Noções gerais sobre a esquizofrenia

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

A esquizofrenia parece ocorrer em gêmeos idênticos em cerca de 40% a 50%. A genética explica em parte esta doença mental, mas não tudo. Quanto aos fatores ambientais que favorecem o desenvolvimento da esquizofrenia, não existe ainda um consenso.

A esquizofrenia é uma doença mental grave que se manifesta de maneiras diferentes, geralmente na adolescência ou início da idade adulta. Ocorre em proporção mais ou menos igual no homem e na mulher. Começa mais cedo no homem. Atinge cerca de  uma pessoa para cada 100 mil habitantes por ano.

Ela desestrutura a personalidade do indivíduo que passa a apresentar sintomas positivos e negativos, além de relações pessoais transtornadas. 
Sintomas positivos surgem na pessoa e não existiam antes da doença, como alterações do conteúdo do pensamentos, ou “delírios”, perturbações da percepção ou “alucinações”, alterações no comportamento como agitação, catatonia (ficar imóvel por muito tempo).

Delírios são ideias falsas sobre as quais o esquizofrênico tem convicção absoluta. Podem ser de ciúme (a pessoa acha que está sendo traída quando não está), de grandeza (se acha um deus), de perseguição (crê que estão seguindo-o na rua), místicos (acha que pode curar todas as pessoas, fazer milagres), e outros. 

O esquizofrênico tem ideias confusas, desorganizadas ou desconexas. Difícil entender o que ele fala por falta de lógica. Ele pode crer que seus pensamentos estão sendo roubados, que as pessoas podem ler o que ele pensa e colocar ideias em sua cabeça. 

As alucinações são percepções falsas de um ou mais órgãos dos sentidos. O esquizofrênico pode ter alucinação auditiva (escuta vozes que não existem na realidade e que dão ordem para fazer algo), visual (vê objetos, vultos, pessoas irreais), olfativa (sente gostos não normais), e outras. A alucinação mais comum na esquizofrenia é a auditiva.

Sintomas negativos são características que deixaram de existir na pessoa durante a doença, como perda da capacidade de sentir o sentimento (embotamento do afeto), pobreza do pensamento (não consegue ter pensamentos fluentes), deixa de ter prazer em quase tudo, ocorre apatia, queda acentuada na capacidade de trabalhar e estudar. 

Quanto às relações pessoais transtornadas, o esquizofrênico tem variadas dificuldades nos relacionamentos com os outros. Há retraimento, incapacidade de fazer contatos normais com as pessoas, agressividade inadequada, excessos no comportamento sexual, exigências em excesso, falta de consciência quanto às necessidades das outras pessoas. Pode apresentar reações emocionais incongruentes, ou seja, chora quando era para sorrir etc.  Se torna sem motivação, perde a capacidade de trabalhar e se retrai socialmente. Alguns ficam muito desconfiados, não conseguem se concentrar e podem agitar e andar o tempo todo, ou ficar parados numa mesma posição por horas. 

Não há causa conhecida para a esquizofrenia. Existem fatores genéticos, ambientais como gravidez com complicações, infecções, entre outros. Há alterações no cérebro em neurotransmissores, especialmente na dopamina. Não há exames de laboratório que permita confirmar o diagnóstico de esquizofrenia. 

O tratamento da esquizofrenia envolve medicamentos antipsicóticos e ajuda para a reintegração da pessoa na vida social com treinamento de habilidades sociais. Especialistas que atendem o esquizofrênico são o psiquiatra, psicólogo treinado em atendimento de pacientes com psicose e terapeuta ocupacional. Também se orienta a família sobre a vigilância quanto à tomada dos medicamentos e compreensão da doença. Em casos agudos, com muita agitação e risco suicida, o paciente necessita hospitalização. 

H. S. Sullivan psiquiatra e psicanalista norteamericano, e Frieda Fromm-Reichmann, psiquiatra alemã que imigrou para os Estados Unidos, viam esquizofrênicos como solitários que não conseguem superar seu medo e desconfiança dos outros por causa de experiências traumáticas em etapas precoces da vida. Glen Gabbard, da Universidade Estadual de Nova Iorque, afirma que “As crianças que acabam desenvolvendo esquizofrenia têm uma aversão às relações objetais que dificulta a criação de vínculos com eles. A hipersensibilidade ao estímulo e as dificuldades com a atenção e a concentração também são traços comuns da personalidade pré-esquizofrênica.” (Psiquiatria Psicodinâmica, 2016). 

 

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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