Estacionar: o que não se deve fazer

sábado, 10 de março de 2018

Na semana passada vimos um pouco de teoria sobre como agir da melhor forma para aproveitar vagas apertadas, mantendo o carro a uma distância apropriada do meio fio – que para a maioria dos teóricos seria algo entre 25 e 30 centímetros. Hoje, no entanto, veremos alguns hábitos bastante disseminados que eventualmente parecem ajudar o motorista menos seguro a lidar com o drama das vagas, mas no longo prazo podem representar problemas muito mais sérios a quem conduz.

Começando pelo mais comum deles, é muito fácil ver pessoas esterçando (girando) o volante com o carro parado. Antigamente, antes da disseminação dos sistemas de direção assistida, essa era uma cena mais rara por um motivo bastante simples: a direção simplesmente ficava pesada demais com o carro parado, e os motoristas quase que intuitivamente conjugavam o movimento do volante com pequenos deslocamentos (muitas vezes pendulares, para a frente e para trás com o auxílio da embreagem) que ajudavam a transferir peso para a traseira e, ao fazerem as rodas girar, aliviavam em muito a resistência e torque que precisavam imprimir ao volante. Hoje em dia, no entanto, são poucos os carros que não possuem alguma forma de assistência na direção (hidráulica ou elétrica), e a maior parte dos motoristas das novas gerações perdeu este valioso parâmetro do verdadeiro esforço a que todo o conjunto, desde a coluna de direção até os pneus dianteiros, passando pelo sistema hidráulico (no caso específico desta forma de assistência), está sendo submetido. Ou seja: o motorista deixou de sentir, mas o esforço para as peças continua lá. Fazer disso um hábito, portanto, significa expor todo o conjunto a desgastes que podem reduzir a vida útil dos pneus e de todo o sistema de direção, inclusive gerando as famigeradas (e perigosas) folgas.

Além de girar o volante com o carro parado, muitos motoristas fazem questão de o girar sempre até o fim do curso – e isso também pode trazer implicações no longo prazo. O caso é mais grave em carros com direção hidráulica, nos quais o esforço extra irá sobrecarregar a bomba que toca o óleo do sistema, reduzindo sua vida útil e eficiência. A tampa do reservatório também pode ceder, causando derramamento de fluido.

Um hábito mais incomum, mas que muitos motoristas adotam como sinal de “esperteza”, é estacionar de frente, subindo com a roda dianteira no meio fio para só então começar a virar, de modo que a roda traseira se aproxime da calçada e o carro esteja perto dela e perfeitamente paralelo quando a roda dianteira finalmente desce e volta à pavimentação. Ora, esse procedimento não deve – nem pode – ser realizado de forma alguma. A implicação mais grave, claro, é avançar com o carro em movimento sobre a calçada, lugar reservado a pedestres, expondo os transeuntes a riscos, e o motorista a infrações. Mas mesmo num local deserto, de madrugada, os prejuízos já seriam muito maiores que o “benefício”.

Vimos ao longo de diversas colunas toda a complexidade que envolve o posicionamento individual e relativo das rodas, bem como as consequências e os riscos de quando esse equilíbrio é perdido. Imagine, portanto, o impacto de tal manobra sobre o cáster e o alinhamento de apenas um dos lados do carro, causando uma diferenciação que certamente fará o carro puxar para um dos lados e irá comprometer o consumo dos pneus e a vida útil de todo um conjunto muito caro de ser revisado, e pior: muito precioso para a manutenção da segurança do veículo.

O melhor mesmo, portanto, é praticar bastante e aprender a girar da forma certa, para não fazer do ato de estacionar um trauma desnecessário para uma atividade que deveria ser sinônimo de liberdade e praticidade.

Uma ótima semana a todos.

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Márcio Madeira da Cunha

Sobre Rodas

O versátil jornalista Márcio Madeira, especialista em automobilismo, assina a coluna semanal com as melhores dicas e insights do mundo sobre as rodas

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