Doutor, eu não tenho nada? Mas e o sintoma físico?

quinta-feira, 03 de maio de 2018

Muitas doenças têm origem na mente. Dr. Herbert Benson, médico clínico de Harvard diz que 75% das doenças diagnosticadas nos ambulatórios são devido a estresse mental. Ele afirma: “(a emoção) carrega um mais crucial papel em nossa fisiologia do que a maioria de nós pode compreender.” (“Timeless Healing – The Power and Biology of Belief”, Dr. Herbert Benson, Harvard School of Medicine, Body-Mind Institute, 1996).

Hipócrates, o pai da medicina, médico grego, disse algo interessante que se relaciona com a psicossomática, quando falou que mais importante do que saber que doença tem uma pessoa, é tentar entender que pessoa tem a doença. Doença psicossomática é a que se manifesta no corpo com sintomas e lesões físicas ou funcionais, mas cuja causa principal está em conflitos psicológicos. Corpo e mente funcionam em harmonia de tal modo que quando algo é pesado para a mente carregar, em termos de tensão nervosa, é como se o corpo dissesse para a mente: “Você quer uma ajuda?” Então, a mente diz: “Sim, me ajude porque está pesado lidar com este sofrimento mental!”

À partir daí a mente “joga” para o corpo parte de sua tensão, e o corpo começa a apresentar sintomas, que são, então, psicossomáticos. E cada pessoa terá a manifestação do sofrimento emocional em um ou em mais de um “órgão de choque” que é a parte do corpo que naquele indivíduo é mais sensível para as tensões emocionais.

Anos atrás um ganhador do prêmio Nobel de Medicina mostrou em seu trabalho científico que existe uma conexão entre células do Sistema Nervoso Central (SNC) e células do Sistema Imunológico (SI). Dr. Uldeman e colaboradores, no laboratório do estudo do estresse na Universidade do Arizona, provou que pessoas vivendo perdas importantes, como a morte do cônjuge, pode ficar vários meses com uma deficiência no sistema de defesa ou imunológico, devido à tristeza. Algumas células de defesa, como as células matadoras naturais, ou linfócitos T e B, podem ficar reduzidos ou pouco ativos em seu trabalho de combater vírus e bactérias porque a tristeza os afeta.

Talvez você já tenha ouvido falar de um idoso que estava bem de saúde e poucos meses após a morte do parente próximo dele, ele mesmo passou a ter alguma infecção importante e veio a morrer também. Por quê? Porque a tristeza abateu a força da imunidade daí um vírus ou bactéria aproveitou a situação e causou a doença grave.

Parece que quanto mais uma pessoa tem dificuldade de tomar consciência de suas emoções, especialmente das emoções dolorosas ou desagradáveis, mais provável é que ela apresente sintomas psicossomáticos, porque o corpo absorve tais sentimentos que a pessoa se sente inapta para vivenciá-las em nível consciente. Isto significa que quanto mais um sintoma psicossomático está “enterrado” no corpo, mais longe a pessoa está da verdade sobre o sentimento reprimido e somatizado. Diana Fosha, da Universidade Adelphi, Nova Iorque, diz que para cada emoção, há um componente visceral. Ou seja, sempre um sentimento tem uma expressão no corpo.

Se você tem dificuldade de expressar raiva, ela pode sair pela asma, na hipertensão arterial etc. Pessoas com importante dificuldade de expressar sentimentos, podem apresentar frequentemente prisão de ventre (constipação intestinal). Indivíduos perfeccionistas e “estressados” podem ter enxaqueca. Algumas pessoas com importante tendência a reprimir emoções por muitos anos, podem favorecer seu corpo a desenvolver câncer (estudos de cientistas como B. Siegel, Lawrence LeShan etc).

Corpo, mente e espírito atuam juntos. Seu corpo é o maior amigo de sua mente, e sua mente é o maior amigo do seu corpo. Cuidar bem do corpo é cuidar bem da mente e vice-versa. Ao ter sintomas no corpo que os médicos dizem não ser nada, com exames laboratoriais, de imagem etc, normais, comece a pensar e a se perguntar se não há algo mal resolvido em sua vida emocional que pode estar sendo manifestada em seu corpo.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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