A imigração suíça foi uma das primeiras a ocorrer no Brasil, e foi aqui, em Nova Friburgo, por decreto real. Bem antes desses primeiros imigrantes europeus, vieram os portugueses. Três séculos antes, vale lembrar. Uma das primeiras descrições da área onde se criaria a Vila de Nova Friburgo foi feita em 1809 pelo mineralogista britânico John Mawe, em viagem a Cantagalo para investigar um suposto veio de prata.
“Esta fazenda, nas mãos de um agricultor experimentado e hábil, poderia produzir resultados maravilhosamente compensadores. O solo é úmido, adaptável ao plantio, não só do milho, como do trigo, cevada, batatas etc, e tão bem irrigado por numerosas correntes provindas das montanhas que as pastagens estão sempre verdejantes. Aqui existem magníficas quedas d’água e a terra é abundante em excelente madeira. Assim, moendas de milho poderiam ser construídas com menor despesa do que a necessária para a compra de moinhos de pedra. Se estivesse ligado à fazenda das freiras mais abaixo, este estabelecimento transformar-se-ia num dos mais completos e lucrativos do Brasil.”
Em 16 de maio de 1818 o príncipe-regente Dom João VI, sentindo a necessidade de uma colonização planejada, para promover e ampliar a civilização no Brasil, baixou um decreto autorizando o agente do Cantão de Fribourg, na Suíça, Sébastien-Nicolas Gachet, a estabelecer uma colônia de cem famílias suíças na Fazenda do Morro Queimado, no distrito de Cantagalo, localidade de clima e características naturais parecidas às de seu país de origem. Entre 1819-1820 chegaram a Nova Friburgo mais de 250 famílias de colonos suíços, muito mais do que havia sido contratado.
A terra prometida
Por sua vez, com seu tino econômico, Gachet, também representante da Confederação Helvética, vislumbrou ótimas possibilidades para fazendas de criação, para a qual já havia uma tradição suíça. Considerou o local adequado para a agricultura, criação e mesmo manufaturas. Apesar do difícil acesso, o local funcionaria como um entroncamento necessário de vários caminhos, como o que vinha de Minas e que passava por Cantagalo, em direção ao Rio de Janeiro. Vários caminhos também convergiam para o sítio onde se instalaria a Vila de Nova Friburgo. Portanto, para ele, não havia dúvidas: era a terra prometida.
Ficou decidido que a colônia se chamaria Nova Friburgo e os imigrantes perderiam a cidadania suíça, tornando-se “súditos do rei de Portugal”.
Não demorou para o sonho transformar-se em pesadelo, aliás, já pressentido na tormentosa travessia do Atlântico. As condições da viagem foram tão precárias que apenas 1.617 lograram chegar. A região era assolada pela malária, e foi nesse desalentado cenário que os pioneiros suíços fundaram a primeira colônia de europeus, não portugueses, no Brasil.
Diante das más condições, em 1823 os colonos de Nova Friburgo se dividiram. Ficaram na colônia os que tinham melhor situação financeira, e os que não tinham nada a perder partiram para terras mais quentes no Vale do Paraíba e para outras cidades. Em 1890, um decreto transformou a colônia em cidade.
Barreira de montanhas
O acesso à região não era fácil. Acompanhado de um professor de química, Mawe viajou do Rio de Janeiro à Foz do Macacu após ter velejado durante cinco horas. Depois de atravessarem um grande pântano, chegaram a uma vila — provavelmente Santo Antônio de Sá. Seguiram a cavalo pelo leito do Rio Macacu, observando a presença do açúcar ao longo do vale.
Para transpor a “grande barreira de montanhas”, passaram por caminhos tão difíceis que foram obrigados a andar mais a pé do que a cavalo. Chegaram à Fazenda do Morro Queimado e receberam do administrador pousada por uma noite.
A temperatura gelada desaconselhava o plantio de produtos comuns do país, sobretudo banana, café e algodão. Se de um lado as condições climáticas favoreciam a adaptação dos suíços, por outro, a presença da selva era um desafio. Mawe relatou que o local escolhido, a uma altitude de 1.000 metros, “estava imerso na Mata Atlântica, onde a pujança das matas se manifestava em árvores de elevado porte. E a propriedade é infestada, de vez em quando, por onças”.
A flora oferecia fibras, ervas, frutos, alimentos e medicamentos, as águas nutriam aves, e antas (daí Córrego D’Antas), onças, veados, macacos, gambás, tatus e capivaras habitavam a região. Só se alcançava a futura Nova Friburgo vencendo altas montanhas.
Concluindo, descobriram uma região banhada por três bacias hidrográficas, em cujos vales se criarão as aglomerações humanas e para onde afluirão os colonos imigrantes de Nova Friburgo: Bengalas, Rio Grande e Macaé. Na vertente norte da cadeia da Serra do Mar nascem os rios Cônego e Santo Antônio, cuja junção forma o Rio Bengalas (São João das Bengalas), ao longo do qual se instalaria a Vila de São João Batista de Nova Friburgo.
Breve biografia de Dom João VI
“João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís Antônio Domingos Rafael, o D. João VI, nasceu em Lisboa, a 13 de maio de 1767, segundo filho da rainha D. Maria I, a “louca”, e de D. Pedro III, seu tio e marido.
Exerceu a regência de 1792 a 1816, quando faleceu sua mãe. Reinou apenas dez anos. Foi, inicialmente, destinado à carreira eclesiástica, mas, em menos de dois anos, morreu o irmão mais velho, D. José II, e o pai. Casou-se contra a vontade, em 1775, com a princesa Carlota Joaquina, filha do Rei Carlos IV de Espanha, união que lhe traria mais dissabores que todos os outros problemas. A má esposa sempre o detestou e logo começou a conspirar contra ele. Como se fosse pouco, ainda em 1789 sua mãe perdia a razão para nunca mais recuperá-la. Enfrentou a crise política que envolveu Portugal, com a expansão do Império de Napoleão pela Península Ibérica (1806-07), e acabou fugindo para o Brasil com sua côrte, em novembro de 1807, temendo ser aprisionado pelos franceses.
Chegou à Bahia, em 20 de janeiro de 1808. Logo ao desembarcar, seu primeiro cuidado foi o de dar maior expansão à colônia. Encorajado pelo Visconde de Cairu, insigne brasileiro e ardoroso patriota, decretou a liberdade do comércio e navegação, assinando, apenas oito dias após sua chegada, a abertura dos portos às nações amigas: 28 de janeiro.
Percebendo que Salvador não possuía condições de sediar uma côrte, veio para o Rio de Janeiro, onde desembarcou no Largo do Paço em 08 de março de 1808. Sua primeira preocupação foi a de acomodar a côrte, formada por quase 500 áulicos, o que teve de fazer invocando a triste lei das aposentadorias, dando aos nobres o direito de tomar as residências particulares, o que causou grande descontentamento popular. Para ele coube a Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, e a mãe foi acomodada no antigo Convento do Carmo.
Precisando dotar o Rio de Janeiro de infraestrutura capaz de sediar a capital de seu reino, efetuou realizações para promover o progresso da colônia, entre elas: fundação do Banco do Brasil (1808); Imprensa Régia (1808); Fábrica de Pólvora da Lagoa (1808); Real Horto Botânico (1808); Intendência Geral de Polícia (1809); Real Biblioteca (1810); Real Academia Militar (1810); Escola Anatômica de Cirurgia Médica (1811); Real Academia dos Guardas-Marinha (1811); Real Academia de Artes e Ofícios (1816); Museu Real (1818); Praça do Comércio (1819); e outras úteis instituições.
Assinou a primeira lei destinada a acabar com o tráfico de escravos no nosso território (1810); e foi o primeiro a estimular a imigração para o campo, com a vinda de colonos suíços (1818). Tal foi o impulso imprimido ao Brasil, que a 26 de dezembro de 1815 foi elevado à categoria de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
O maior benefício que a presença de D. João legou ao nosso país foi, sem sombra de dúvidas, a unidade nacional. Não fosse sua presença entre nós, com certeza teria acontecido à nossa terra o que ocorreu com nossos vizinhos de colonização espanhola. Quatro vice-reinados transformaram-se em vinte pequenos países, quase sempre envolvidos em guerras fratricidas e disputas fronteiriças. Seu reinado manteve o Brasil unido, que permitiu que a grandeza territorial de nosso país não se fracionasse em estados estéreis.
A miragem da terra prometida
A propaganda dirigida aos suíços que desejavam imigrar, no início do século XIX, e que idealizava o Brasil como a terra prometida, tinha a seu favor a invasão das tropas de Napoleão, provocando fome e pestes. Para fugir de tamanha desgraça, cerca de duas mil pessoas alistaram-se para emigrar para um “novo mundo”, entre 1818 e 1819.
Apesar da oposição de sua mulher, que sempre trabalhou contra ele e que nos detestava fidagalmente, D. João daqui só se afastou compelido pelo movimento constitucionalista do Pôrto (1820). Em abril de 1821 seguiu para Portugal, aqui deixando como regente seu filho D. Pedro I.
Chegando a Lisboa, jurou a nova Constituição, mas sua mulher D. Carlota Joaquina se recusou a tal e por isso foi exilada com seu filho D. Miguel. Os dois promoveram uma contrarrevolução que restabeleceu o absolutismo. Em abril de 1824, o movimento denominado “Abrilada” obrigou D. João VI a se recolher a bordo de uma nau inglesa. Restaurado no poder, foi D. Carlota internada e D. Miguel exilado. O dissabor sofrido com a ingratidão do filho D. Miguel e a revolta da mulher D. Carlota, abalou profundamente o monarca, que nunca mais recuperou seu bom humor. Um ano depois, a 29 de agosto de 1825, D. João reconheceu a Independência do Brasil.
Em 10 de março de 1826, após jantar, D. João passou mal e morreu, subitamente. Graças à moderna ciência, ao examinar seus restos mortais conservados em álcool, encontrou vestígios de arsênico em dose suficiente para matar um “elefante”. D. Carlota Joaquina, suspeita de ser a mandante do ‘atentado’, não saboreou o sucesso. Enlouqueceu como a sogra, suicidando-se com veneno em 1830, aos 55 anos. Dizem, que de uma dose cavalar de arsênico”. (Professor Milton Teixeira)
(Fontes: blogs Suíços do Brasil, Fundação D. João VI, professor Milton Teixeira)
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