração nas classes populares e originado no seio do proletariado fabril. Tais como água e óleo, jamais serão um corpo único”, afirma o pesquisador Fábio Nicoliello, autor do livro “100 Anos de Esperança”.

Não foi difícil constatar o sentido da afirmação do pesquisador na prática. Alguns esperancistas perguntavam-se, ainda que em tom de provocação saudável: “O que aquele vermelho faz aqui?”; outros alvi-rubros respondiam que o Esperança não poderia fazer a festa na antiga casa (o Friburgo mandava os seus jogos no Estádio Raul Sertã). Mas tudo não passou de uma doce lembrança da antiga rivalidade. Prova disso é que até mesmo alguns dirigentes do Nova Friburgo Futebol Clube marcaram presença com a vestimenta vermelha.

Em seu discurso inflamado, Carlos Arnaldo Bravo Berbert, o Juca, Presidente do Conselho Deliberativo do Nova Friburgo Futebol Clube e figura histórica do Friburgo F.C., frisou aos presentes o bicampeonato alvi-rubro da Segunda Divisão, conquistado no final da década de 1970. Alguns esperancistas brincaram com o fato de serem os únicos a possuírem o título de campeão estadual, fato reconhecido pela extinta Confederação Brasileira de Desportos, a CBD.

Ingredientes que apenas rechearam e reforçaram o sentimento predominante na festividade: a saudade dos bons tempos do futebol amador de Nova Friburgo.

O amor de Laercio Ventura

Dentre tantas outras paixões, o eterno diretor de A VOZ DA SERRA, Laercio Rangel Ventura, era um apaixonado pelo futebol. Torcedor do Fluminense no Rio de Janeiro, reservava um espaço especial para o verde e branco do Esperança em seu coração. Mais do que isso: Laercio ocupou diversos cargos no clube esperancista, inclusive o de presidente, e dedicando assim uma grande parte da sua vida ao esporte mais popular do planeta.

O vínculo com o esporte o fez, inclusive, tentar a carreira como jogador, interrompida precocemente devido a uma lesão no joelho. A vida de Laercio Rangel Ventura sempre teve o futebol como elemento importante. O pai, Américo Ventura Filho, foi fundador do Esperança Futebol Clube e Laercio herdou essa paixão, trilhando o mesmo caminho ao longo dos anos. Em 1945 ingressou na categoria juvenil do Barroso Futebol Clube. Laercio teve a oportunidade de atuar ao lado de craques como Robson, Jandir, Arnoldo e outros. 

Apesar da distância, jamais se afastou de Nova Friburgo, sua cidade natal, tampouco do clube do coração, o Esperança. No Verdejante da Vila Mariana foi companheiro de atletas como Paulo Banana, um dos maiores jogadores de futebol da cidade. Entretanto, a trajetória como jogador foi interrompida devido a uma lesão no joelho, que o obrigou a encerrar de forma prematura. Laercio concluiu os estudos e retornou definitivamente para Nova Friburgo, onde passou a fazer parte da diretoria esperancista presidida por Juvenal Marques. 

Em 1967, depois de muito contribuir para diversas gestões, assumiu a presidência do alviverde do Estádio Oscar Machado, onde escreveu de vez o nome na história do clube. As obras o levaram a ser reconhecido como um dos maiores presidentes do futebol municipal de todos os tempos. Laercio Ventura conciliava o comando do Esperança com o cargo de gerente administrativo / financeiro das Indústrias Sinimbu, onde descobriu, incentivou e foi o técnico campeão friburguense de futebol de salão, ao lado de nomes como Chiminga, Bibi, Manoel Moreira, Bieca, Leiver, Leão e tantos outros que passaram pelo alvirrubro do Perissê. 

Em meados de 1976, o Esperança Futebol Clube foi incorporado ao Conselheiro Esporte Clube, equipe da primeira divisão que havia paralisado as atividades 18 anos antes da fusão. Laercio foi um dos mentores e incentivadores da união que fez nascer o Nova Friburgo Futebol Clube em 16 de setembro de 1979. Neste momento estavam eternizadas as histórias de grandes clubes do futebol friburguense e o nome de um dos maiores dirigentes que o município conheceu.

  • Homenagem ao Esperança eterniza título estadual de 1962

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  • Dezenas de convidados prestigiaram a festa na sede do Nova Friburgo F.C.

    Dezenas de convidados prestigiaram a festa na sede do Nova Friburgo F.C.

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