Precisamos falar sobre transportes

sexta-feira, 05 de outubro de 2018

Deputados estaduais, federais, senadores, governadores, presidente da República. Neste domingo, 7 de outubro, os brasileiros vão às urnas renovar os quadros eletivos dos poderes Executivo e Legislativo em suas esferas nacional e estadual, determinando parte importante do que será o futuro próximo do Brasil.

Como já dissemos neste mesmo espaço, duas semanas atrás, chega a causar assombro a forma como o tema do transporte vem sendo negligenciado no decorrer das campanhas para os mais diferentes cargos, apesar da condição trágica que representa para a nação, sob todos os aspectos.

Em termos econômicos, a opção arcaica pelo transporte rodoviário interessa apenas a grupos específicos, ainda que poderosos, posto que em linhas gerais encarece demais a produção, penalizando duramente o mercado interno, asfixiando a margem para geração de empregos e comprometendo seriamente a competitividade do País em mercados internacionais. Além disso, dadas as características de nosso território, existem estados que praticamente vivem de maneira isolada, simplesmente não são alcançados por uma malha rodoviária decente ou minimamente trafegável. Tente, por exemplo, ir a Manaus, Macapá ou Boa Vista de carro, sobretudo nos meses mais chuvosos. E veja que estamos falando de capitais. Agora, imagine a viabilidade de fazer isso ao volante de um caminhão carregado!

Este quadro também amarra por completo a economia brasileira ao preço internacional do barril do petróleo, e ao valor do dólar. Num momento como o atual, o preço dos combustíveis vem rompendo barreiras, empurrado por estas duas altas, gerando consequências que vão muito além do encarecimento do transporte individual, posto que os efeitos se acumulam várias vezes ao longo das mais diversas etapas da cadeia produtiva. Aumentos de combustíveis são duramente sentidos nos supermercados, mesmo para quem nunca dirigiu.

Mas o pior impacto econômico se dá mesmo é nos hospitais, onde a realidade é tão triste que o aspecto financeiro acaba sendo eclipsado. E a tragédia vai além das dezenas de milhares de mortes a cada ano, ou das centenas de milhares de sequelas físicas e/ou emocionais. Afinal, a carnificina evitável de nosso trânsito também sobrecarrega toda a rede de saúde, em especial as ortopedias, afetando todo o cronograma de cirurgias eletivas e aumentando ainda mais o tempo de espera de quem já aguarda tanto pelo direito de ter a saúde atendida pelo estado.

Por tudo isso, chega a ser perturbador que tão pouco espaço seja dedicado ao tema num momento em que pensamos a respeito do Brasil que queremos. Diante da possibilidade, no entanto, que Nova Friburgo venha a fazer ao menos um deputado estadual e outro federal, por que não levarmos adiante o pioneirismo de nossa nova Lei Orgânica, que já prevê a instalação de pontos de travessia segura para animais no projeto de reformas ou abertura de novas estradas? Por que não levar ideias como esta para a Alerj e para Brasília?

Chega de esperar. A mudança pode começar aqui, e agora.

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Márcio Madeira da Cunha

Sobre Rodas

O versátil jornalista Márcio Madeira, especialista em automobilismo, assina a coluna semanal com as melhores dicas e insights do mundo sobre as rodas

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