Em Nova Friburgo, Jhennifer Alves fala sobre rotina e sonhos na natação

Faculdade, índices, São Paulo... Confira a entrevista com a atleta, que em junho viaja para competir na Europa antes dos Jogos Pan-Americanos
segunda-feira, 06 de maio de 2019
por Vinicius Gastin
Em Nova Friburgo, Jhennifer Alves fala sobre rotina e sonhos na natação

Em um curto espaço de tempo, a menina que fazia sucesso nas piscinas de Nova Friburgo e região se tornou mulher e ganhou. O processo não foi tão simples. Teve – e ainda tem – inúmeros obstáculos, mas todos eles são vencidos com determinação e talento. Da cidade natal, ao Rio de Janeiro e agora em São Paulo, Jhennifer Alves já carrega em sua bagagem uma participação olímpica, medalha em Jogos Pan-Americanos, inúmeros recordes, marcas e conquistas. A garota prodígio friburguense, agora, é também especial para o desporto nacional.

Em meio a correria de treinos, competições e preparação para os próximos desafios, Jhennifer esteve por cinco dias em Nova Friburgo na última semana. Além de rever os pais, familiares e amigos, a atleta do Pinheiros-SP atendeu à reportagem de A VOZ DA SERRA e demais veículos de imprensa do município, sempre com a simpatia e o carisma peculiares. Na conversa, Jhenny fala sobre as últimas marcas, objetivos, o período na Europa e faz duas revelações: está morando sozinha em São Paulo, com uma “companheira” especial, e cursando faculdade de Biomedicina.

A VOZ DA SERRA: Você veio para Nova Friburgo para um breve período de descanso, mas antes obteve mais um resultado importante na carreira: medalhas de ouro e quebra de recorde sul-americano no Troféu Brasil. O quanto foram importantes essas conquistas para o momento atual da carreira?

Jhennifer: Foi especial, pois conquistei três medalhas de ouro: uma nos 100 metros peito, outra nos 50 e mais uma no revezamento 4x100 medley com as minhas companheiras. Na verdade, eu quebrei o recorde que já era meu, e foi uma surpresa. Ano passado eu tentei bater, mas não consegui. Acabei também ajudando o meu time, o Pinheiros, a passar o Minas e conquistar o título. Pela manhã eu baixei um centésimo, e à tarde mais três. Foi o 4º tempo nos 50 peito no mundo esse ano.

A gente sabe, até mesmo por entrevistas suas, que a prova dos 50 metros peito é a sua especialidade. Mas também há uma notória evolução na prova dos 100 metros. É um objetivo seu, tem treinado especificamente pra isso ou tem acontecido de forma natural?

É o meu foco principal no momento, pois é a prova que me levou para a Rio 2016 e vai me levar para as Olimpíadas de Tóquio em 2020, onde ainda não há os 50 metros. Estamos trabalhando para melhorar o tempo e atingir o índice, que é determinado e foi divulgado no meio do ano passado para os atletas trabalharem em cima dele e atingirem nas seletivas. Aqui é o Troféu Brasil, que esse ano selecionou para o Pan e ano que vem vai selecionar para as Olimpíadas.

E você já está nadando perto desse índice? Como fazer para melhorar o rendimento e alcançar esse objetivo?

Para atingir há todo um processo, mas basicamente é treinar mais. Mudar um movimento, alguma coisa, mas é dar o máximo nos treinos para conseguir. No Pinheiros, eu tenho três treinadores, mas tenho um específico de peito, além da equipe de profissionais.

Um dos seus desafios neste ano são os Jogos Pan-Americanos, em Lima, no Peru, a partir do dia 14 de julho. Será a sua segunda participação nesta competição?

Eu fui no Pan de 2015, em Toronto, e já achei incrível. Conquistei uma medalha de bronze no 4x100 medley, e fui a 5ª colocada nos 100 metros peito. Consegui bater o índice de um minuto, oito segundos e 37 centésimos, consegui a vaga para Lima e este ano eu quero trazer uma medalha individual nos 100 metros.

O Pan-Americano é o seu principal desafio no restante do ano. Antes, porém, há alguma outra competição em vista?

Sim, na verdade eu tenho mais cinco competições antes, todas elas na Europa, para onde estou indo agora em junho. Vai ser uma atrás da outra. Vou buscar medalhas, mas também estar treinando para o Pan e competindo para ficar afiada. No final do ano ainda tenho o Mundial Militar. Quero também treinar um pouco fora do Brasil para acompanhar outros métodos de preparação, treinamento e competição. Comecei o ano com uma preparação nos EUA, e era algo que eu queria muito. Pois eles são os melhores. O convite surgiu numa conversa com um amigo, e treinei na Virgínia Tech por um mês. Consegui aperfeiçoar um pouco a minha técnica e fiquei muito feliz. Quero voltar para lá o mais rápido possível (risos).

Sobre esse período nos EUA, pelo que você pôde observar, o Brasil ainda está muito aquém da maior potência da natação mundial?

O clube Pinheiros, por incrível que pareça, não. Está bem perto de tudo o que eles têm. Mas a dedicação e a motivação são muito diferentes. A garra, a vontade, e principalmente a questão do apoio são as maiores diferenças em relação ao nosso país.

Você foi convocada para os Jogos Pan-Americanos, mas não está no Mundial. Por que?

Na verdade eu teria sim, tempo para ir ao Mundial nos 50 metros peito. Tenho hoje a 4ª melhor marca do mundo, e atingi o determinado pela Fina (Federação Internacional da Natação). Acontece que a Confederação Brasileira não utiliza os critérios dos 50 peito, e então eu teria que garantir nos 100 metros peito, onde a marca era bem mais forte que o índice olímpico. Ficou um pouco mais difícil.

NOTA: O índice para o mundial, critério adotado pela Confederação Brasileira, pasmem, era o mesmo para homens e mulheres. Como resultado, apenas duas mulheres brasileiras atingiram o índice, e o restante dos selecionados serão homens.

Em pouco tempo, você deixou de ser a menina promessa que saiu de Nova Friburgo e foi para o Flamengo, tornando-se uma das referências da natação brasileira. Atualmente, em São Paulo, já está acostumada com a correria da grande metrópole?

Em 2011, logo depois da tragédia, fui para o Rio e evoluí muito no Flamengo. Morava com meu pai, que deu todo o apoio. Em 2016, quando fui disputar a vaga olímpica, recebi uma proposta melhor do Pinheiros, que possui uma estrutura incrível. Todo atleta da natação quer treinar no Pinheiros. Decidi ir para São Paulo treinar com os melhores, inclusive com o melhor técnico de peito do Brasil. No Rio, a adaptação já foi difícil, mas São Paulo é ainda pior. O pessoal de lá já está acostumado com a correria, o trânsito. O meu maior desafio foi esse, conseguir ficar acelerada também.

E como é a sua rotina em São Paulo?

Hoje eu já moro sozinha, e meus pais estão aqui em Nova Friburgo. Me adaptei, adotei uma cachorrinha que me faz companhia, é a minha alegria do dia a dia e me ajuda a quebrar um pouquinho a rotina da natação. É complicado só ficar pensando em treino, prejudica o atleta. Moro perto do Pinheiros, sou funcionária do clube, tenho apoio da Aeronáutica, de uma equipe formada por nutricionista, fisioterapeuta, o médico que também é do Palmeiras. Tenho que estar sempre observando, pois comecei na natação por conta de problemas de saúde na infância. Eu treino pela manhã até quase a hora do almoço, vou para casa, descanso, treino à tarde e ainda tenho a faculdade à noite. Estou cursando Biomedicina, é uma área que eu gosto bastante e me identifiquei muito.

Para tantos desafios que estão por vir, é necessário apoio e aporte financeiro. Como você tem feito, o que precisa em relação a essa questão?

Estou em busca de apoio, de empresas que possam me dar suporte para as competições e fazer parte da minha rotina. Vou participar de cinco competições pela Europa, em junho, bem visualizadas na mídia, onde estão os melhores nadadores. Quem quiser fazer parte desse momento, a gente coloca a logo nos uniformes e outros meios. No meu instagram tem todos os meus contatos.

Foto da galeria
Adaptada à rotina em São Paulo, atleta friburguense divide atenções com a cachorrinha e a faculdade
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TAGS: natacao
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