A dura reconstrução de vida de um sírio que perdeu tudo na guerra

Grato a todos que o ajudam, Abdulaziz luta para conseguir trabalhar na sua própria barraquinha de comida árabe
sábado, 22 de junho de 2019
por Alan Andrade (alan@avozdaserra.com.br)
Abdalaziz Mahmoud, 33 anos, refugiado sírio, que atende pelo apelido carinhoso Abdul, está morando em Nova Friburgo há uns oito meses. Aqui já fez bons amigos, e tem como atividade profissional a gastronomia de seu país. Na Síria, sua família tinha restaurante, que foi destruído pela guerra, além de terras. Da família, restaram uma irmã e dois sobrinhos, que ainda vivem lá. Essa é a sua história:

“Eu só quero dizer muito obrigado a toda gente que me ajuda. Obrigado, Brasil. Obrigado, Nova Friburgo. Aqui tem gente muito boa!”
 “Quando cheguei ao Brasil, não conhecia ninguém e minha primeira noite passei no aeroporto mesmo. Antes de vir embora, morei quatro anos e cinco meses no Líbano. E como em todo lugar, lá tem pessoas muito boas... mas todo lugar tem pessoas de todos os jeitos, algumas ruins também, vocês sabem...

Eu já andava muito cansado e desanimado da vida por lá, apesar de não me faltar dinheiro. Eu tinha trabalho, tinha todas as coisas. Mas tinha perdido tudo na guerra, nossa casa, toda a minha família morreu (oito pessoas). Um dia, conheci um rapaz na internet que fazia parte de um grupo árabe-brasileiro. Em seguida, conheci outro rapaz na internet, do Rio, que me falava assim:

‘O Rio é mais tranquilo. São Paulo tem muita coisa, tem ladrão…’ (risos). Mas fui pra São Paulo, depois pro Rio, trabalhei nas duas cidades, mas do Rio... não gostei. Eu queria um lugar mais tranquilo, menor, entendeu?

Foi o que encontrei aqui em Friburgo, para onde vim por intermédio da Janaína Botelho (historiadora e colunista de A VOZ DA SERRA). Aqui fui acolhido com carinho pela colônia libanesa. Gilberto (Sader), Margareth Farah, Rodolfo Acri, Rivana Abbud, e muitos outros, todos me ajudaram muito. Estou morando no hotel do Rodolfo (empresário e dono do teleférico), onde trabalho também.”

“Tenho recebido encomendas de refeições árabes, para servir em domicílio, para festas, jantares, almoços. A amiga Rivana, dona do Bar América, permitiu que eu montasse uma barraquinha na porta da loja dela, às quartas-feiras. Ela fez um documento que enviou para a prefeitura explicando a minha situação, mas o Renato Bravo ainda não concedeu a licença. Acho importante esclarecer isso: a proprietária, Rivana, tem um nada-a-opor me autorizando a trabalhar.

Na minha terra não tem só muçulmanos, como eu. Lá tem cristão, judeu, evangélico, ortodoxo… tem todo tipo de cultura, religião, e todo mundo se respeita. Ninguém critica o estilo de vida, a fé do outro. Tem muita coisa na Síria, somos todos irmãos… O problema não é religião, você sabe onde está o problema, está nas pessoas.

Tenho amigos judeus lá na minha cidade e no Rio - o rapaz que me ajudou. Morei com ele durante três meses, e não tivemos nenhum problema. Já vi umas coisas na televisão sobre nosso modo de vida na Síria, sobre costumes, comportamento, inclusive numa novela... tudo mentira, entendeu?

Agora quero ter uma vida aqui no Brasil.”   

Aproveitamos a deixa para perguntar: talvez casar, ter filhos? Formar sua família, começar uma vida nova, ter seu restaurante. Sonha em ter seu restaurante de cozinha síria?

[Abdul se emociona e não responde]

“Eu só quero dizer muito obrigado a toda gente que me ajuda. Obrigado, Brasil. Obrigado, Nova Friburgo. Aqui tem gente muito boa!”

 

 

 

 

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