Chance de classificação, baque e rebaixamento: onde o Frizão errou?

Uma nova e dura realidade, que precisará ser enfrentada com força e criatividade pelo Tricolor da Serra
quarta-feira, 20 de abril de 2016
por Vinicius Gastin
Falta de recursos exigirá criatividade de Siqueira e diretoria para escapar do momento ruim
Falta de recursos exigirá criatividade de Siqueira e diretoria para escapar do momento ruim

Não é simples entender como o time que arrancou um empate com o Vasco, em São Januário, e dominou o Fluminense no Eduardo Guinle (apesar da derrota) na primeira fase termina o campeonato carioca de 2016 rebaixado. Em números gerais, a análise torna-se ainda mais complexa: somando os dois “turnos” do estadual, o Friburguense marcou um total de 17 pontos, sendo 11 na primeira fase e seis na segunda. Uma pontuação que, considerando edições anteriores, colocaria a equipe na briga por uma vaga na série D do Campeonato Brasileiro. 

A título de comparação, o Bonsucesso, que marcou seis na soma das duas fases e terminou com pontuação negativa na primeira, se salvou. Caprichos de um regulamento que, de fato, apresentava esse tipo de armadilha. E era conhecido por todos os participantes da competição.

Dentre momentos de alegria e frustração, fica a certeza de um futuro tenebroso, que exigirá bastante criatividade. As avaliações serão feitas, e o futuro de cada jogador e integrante da comissão técnica será discutido. Um cenário que poderia partir da seguinte premissa: onde o Frizão errou?

O baque pela “não classificação”

“Não é um campeonato, é um torneio. Não é uma competição onde quem é merecedor por um trabalho bom consegue o êxito. É tiro curto, e não é o melhor quem avança, mas sim, quem erra menos. Um pênalti, um erro individual ou um dia em que você não tem sorte podem comprometer todo o trabalho. Pior que isso é que, apesar do grande trabalho, você não leva nada para a outra fase. Temos que repensar”, observa o técnico Gérson Andreotti. 

Essa avaliação do técnico tricolor foi feita logo depois do jogo contra a Portuguesa, na última rodada da primeira fase. O Friburguense marcou 11 pontos, e por apenas um, não avançou para a Taça Guanabara. Apesar de ter sido goleado pelo Boavista por 4 a 0 e ter perdido para o Bangu por 3 a 1, em Moça Bonita, o Tricolor da Serra jogou futebol o suficiente para ter avançado, segundo avaliação da diretoria e comissão técnica.

Os resultados anteriores foram considerados atípicos. Em Saquarema, por exemplo, o placar elástico escondeu as inúmeras chances de gols criadas pela equipe quando o placar ainda permanecia zerado. Depois da vitória contra a Cabofriense em Nova Friburgo e o empate com o Resende, no Vale do Aço, o Frizão viajaria para encarar o Vasco. A boa atuação em São Januário e o 2 a 2 fortaleceram o Friburguense, e o torcedor passou a acreditar na possibilidade de vencer o então fragilizado Fluminense no Eduardo Guinle.

Mais de quatro mil pessoas compareceram, e assistiram ao domínio tricolor. Do Tricolor da Serra sim. Apesar de ter saído atrás no marcador, o Friburguense alcançou o empate e parecia muito perto da virada até os 40 minutos do segundo tempo. Neste exato minuto, o time carioca encaixou um contra ataque e marcou o gol da vitória por 2 a 1. Injusta? Talvez. Mas ainda existia uma pequena chance: o Frizão teria que vencer a Portuguesa pela melhor margem de gols possíveis no Eduardo Guinle e torcer por uma combinação de resultados. Os três pontos foram conquistados com o triunfo por 2 a 1, mas as combinações não aconteceram. Restava a Taça Rio.

Inferno ou céu?

Desde o início da pré-temporada, o regulamento era conhecido. E o Friburguense trabalhou os jogadores com a ideia de que a Taça Guanabara seria o céu, enquanto a não classificação e a disputa da Taça Rio poderiam representar o inferno. Os detalhes impediram o tricolor de conquistar o passaporte para o andar de cima. O desafio, então, seria transformar a realidade do inferno no caminho para o céu. A linha tênue entre as possibilidades de rebaixamento e de título assustava, e havia o receio pelo baque. E ele aconteceu.

Na primeira rodada, contra o Tigres, o Friburguense esteve irreconhecível. No jogo que marcou a despedida de Rômulo, negociado com o futebol sueco, a equipe de Gérson Andreotti se mostrou travada, e até certo ponto “inconformada” com a nova realidade. Havia a necessidade de reagir rapidamente, e uma semana foi o suficiente para apresentar nova postura diante do América: vitória por 2 a 0 em Nova Friburgo. Mas o caminho era longo, árduo e repleto de armadilhas.

O vento, o gramado ruim e um pênalti mal marcado: as armadilhas encontradas pelo Friburguense em Cabo Frio. A derrota para a Cabofriense acendeu o sinal amarelo. Que se tornou vermelho com a derrota em casa, de virada, para o Resende por 3 a 2. O Frizão dominou o jogo, mas o paraguaio Borja mudou a história com dois marcados. E poderia também ter mudado o comando do Friburguense.

Andreotti prestigiado

A derrota para o Resende mexeu com o emocional do clube. Tanto que, ainda nos vestiários, Gerson Andreotti colocou o cargo à disposição. O gerente de futebol, José Siqueira, entendeu que não era o momento de trocar o comando. Afinal de contas, o treinador ainda contava com a simpatia dos jogadores e tinha o elenco sob controle. Prova disso foram os pedidos de atletas pela permanência.

O cenário, que já se tornava dramático, ganhou um toque de alerta máximo com requintes de crueldade. A goleada sofrida para o Bonsucesso, por 6 a 1, resultou em mudanças. Alguns jogadores não foram mais relacionados, e houve conversas e cobranças individuais. Andreotti voltou a ser questionado, e especulou-se até mesmo a chance de Merica dirigir a equipe nas duas partidas finais. 

Contudo, a direção entendeu que não era momento de transferir a culpa “apenas” para o treinador, e demitir Andreotti poderia tirar a responsabilidade dos atletas. Novas conversas com líderes do elenco aconteceram, e chegou-se ao consenso de que não era necessário mexer.

Vídeo, experiência e vitória

Pressionado, o Friburguense buscou refúgio na Aldeia da Criança nas vésperas do jogo contra o Macaé, pela penúltima rodada da Taça Rio. Longe da mídia e da torcida, houve unidade de alimentação, descanso e concentração. Enquanto isso, o clube trabalhava nos bastidores. Os familiares dos atletas prepararam um vídeo motivacional, exibido nos vestiários. Os depoimentos de filhos, esposas e namoradas fortaleceram a equipe, que entrou em campo com espírito de decisão.

Na escalação, a presença dos experientes Cadão, Sérgio Gomes e Bidu. No momento de pressão, assumiram a responsabilidade e foram três dos melhores em campo na vitória por 1 a 0 sobre o Macaé, colocando fim à sequência de três derrotas. Embora o gol tenha sido marcado pelo jovem Lohan, aposta da base do clube. O Friburguense chegou à última rodada dependendo apenas de si para escapar da degola.

 A queda na Ilha

A estratégia da concentração antecipada e da apresentação de um novo vídeo de familiares foi repetida na semana do confronto final contra a Portuguesa, bem como a aposta nos atletas experientes. Bruno foi mantido na zaga ao lado de Cadão, e Diego Guerra sequer viajou para a Ilha do Governador. Em campo, quando a bola rolou, o Friburguense marcava bem, mas era pouco efetivo. Chegava com pouca gente ao ataque.

Na tentativa de aumentar o poderio ofensivo, Lohan foi a campo no segundo tempo. Depois entraram Jefinho e Bernardo. Se o primeiro foi expulso, o segundo carimbou a trave. Em meio a essa mistura de momentos e sensações, o Friburguense, que precisava vencer devido aos outros resultados, sofreu o gol. Era o fim do sonho de cinco anos consecutivos na primeira divisão estadual.

Abalados, os jogadores, sobretudo os mais experientes, demoraram a sair dos vestiários e evitaram as entrevistas. Andreotti foi recebido e consolado pelos familiares, ainda sem a certeza sobre o seu futuro. Provavelmente, na última vez em que vestiu a camisa tricolor nesta primeira passagem. Ainda não há a confirmação, mas o treinador não deverá continuar para a próxima temporada. O nome de Merica surge com grandes possibilidades, uma vez que já era preparado para essa missão.

Todo o Friburguense, de fato, ainda precisa planejar o que será do amanhã. Agora sem os pouco mais de R$ 1,3 milhão pagos pela emissora que detém os direitos de transmissão pela TV aos times da primeira divisão estadual. Uma nova e dura realidade, que precisará ser enfrentada com força e criatividade pelo Tricolor da Serra.

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TAGS: Friburguense
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