ENTREVISTA - Caike Luna: talento, experiência e dedicação

Por Alessandro Lo-Bianco/@AlessandroLB
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
por Jornal A Voz da Serra
ENTREVISTA - Caike Luna: talento, experiência e dedicação
ENTREVISTA - Caike Luna: talento, experiência e dedicação

Atualmente no humorístico Zorra Total, o ator Caike Luna reflete um novo grupo de atores que chega à televisão pronto para enfrentar e produzir qualquer personagem. Na bagagem, as dificuldades do início da carreira transformaram-se em experiência seguida do reconhecimento dado a quem dedicou sua vida pelo teatro.

Caike—hoje contratado pela Rede Globo—deu o pontapé inicial em 1997 dentro da Faculdade de Artes do Paraná, onde cursava Artes Cênicas, com o espetáculo “Quatro num quarto”, que lhe renderia o Prêmio Acadêmico de Melhor Ator Coadjuvante da IV Mostra da FAP. No ano seguinte, foi aprovado entre mais de 300 candidatos para atuar nos espetáculos musicais “Quase” e “O Fabuloso Circo de Fábulas do Prof. Jaques”. Em 2000 descobriu seu talento cômico trabalhando em quase dez espetáculos num único ano e sendo visto por mais de 50.000 pessoas. No mesmo ano, atuou em “A Bruxinha que era Boa”, clássico de Maria Clara Machado. Em 2001 resolveu retomar seu trabalho com musicais ao aceitar o convite para protagonizar o espetáculo infanto-juvenil “Os aristogatas”, o que lhe renderia a indicação ao Troféu Gralha Azul por sua performance como felino.

Paralelamente a seu trabalho de ator, desenvolveu outras áreas: em 2002 começou a cursar Publicidade e Propaganda, o que fez expandir seus interesses artísticos, aprimorando e profissionalizando outros setores do teatro, como maquiagem, direção, figurino e dramaturgia, tendo escrito doze espetáculos, todos eles sob encomenda de montagem. Dirigiu dez espetáculos, dentre eles o seu próprio monólogo “O Sonho de um homem ridículo”. Em 12 anos Caike realizou 42 espetáculos como ator e em mais de 50 peças atuou em diversas áreas de criação. Foi sobre o amor à profissão e o mergulho nas artes que o artista conversou conosco com o Caderno Light, para mais uma edição. Confira!

Como foi a sua formação e como ela despertou o seu senso artístico?

Sou formado em Comunicação Social—Publicidade e Propaganda. Cursei o primeiro ano de Artes Cênicas na Faculdade de Artes do Paraná, não prossegui por que comecei a trabalhar efetivamente com teatro. Meu senso artístico vem de casa.

Como foi a escolha? Você tinha isso bem definido desde cedo ou foi surgindo com o tempo?

Não escolhemos ser artistas, a arte é que nos escolhe. Sobretudo, no que dependeu de mim, sempre quis trabalhar com algo que pudesse fazer uso de minha criatividade e sensibilidade. Para não ficar sem opção, escrevo, dirijo, canto, fotografo, desenho, pinto e bordo quando não estou atuando.

De que maneira esse campo profissional influenciou a sua vida?

Aprendi uma vez em uma aula de Fundamentos da Comunicação Humana que a profissão de alguém, indiferente se escolhida ou forçada, passa a ser parte inerente do conjunto de características que é um indivíduo.

Como decorreu sua entrada, de fato, no campo prático?

Fiz um espetáculo de encerramento para o primeiro ano da faculdade de Artes Cênicas (1997), e fui premiado como melhor ator coadjuvante daquele ano. Desde então surgiram os convites e não parei de trabalhar.

Quais foram os principais trabalhos que você fez, quais indicações receberam e que prêmios foram conquistados?

Fiz Macbeth, Fando e Lis, Medeamaterial, Lagrimas Puras em Olhos Pornográficos, Flicts, A bruxinha que era boa… No total, foram 45 espetáculos como ator e a maior parte deles foi indicada em alguma categoria do Troféu Gralha Azul, maior premiação do estado do Paraná. Recebi três indicações, duas como ator, uma como maquiador de espetáculos, mas perdi para colegas merecedores.

Qual destes trabalhos você guarda com mais apreço? Por quê?

Mesmo tendo imenso prazer com meu trabalho, poderia ser injusto dando mais ou menos apreço a tudo que fiz com muita dedicação e respeito. Amo tudo que faço.

Tem alguma parceria profissional que você destacaria na sua carreira?

Tem uma diretora e atriz de Curitiba chamada Cleide Piasecki, que o Brasil tem que conhecer. Um ator chamado Anderson Faganello que também é incrível! Trabalhei muito com a Fabiula Nascimento, Andy Gercker e Katiúscia Canoro que, felizmente, também estão no Rio.

Como é a sua rotina de trabalho?

Gravamos em média uma vez por semana. Chegamos, vamos definir o figurino, depois vamos para a maquiagem, cabelo, passamos o texto e ação. Quando não estou gravando, estou escrevendo. Sou um dos colunistas de uma revista semanal chamada Super Novelas e também escrevo roteiros para publicidade e peças teatrais.

O que considera mais difícil e mais prazeroso na sua profissão?

O mais difícil é conseguir estabilidade financeira com arte e o mais prazeroso é o carinho de quem nos aplaude.

Como você pensa o cenário artístico atual, tanto para o teatro quanto para televisão?

Temos muitos profissionais talentosos em todas as áreas artísticas, o que nos falta é investimento. Mas somos um país em desenvolvimento que, por falta de comida, saúde e educação, ainda não aprendeu sequer a votar ou reivindicar o que lhe é de direito, portanto não podemos nos dar ao luxo de pensar muito no cenário artístico atual. Sobretudo, acho que estamos progredindo.

O que você mudaria e o que foi conquistado que deve ser reforçado?

Não mudaria nada nunca, o que passou faz parte do que é agora e sempre mantenho minhas conquistas, sejam elas de amizade, trabalho ou pessoais, com muita dedicação, atenção e carinho. Sou sempre muito grato por tudo que adquiro.

O que você acha, num contexto geral, da produção audiovisual nacional em relação ao que se faz lá fora?

Infelizmente a cultura americana ainda influencia muito nossas produções. Reitero que temos ótimos profissionais e espero que continuemos progredindo, principalmente no que diz respeito a encontrarmos uma identidade. Não é culpa nossa, fomos educados tendo que abrir bem a boca para comida enlatada americana, nós e meio mundo subdesenvolvido.

Como se dá o mergulho no personagem? Quais os trabalhos que você indica para o leitor e o que ele deve buscar perceber nas obras citadas?

Adoro cinema italiano, espanhol, iraniano. Assistam Fellini, Ettore Scola, Bigas Luna, Almodovar, Majid Majidi, Samira Makhmalbaf. Todos são diretores incríveis que conseguem captar o que considero ser a essência do cinema… A complexa simplicidade de ser humano.

Trabalhar como ator é simples, basta saber dosar intuição, técnica e humildade para acatar uma direção. Faço o que me pedem, sempre com o cuidado de não me corromper profissionalmente. Minha subjetividade artística prefiro imprimir quando estou dirigindo ou escrevendo.

Cada personagem pra você é...

Sempre como uma oportunidade de crescimento, aperfeiçoamento e diversão.

O que você leva em conta ao receber ou recusar um trabalho?

Raramente recuso trabalhos. Só digo não quando percebo que não serei feliz trabalhando, seja por falta de interesse, por falta de tempo ou escassez de grana, a ponto de inviabilizar as necessidades básicas a que produção se propõe. Ou seja, até trabalho por amor, mas não quero ter que tirar dinheiro do bolso para pagar dívida de maluco (risos).

Quais foram as maiores dificuldades que você enfrentou no início da profissão e superou?

É sempre difícil convencer a família de que seremos felizes fazendo o que gostamos quando temos apenas 18 anos e nenhum dinheiro no bolso. Mas se nos dedicarmos eles aceitam e apoiam. Foi assim comigo.

Como você acha que o governo tem representado o campo artístico no país?

Para você ter uma ideia, eu sequer sei o nome do ministro ou ministra da cultura. Não acho bonito desconhecer quem decide sobre meus interesses, mas seja lá quem for que está me representando, se o está fazendo bem, não está divulgando ou sendo divulgado. Leitores, não façam como eu, se informem e cobrem.

Que conselho você deixa pra quem tem o interesse de entrar neste campo ou está iniciando uma carreira?

Dedicação e perseverança são as palavras de ordem para quem quer ser ator. Traduzindo para atores mirins? Fazer bem feito e não desistir!

Quais são os ingredientes que não podem faltar na receita do sucesso?

Se eu soubesse desses ingredientes não precisaria mais trabalhar (risos).

Quais são os seus planos profissionais para curto e médio prazo?

Estou planejando montar um espetáculo de comédia para viajar pelo Brasil. Também estou a fim de voltar a cantar. Mas geralmente não arregalo os olhos para o futuro não, gosto de ver as coisas acontecendo na hora certa, sem esforço gratuito ou atropelos.

BATE-BOLA

Um sonho realizado: Ser adulto

Um sonho a ser realizado: Ser idoso

Um prato: Carnes

Uma música: Brasileira

Um lugar: Palco

Um livro: Teórico

Um amor: Sincero

Um arrependimento: Arrepender

Um ídolo: Não idolatro

Um inimigo: Insônia

Amizade: Escolha

Uma qualidade: Fé

Um defeito: Só um?

Uma frase: “É tudo perfeito demais para ser por acaso...”—Meu pai ao me convencer de que Deus existe.

Um ensinamento inesquecível: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.

Um sentimento inesquecível: Saudade.

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