Dá para prevenir o feminicídio?

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Feminicídio é o crime de morte praticado contra mulheres motivado por violência doméstica ou discriminação de gênero. Tudo pode começar com muita paixão, juras de amor e felicidade. E terminar em morte violenta da mulher. Assistindo a um telejornal essa semana ouvi o depoimento de uma mulher que atua na coordenação de programas de orientação da mulher vítima de violência. Ela disse que o trabalho daquele programa objetiva ajudar a mulher vítima de violência em três coisas: oferecer informação, dar acolhimento na hora da dor e orientar sobre onde a vítima pode ir para fugir do ambiente hostil.

Será que o que ajuda a proteger a mulher de homens violentos é somente orientá-la quanto aos sinais que indivíduos agressivos manifestam no relacionamento, a tempo dela poder escapar? Não será necessário que ela aprenda a lidar com suas próprias emoções para evitar cair em relacionamentos nos quais se torna vítima de violência?

Sinais que denunciam que um homem é violento podem ser: ele é de um jeito que tudo deve ser como ele quer, é possessivo e ciumento demais. Quer controlar a mulher, e não quer dividi-la com ninguém, nem com os parentes dela. Humilha a mulher na presença da sua família e perto de amigos destacando falhas dela. Sente raiva por coisas bobas, é vingativo, expressa a raiva de modo agressivo, humilhante ou ameaçadora. Outras pessoas têm medo dele ou se sentem ameaçadas por ele.

É comum a dúvida de mulheres, especialmente as jovens, sobre quando terminar um namoro. Muitas relatam namorar um rapaz que dá sinais de ser abusivo, infiel, e mesmo assim elas ficam na dúvida sobre se terminam ou não o namoro. A justificativa em geral é porque “o amo muito”.

É importante entender que o amor não pode ser algo cego e somente baseado em sentimentos. Este conceito distorcido é de novelas de TV. No amor maduro deve-se usar a razão para pensar em como o relacionamento está funcionando ou se não está funcionando bem. O amor também tem que ser firme e colocar limites para abusos, e se eles permanecerem, tem que haver uma interrupção disto para a pessoa evitar sofrimentos desnecessários.

Geralmente a pessoa apaixonada fica com medo de romper e não vir a encontrar outra por quem possa se apaixonar novamente. Isto é uma ilusão e uma defesa que prende o indivíduo. Há milhões de pessoas na vida, não há tantas confiáveis, é verdade, mas elas ainda existem. A paixão que deixa a pessoa unida a outra que é abusiva e violenta é mais uma dependência doentia e medo do que amor.

  Mas podemos perguntar: por que a mulher que sofre violência continua num relacionamento abusivo? Ela pode ter se acomodado na situação. Se trata de um casal desequilibrado. A mulher parece não se importar com a situação, sendo que no final da história acabam se embriagando juntos e felizes, até que ele explode com violência por ciúmes e desejo de controle. Ela se tornou dependente do seu marido e da vida que ele lhe proporciona. Ela se submete a essa situação para manter a estrutura familiar. O casal vive de aparências.

Amor tem que ver com sentimentos sim, mas na frente deles precisa ir o bom senso, e a razão que avalia a realidade sem se deixar levar pela paixão. Um tipo de proteção que as mulheres potenciais vítimas de feminicídio ou outro tipo de violência necessitam, é a proteção em relação à tendência delas mesmas de se deixarem levar pela emoção como se o amor fosse a paixão. A paixão pode deixar qualquer um cego para evidências de comportamento violento do outro. Mas o amor maduro não é cego.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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