Enquanto houver abelhas, há esperança

Veterinário Luís Moraes, do Apiário Amigos da Terra, ressalta o papel desses insetos na vida na Terra
sábado, 27 de abril de 2019
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)

O veterinário Luís Moraes e a bióloga Clarice Líbano, proprietários do Apiário Amigos da Terra, empresa criada pelo casal em 1990, trabalham incansavelmente para transmitir conhecimento sobre o papel das abelhas no planeta.

A razão é simples, explica Luís:

“Elas são essenciais para a agricultura porque polinizam cerca de 90 tipos de frutas, vegetais e soja, multiplicam as plantas, que são necessárias para produzir oxigênio através da fotossíntese, e servem de base dentro daquilo que chamamos de cadeia alimentar. Ou seja, as plantas servem de alimento para os animais herbívoros, que por sua vez alimentam os carnívoros, que são consumidos por animais onívoros como nós, que comemos carne e vegetal. Se a abelha sumir, essa sequência será drasticamente alterada, porque em mais de 100 plantas que fazem parte da composição da nossa alimentação, 90% delas são polinizadas pelas abelhas”.

Como o noticiário ao redor do mundo vem informando, frequentemente, catástrofes relativas ao meio ambiente, como alterações climáticas, aquecimento global, “dilúvios”, incêndios florestais, entre outros, procurar saber mais sobre abelhas, já é um começo.

“A frase atribuída a Einstein, de que a humanidade sucumbiria caso as abelhas desaparecessem, serve para alertar não só a comunidade científica e a população, mas principalmente as autoridades, porque se trata de tomar uma decisão política. Afinal, não estamos lidando com uma doença infecciosa, mas com uma doença ambiental, de dimensão planetária. A abelha é um indicador biológico”, lembra Luís.

Ainda isso, ainda aquilo...

Pesquisadores e ambientalistas têm observado com preocupação a quantidade de abelhas mortas em países da Europa e nos Estados Unidos. “Essa ‘síndrome’ tem provocado muito alarde na comunidade científica, e recebeu o nome de ‘colapso das abelhas’. Os enxames saem das colméias em direção aos campos, onde, apesar de se sentirem enfraquecidas, conseguem abandonar o local e sumir na natureza. No meu entender, não são as abelhas que estão em colapso”, provoca o veterinário.  

Neste ponto, Luís faz um parênteses para lembrar que as abelhas existem há, pelo menos, 50 milhões de anos. “O surgimento delas permitiu a diversidade da flora e da fauna. Ao contrário do que muita gente pensa, a função principal das abelhas não é produzir mel, mas a polinização: 85% de toda a flora do planeta, só é reproduzida a partir da intervenção da abelha. Essa relação de adaptação entre abelha e planta foi disseminando espécies vegetais, que por sua vez deram origem a espécies animais, como os mamíferos, muito tempo depois. O hominídeo, por sua vez, só surgiu há cerca de 5 ou 6 milhões de anos. Essa é uma clara demonstração da importância da abelha na evolução da vida na Terra, tal como a conhecemos”.  

Enquanto o homem conviveu em harmonia com a natureza, respeitando os animais, os nativos e o meio ambiente, desfrutou de todos os benefícios produzidos em seu habitat. Quando teve a má ideia de intervir no que funcionava a contento para todos, tudo se desequilibrou, atingindo todos os seres vivos, o mundo em que vive. “Existem pinturas rupestres, com 12 mil anos, mostrando o homem primitivo retirando favos de mel e inclusive uma ciência chamada Arqueologia Apícola”.

Ele ressalta que o ser humano, à medida que evoluía, foi transformando a realidade do seu entorno, Intervindo no cultivo dos alimentos, preocupado tão somente com a autossuficiência. “Com a tal Revolução ‘Verde’, após a 2ª Guerra Mundial, que consistia em usar insumos agrícolas, desenvolveu um modelo de agricultura voltado para as monoculturas, que, intensificado, atingiu a apicultura. Os resultados disso estão sendo verificados, como vimos acima, na Europa e Estados Unidos. Mas lá, a apicultura é diferente da nossa”, esclareceu.

“Aqui, em Friburgo, existe um percentual de perda de abelhas, que é natural, quando chove muito ou em invernos muito prolongados. Mas não tem o mesmo significado do que acontece lá fora. Aqui, ainda não há motivo para alarde, porque ainda temos uma área de mata preservada, onde as abelhas conseguem ter fontes de alimentos livres de contaminação. Todo apicultor tem que saber onde colocar suas colméias distantes de áreas onde haja plantações tratadas com agrotóxicos. Nesse aspecto, Friburgo ainda oferece uma boa qualidade de ar”, comentou Luís, reiterando, diversas vezes, a palavra ‘ainda’. Enfaticamente.

 

Foto da galeria
O veterinário Luís Moraes reafirma que as abelhas são essenciais para a diversidade da flora e da fauna do planeta
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