Cidade ganhou cinco curtas inspirados na história da imigração suíça

Projeto “Raízes de Nova Friburgo”, do Isec, consolida desenvolvimento do Polo Audiovisual da região, o SerraAção
sexta-feira, 03 de agosto de 2018
por Paula Valviesse (paula@avozdaserra.com.br)
SerrAção
SerrAção

“Foi muito rico para mim como friburguense me debruçar sobre a história do nosso município, porque é uma história singular que precisa ser contada”. A afirmação de Guilherme Rezende, um dos contemplados pela chamada pública realizada pelo Instituto Serrano de Economia Criativa (Isec), resume o projeto “Raízes de Nova Friburgo”. Com essa ação, a cidade ganha cinco curta-metragens inspirados na história da imigração suíça e ainda fomenta a produção de conteúdo audiovisual na Região Serrana.

A iniciativa ainda consolida as ações para o desenvolvimento do Polo Audiovisual de Nova Friburgo e Região, o SerraAção. Dos 10 roteiros inscritos, cinco foram contemplados no edital:

  • “As Histórias de Sophie”, de Felippe Nagato;
  • “Broa de Milho, Broa de Planta”, de Janaína Botelho;
  • “Colonial 61”, de Renata Spitz;
  • “Onça”, de Guilherme Rezende;
  • “Vila Submersa”, de João Pedro Orban.

A apresentação dos curtas fez parte das comemorações do bicentenário da cidade. Tendo como base a imigração suíça, os produtores/diretores puderam abusar da criatividade, uma vez que a chamada contemplava propostas nas categorias ficção, documentário e infanto-juvenil, podendo ter enfoque em histórias regionais, fatos históricos, lendas e crenças populares suíças adotadas pelos friburguenses, formação do povo, festas tradicionais, características e hábitos regionais derivados dos suíços, personagens, casos de família, amor, ódio, conquistas, perdas, traição. Desde que tivessem como inspiração a história local derivada da imigração (1818- 819).

Guilherme Rezende e o ataque da onça

O curta do diretor Guilherme Rezende traz o encontro inesperado de um suíço perdido e um escravo em fuga em meio a uma mata virgem de Nova Friburgo nos tempos da colonização. Franz e Fortunato não falam a mesma língua, quase não se entendem, mas acabam se juntando em meio ao suspense  de um iminente ataque de onça.

Claro, não vamos dar spoiler se o ataque acontece ou não, mas Guilherme conta um pouco sobre como foi a construção do roteiro, a gravação e a exibição, que aconteceu em maio:

“Apesar de já trabalhar na área há um tempo, ter trabalhado em grandes produções no Rio, foi minha primeira experiência como diretor. Foi uma ação entre amigos, sem minha equipe nada teria dado certo. Filmamos em um dia e meio e foi desafiador realizar o projeto do jeito que eu queria. Como tínhamos pouca verba, pensei logo em filmar no meio do mato, pois não precisava construir ou alugar cenários, e só gastaria com o figurino de época. Ao me deparar com as cartas dos suíços da época, achei que elas deviam ser o fio condutor do filme e compilei várias, criando uma que foi lida pelo personagem do colono. O encontro dos dois sempre foi o mote principal do projeto, falar um pouco da dificuldade que eles passaram na época”.

O movimento traz expectativas para o cineasta, que espera um dia ver Nova Friburgo em destaque por suas produções audiovisuais: “Vislumbro o dia em que Friburgo vai estar recebendo quatro longas por ano, que vão movimentar a economia local e empregar muita gente. Nós somos capazes disso. E é o que eu espero conseguir, massificar o entendimento de que cinema não é só cultura e arte, é negócio também. É muito benéfico para a cidade, que recebe no mínimo um milhão de reais dissolvidos em diversos serviços e profissionais que retroalimentam a economia, de forma expressiva”.

Felippe Nagato e a noite sem luz

Uma tempestade intensa, as crianças dentro de casa brincando e, de repente, acaba a luz. Não, não é terror, na verdade é uma grande aventura promovida pelo cineasta Felippe Nagato para contar a história da imigração dos suíços para Nova Friburgo no curta “As Histórias de Sophie”.

Sophie é uma descendente de imigrantes, que cede aos pedidos da garotada para aproveitar o momento sem luz, TV e acesso à internet para contar uma de suas histórias, na verdade, como ela mesma diz: “uma história de escuridão e coragem”. O relato narra a vinda dos suíços a partir da erupção do vulcão Tambora, localizado na Ilha de Sumbawam na Indonésia.

Mas qual a relação com Suíça, então? A questão é que o vulcão foi um dos responsáveis pela explosão vulcânica mais poderosa da história, que aconteceu em 1815. Foi uma atividade tão intensa, que espalhou uma nuvem de partículas por todo o planeta e as consequências foram sentidas em diversos países.

Janaína Botelho e a broa de milho dos Mozer

A historiadora Janaína Botelho se sentiu envolvida pela temática do Raízes de Nova Friburgo, e decidiu contar a história da família Mozer, que reside em uma vila no distrito de Lumiar: ““Escolhi a elaboração da broa de milho, pois guarda uma tradição passada de geração em geração, um valioso saber local. A originalidade de seus ingredientes, o modo de fazer a broa, a sociabilidade que envolve o momento de sua confecção - em que as mulheres se juntam, trocam experiências e falam de suas vidas -, tudo isso agrega valor como patrimônio imaterial de nossa região”, diz Janaína.

Apesar de não ter feito cinema, ela usou sua experiência na produção de documentários de história para a TV. E o resultado traz detalhes de dar água boca: “Na receita, uma variedade imensa de legumes crus ralados é adicionada ao fubá de milho, leite, açúcar, ovos e fermento. As massas das broas são enroladas em folhas de bananeira e assadas em forno de lenha. Essa broa é feita somente uma vez por ano, no último fim de semana do mês de julho, sendo comercializada para arrecadar fundos para financiar o bloco de carnaval da família. Atrai a atenção de todo o distrito de Lumiar e igualmente de São Pedro da Serra. Além é claro dos turistas para adquirir essa deliciosa iguaria”, revelou a diretora.

Renata Spitz e seus mistérios

Para a cineasta Renata Spitz produzir um roteiro envolvendo Nova Friburgo não foi nenhum desafio em termos de inspiração. Por isso ela ousou apostar no gênero terror em sua história adaptada da colonização Suíça. “Colonial 61” tem como ponto de partida as situações que os primeiros colonos que chegaram à Nova Friburgo precisaram enfrentar:

"O curta tem como foco uma vila em que misteriosos acontecimentos se sucedem com a chegada dos novos moradores. Um passado nebuloso parece existir entre os habitantes locais. Sem querer responder muitas perguntas, o filme deseja trabalhar a atmosfera de tensão e estranheza”, explica a diretora.

Renata, que trabalha com cinema desde 2009, está em seu quarto curta-metragem. Ela inclusive realizou em Nova Friburgo os curtas “Debaixo do Céu” e “Encontro dos Rios” e tem duas séries (documentários), que serão exibidas no Cinebrasil TV, gravadas na cidade - uma é sobre agricultura sintrópica e a outra sobre forasteiros que saíram da cidade grande e foram em busca de outro tipo de vida.

“O imaginário de Friburgo, as locações e toda a minha vivência me proporcionaram essas fontes de inspiração, tanto em termos de narrativa como estéticas, para dar curso ao meu trabalho”, afirma.

João Pedro e a colonização

“Vila Submersa” é o documentário do diretor João Pedro Orban. Nele, o autor busca encontrar o que ainda há de herança da colonização suíça em Nova Friburgo, desenvolvendo um percurso dessa imigração.

“Como havia esse direcionamento do edital, escolhi o tema e comecei a escrever. E tanto eu quanto a equipe nos surpreendemos muito no processo, descobrimos muita coisa e criamos juntos enquanto gravávamos. O curta correu justamente como planejado, filmamos tudo em uma semana, num clima agradável e descontraído. Com uma equipe muito reduzida, a que que cabia no edital, mas priorizando remunerar a todos os profissionais com o máximo possível”.

O curta foi o terceiro na carreira de João Pedro, mas o primeiro como diretor. E a ideia de traçar um percurso reflete um pouco da sua vida pessoal: “Atualmente moro em uma Kombi viajando pelo Brasil com minha companheira e nosso filho de dois anos, registrando nossa experiência nômade de criação e conexão através do nosso projeto Rota em Cria. Diante disso, minha expectativa é seguir nesse projeto e viver o presente em tudo que faço e esperar o futuro virar presente pra descobrir o que virá, ou o que chegou a ser”, diz João Pedro.

 

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TAGS: Cinema
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