Corais infantis: muito além do funk e do arrocha

Uma nota aqui, outra ali, e assim um novo mundo musical é apresentado às crianças
sábado, 06 de outubro de 2018
por Jornal A Voz da Serra

Os olhos não paravam. Observavam cada detalhe: as poltronas, a cortina, os degraus, o palco, as luzes. O nervosismo era grande, mas não tanto quanto a emoção de estar ali e mais ainda, com seus pais, avós, irmãos, amigos. Algumas nunca haviam entrado num teatro, muito menos naquele, bem no coração da cidade. E elas faziam parte, não da plateia, mas do elenco principal, junto a adultos, já experientes, escalados para se apresentarem no mesmo evento. Sem distinção. Sem privilégios.  Assim, várias crianças subiram ao palco do Teatro Municipal Laercio Rangel Ventura, entre os dias 28 e 30 de setembro, para mostrarem seus talentos no 10º Encontro de Corais de Nova Friburgo.

No repertório, músicas bem diferentes do que grande parte da população brasileira vem ouvindo, quase que exclusivamente. Nada de funk, arrocha ou sertanejo. Músicas de Chico Buarque, Luiz Gonzaga, Caetano Veloso, Djavan, Lupicínio Rodrigues, Tom Jobim, Vinícius de Moraes e até de Villa-Lobos, vêm encantando a quem assiste aos coros de crianças e jovens, uma atividade artística e cultural em expansão em Nova Friburgo e região. À frente, regentes como Diogo Rebel (Allons Chanter Infanto-Juvenil), Joffre Evandro (Coro Jovem da Oficina Escola de Artes), Dayenner Marinho (Coral Infantil Professor Cícero Monnerat) e Rodrigo Moreno, que merece um capítulo especial nessa história.

Formado em Música pela Universidade Candido Mendes, Rodrigo participa do grupo de pagode Sabor de Samba, é barítono no coral Cantomusarte e dá aulas de artes em sete colégios: Anjos do Senhor, CPM Bom Jardim e CPM Nova Friburgo, Pensi, Piano de Pano, Pontinha do Sol (Professor Cícero Monnerat) e Ponto de Partida. “Desde criança eu via aqueles filmes americanos, com grupos cantando e pensava: é isso que quero para a minha vida. Acabei entrando para o Cantomusarte, mas paralelamente, me tornei cantor de grupo de pagode. Para me aprimorar como músico, entrei para a faculdade e depois, passei a trabalhar em escolas”, conta Rodrigo.

“Quando a gente chega numa escola para desenvolver a prática musical, geralmente não existem instrumentos, então a gente trabalha com o corpo, com a voz e isso vem dando origem aos corais, o que é muito bom. O canto coral faz com que as crianças desenvolvam a disciplina, além de propiciar um laço maior com o coleguinha, criando amizades reais. Não é através de celulares ou tablets, é ali ao lado, com uma criança igual a ela”, explica o músico que trabalha, inclusive com crianças bem pequenas, que nem falam ainda. “Chego na sala e elas começam a chorar. Aí eu canto, coloco o violão perto delas e elas vão mexendo nas cordas, ouvindo os sons”.

Emoção e orgulho para os pais

Além de aprimorar a disciplina, o Rodrigo abre um leque musical para as crianças. “São tons e melodias que, normalmente, eles não estão acostumadas a ouvir. Principalmente assim, através de um coro. Não é música de youtube, é ao vivo, e cantada por eles”, explica Danielle Couto Turque, diretora do Centro Educacional Anjos do Senhor, muito aplaudido no Encontro de Corais. “E os pais dão muito apoio, participam muito”.

Douglas Andrade Amaral, diretor da Piano de Pano – escola que também fez sucesso no evento – reforça a importância da participação dos pais: “Eles ficam empolgadíssimos, maravilhados, com muito orgulho dos filhos. Se emocionam junto com a gente”, confessa ele. “As aulas de arte integram os alunos com os professores e com os colegas. As crianças trabalham a emoção, comunicação e até a timidez. Ficam empolgadíssimas para aprender uma música nova”, afirma Douglas.

Para Flávia Moreira Polo, diretora do Centro Educacional Ponto de Partida, além de trabalhar a disciplina, a concentração e a sensibilidade das crianças, o coral proporciona um contato com grandes nomes da música brasileira, expandindo o conhecimento da nossa cultura. “Tem ainda o fato de muitos pais nunca terem ido a um teatro e, agora, estão sendo levados pelos filhos. Estamos trazendo a família para perto da escola”, ressalta Flávia, que observou a empolgação da plateia do Encontro de Corais, com as músicas nordestinas apresentadas pelo coral do Ponto de Partida.

Além dessas três escolas, durante o Encontro de Corais deste ano, Rodrigo Moreno ainda esteve à frente do Coral de Jovens do CPM e do Coral Infantil Professor Cícero Monnerat (foto). “Mas neste último, como auxiliar da regente Dayenner Marinho”, faz questão de ressaltar.

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TAGS: Música
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