A crônica da semana

Por Carlos Emerson Junior
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
por Jornal A Voz da Serra

Escrever dá trabalho. Aquela famosa frase de Albert Einstein (também atribuída a Thomas Edson, Pablo Picasso ou Paul Valéry) de que a criação é 10% inspiração e 90% transpiração está certíssima. Dependendo do trabalho, os números podem variar entre 5 e 95% ou 1 e 99%, mas com certeza qualquer pessoa que resolva escrever alguma coisa, nem que seja uma simples redação, vai transpirar muito.

Aliás, dizem que o cientista e inventor austríaco Nikolai Tesla fez uma blague a respeito: “Se o senhor Edison tivesse trabalhado de forma mais inteligente, não teria de suar tanto”. Será possível que Tesla não suava? O homem foi o pai da engenharia eletrônica! Brincadeiras à parte, se boas ideias são raras, difícil mesmo é colocá-las em prática. Escrever não é diferente.

Uma vez um amigo perguntou qual a minha receita para escrever as crônicas que são publicadas aqui no A Voz da Serra. Ora, meu caro, não existe receita de bolo, cada um tem os seus próprios métodos. Gosto de deixar a imaginação fluir, usar a memória, ler, conversar e, principalmente, prestar muita atenção ao que acontece à minha volta. A propósito, Ernest Hemingway dizia que “se um escritor deixa de observar, está liquidado”.

Uma simples crônica, como esta aqui, tanto pode nascer de uma palavra solta, ao acaso, fluindo de maneira perfeita entre o cérebro e o teclado do computador ou surgir lentamente, desde a escolha do assunto, o seu interesse, a elaboração e fluidez do texto, o uso da gramática correta até, é claro, a sua inteligibilidade. Depende do momento, sei lá.

Escrever exige pesquisa, tempo, atenção, disciplina e honestidade. Para mim significa basicamente ver, processar e informar. Aliás, informação, meus caros, nas mãos erradas pode ser uma arma muito perigosa. É bom lembrar que quem vence as guerras escreve a sua verdade e não necessariamente a verdade, não é mesmo?

Não podemos nos esquecer que liberdade de expressão é o suporte vital de qualquer democracia, bem como o direito à informação. Esconder, mentir, ou sonegar informações, ainda mais envolvendo a segurança do cidadão e seu patrimônio, deveria ser um crime hediondo. E falando nisso, muito cuidado com meias-verdades, a arma dos covardes.

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Crônica é um gênero narrativo. O escritor e jornalista Moacir Amâncio garante que a crônica, oficialmente, não existe e qualquer tentativa de enquadrá-la não é recomendável. Inconstante, descompromissada e libertária, a crônica é avessa a regras e incompatível com camisas de força.

Quando perguntaram a Rubem Braga, um dos maiores escritores do gênero, o que era a crônica, ele respondeu: “Repare bem, se não é aguda é crônica!”.

Sempre gostei de ler crônicas. Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Carlos Drummond de Andrade, Joel Silveira, Nélson Rodrigues, Carlos Heitor Cony, Carlos Eduardo Novaes, Ivan Lessa, Cora Rónai, Luiz Fernando Veríssimo, Martha Medeiros, Otto Lara Resende, Sérgio Porto e o nosso saudoso Augusto Muros, entre tantos outros, tem sido ótimos companheiros nas aventuras e desventuras do dia a dia.

O cronista é um contador de casos, verídicos ou não. Alguns acham que não passa de um palpiteiro, o que não deixa de ser verdade. Eu mesmo me policio para não sair metendo o bedelho por aí, mas é uma tentação, confesso! De qualquer maneira, a crônica não é jornalismo e sim uma visão pessoal das notícias que você lê no mesmo jornal ou revista onde é publicada e se você tiver credibilidade, logo estará criada a empatia com o seu leitor.

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Escrever é um dom? Se você estiver pensando em alguém tipo um Mozart, que aos cinco anos de idade já compunha músicas, pode esquecer. Gênios são raros. É claro que a habilidade é importante, mas sem muito estudo e uma grande convivência com a escrita, nada feito. Infelizmente o mais comum é a alegação da falta desse dom para deixar de colocar boas ideias no papel.

Qualquer pessoa sempre tem algo a dizer, mas poucos se atrevem a escrever e se expor. Afinal, como ensinava Clarice Lispector, “escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada”.

carlosemersonjr@gmail.com

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