Defesa Civil: “Nós trabalhamos com informação”

Coronel João Paulo Mori fala dos desafios em uma cidade com 26 mil pessoas vivendo em área de risco
sábado, 13 de abril de 2019
por Alerrandre Barros (alerrandre@avozdaserra.com.br)
Casas em área de risco no Parque Maria Teresa (Fotos: Henrique Pinheiro)
Casas em área de risco no Parque Maria Teresa (Fotos: Henrique Pinheiro)

Três dias depois da chuva que castigou o Rio e matou dez pessoas, o secretário de Defesa Civil de Nova Friburgo, coronel João Paulo Mori, recebeu um representante de uma empresa de tecnologia de Niterói que criou o aplicativo CEM - Comunicação de Emergência para envio de avisos à população que vive ou frequenta áreas de risco. É mais uma ferramenta a ser integrada à central que monitora o clima no município. O app, desenvolvido pela empresa Terrabyte, faz parte do projeto Morte Zero, criado pelo Ministério Público estadual para prevenir acidentes por desastres naturais. A desenvolvedora do aplicativo fornece gratuitamente o sistema aos municípios. Ele já está em funcionamento em Silva Jardim, na Baixada Litorânea, e em implantação em Angra dos Reis, na Costa Verde.

De acordo com o representante da empresa, Roney Pereira, em situações de emergência, o app emite avisos não somente aos usuários que vivem em área de risco, mas também a quem se aproxima dessas regiões. “O sistema não está preocupado com o local em que a pessoa mora, estamos preocupados com ela. Onde esse morador estiver com o celular e app instalado, o sistema irá alertá-lo sobre riscos emitidos pela Defesa Civil”, disse.

E detalhou: “as pessoas que cruzarem o limite da área de risco, e tiverem o app instalado, serão alertadas em diferentes níveis de riscos. O app toca uma sirene, abre uma tela com capacidade para até 700 caracteres de texto, e ainda permite acesso a um mapa, com instruções do operador do sistema. Vários comunicados podem ser emitidos enquanto estiver na área de risco”, contou Roney Pereira.

Outro diferencial é que o módulo do sistema do app pode ser programado com diferentes instrumentos de medição ambiental espalhados pela cidade, como pluviômetros (que mede o nível das chuvas), por exemplo. As informações desses instrumentos são enviados, em tempo real, para os celulares de integrantes da Defesa Civil, facilitando o monitoramento de fatores climáticos.

“Nós trabalhamos com informação”, disse o coronel Mori após conhecer o aplicativo na última quinta-feira, 11. “Saber o que pode acontecer ou o que está acontecendo e poder comunicar tudo isso a população é essencial para que consigamos agir com eficiência, evitando o máximo possível de acidentes”, afirmou ele na Sala de Monitoramento de Alertas Meteorológicos da Defesa Civil municipal.

O espaço, na sede do órgão, no prédio ao lado da prefeitura (a antiga rodoviária Leopoldina), não existia antes da tragédia climática de 2011, que devastou a cidade e matou centenas de pessoas. A sala contém cinco monitores e dois computadores em que são reproduzidos, em tempo real, dados das estações pluviométricas espalhadas pela cidade e informações dos vários sistemas de órgãos públicos que atuam com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

Oito ano depois da tragédia, a maior preocupação da Defesa Civil é com a evacuação das pessoas que vivem em áreas de risco. São 26 mil no total, sendo 22 mil em regiões passíveis de deslizamentos e quatro mil que podem ser atingidas por alagamentos, já que vivem às margens de rios. Com 36 sirenes espalhadas pela cidade e 23 mil celulares cadastrados para receber avisos por mensagens de texto (SMS), o órgão se preocupa com a respostas da população aos alertas.

“Já que ainda não conseguimos retirar todas as pessoas dessas áreas de risco, fazemos, todos os anos, simulados, antes do verão, para que todos saibam como proceder em caso de emergência. Também realizamos palestras em escolas”, disse Mori. Mas, para ele, é preciso mais: áreas de risco devem constituir Núcleos da Defesa Civil para orientar a população.

“Há regiões em Nova Friburgo que podem ficar isoladas em caso de deslizamentos de terra nas estradas. Foi o que aconteceu com o distrito de Amparo em 2011. Ter nesses locais moradores treinados para socorro e resgate é muito importante. O problema é que só conseguimos formar quatro até agora, em Duas Pedras, Amparo, Ponte da Saudade e Córrego Dantas. Falta interesse da população”, disse Mori ao afirmar que vem buscando recursos para implantar ferramentas de monitoramento e comunicação em Debossan, no distrito de Mury, e em Salinas, no distrito de Campo do Coelho, localidades que não são consideradas de risco, mas que vem registrando chuvas intensas nos últimos anos. Nem sempre os radares alertam para chuvas nesses locais devido às características geológicas locais.

Nos próximos meses, técnicos da Defesa Civil devem começar a receber o treinamento para utilizar o sistema do aplicativo CEM, que só deve entrar em operação em meados do próximo semestre. Enquanto isso, o morador que quiser receber SMS com avisos do órgão deve enviar o CEP de onde mora para o número 40199. O serviço é gratuito. O órgão dispara SMS quando a cidade entra em estágio de atenção, alerta e alerta-máximo devido às chuvas, ou quando volta ao estágio de normalidade.

 

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