Ex-secretária que denunciou politização da Saúde vira assessora de deputado

Emmanuele Marques foi nomeada assessora por Alexandre Knoploch, que pediu intervenção do estado na pasta
quarta-feira, 10 de julho de 2019
por Alerrandre Barros (alerrandre@avozdaserra.com.br)
Emmanuele no dia em que pediu exoneração (Arquivo AVS)
Emmanuele no dia em que pediu exoneração (Arquivo AVS)

A ex-secretária municipal de Saúde de Nova Friburgo Emmanuele Marques da Silva Mendonça, que pediu exoneração do cargo no último dia 28 de junho alegando “pressões políticos-partidárias”, foi nomeada assessora parlamentar do deputado estadual Alexandre Knoploch (PSL), o mesmo que pediu ao governador Wilson Witzel intervenção na saúde da cidade logo após a saída de Emmanuele da pasta. Passados dez dias, porém, Witzel ainda não analisou o pedido de intervenção. 

A nomeação de Emmanuele Marques foi publicada no Diário Oficial do estado desta terça-feira, 9. Ela assumiu o cargo de assessora parlamentar IX, CCDAL 9, cujo salário bruto é R$ 983,57, segundo o Portal da Transparência da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). 

Emmanuele deixou a Secretaria Municipal de Saúde de Nova Friburgo alegando “falta de autonomia” para montar sua equipe. Ela ficou cerca de 15 dias à frente da pasta mais visada da cidade, após a saída de Tânia Trilha, que pediu exoneração, também em  junho, em meio ao escândalo do áudio de WhatsApp. Antes da Saúde, Emmanuele ocupou por cerca de um ano a Secretaria de Assistência Social, sua área de formação. 

“A saúde é problemática no município há muitos anos, mas eu não contava que a saúde friburguense fosse balizada por questões políticas e partidárias, porque para mim saúde não tem partido. O povo não pode ser penalizado por questões partidárias e o que vi foi isso. À medida em que me associaram a partidos políticos, eu não consegui mais trabalhar”, disse Emmanuele ao sair da secretaria.

Poucos dias depois, em 1º de julho, o deputado estadual Alexandre Knoploch (PSL) encaminhou um ofício ao governador Wilson Witzel em que pedia a intervenção do estado na saúde pública de Nova Friburgo, devido a “problemas graves de desordem administrativa e de atendimento nos hospitais e postos de saúde locais”. Witzel, contudo, ainda não se manifestou, e a tendência é que arquive o pedido. 

Mesmo afirmando não ter vínculos partidários, Emmanuele foi nomeada assessora parlamentar de Knoploch oito dias depois do pedido de intervenção estadual na saúde. O deputado estadual foi o quinto mais votado em Friburgo. Desconhecido da política local, ele obteve 4.115 votos no município em meio à onda bolsonarista. Knoploch pode se lançar candidato à Prefeitura de Nova Friburgo em 2020. O PSL, porém, nega interesse do parlamentar no Executivo municipal. 

“Alexandre Knoploch conheceu Emmanuele Marques após o seu pedido de exoneração. Infelizmente, pessoas estão criando factóides dizendo que nós do PSL de Nova Friburgo indicamos Emmanuele para o cargo, tivemos ingerência sobre a pasta e fomos os responsáveis por ela ter pedido exoneração. Não tivemos participação alguma nesses feitos”, disse o presidente do diretório municipal do partido, Welbert Pedro.

Em vídeo divulgado nas redes sociais na tarde esta quarta-feira, 10, devido à repercussão da nomeação, Welbert Pedro afirmou ainda que o prefeito Renato Bravo e o vice, Marcelo Braune, tiveram “100% de liberdade para escolher o nome de Emmanuele Marques após negativa de outros gestores que já passaram pela pasta”. E acrescentou: “Não estamos preocupados com as eleições de 2020. Nós não temos ainda definição se iremos lançar candidatos ao governo municipal. Vamos lançar vereadores”, disse ele. 

CPI da Saúde

Desde então, a Secretaria municipal de Saúde está sob comando do prefeito em exercício Marcelo Braune. Com o prefeito Renato Bravo de férias até o próximo dia 17, Braune assumiu a pasta interinamente declarando que “não irá permitir interferências políticas na saúde”, montou um comitê para auxiliá-lo e trocou cargos estratégicos na secretária, no Hospital Municipal Raul Sertã e no Hospital Maternidade Dr. Mário Dutra de Castro.

Alvo de investigações do Ministério Público Federal (MPF) e ações ajuizadas pelo Ministério Público do estado (MPRJ), a Secretaria de Saúde também está no foco da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada para investigar supostas irregularidades em contratos firmados pela prefeitura com uma empresa para fornecimento de alimentação ao Raul Sertã. O relatório da CPI será lido nesta sexta-feira, 12, às 9h, na Câmara de Vereadores.  

 

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