Como conversar e o que fazer com um parente dependente químico?

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Vícios em álcool e outras drogas não surgem da noite para o dia. Trata-se de um processo gradual. Às vezes os membros da família de um indivíduo que se tornou dependente químico não percebiam pequenas mudanças diárias, semanais no comportamento dele.

Vamos ver alguns passos que você pode dar para tentar ajudar o familiar viciado em álcool ou outras drogas. Estes passos são recomendados pela Fundação Hazelden, uma das melhores instituições norte-americanas especializada no estudo, pesquisa e treinamento em recuperação de dependentes químicos. O original deste tema está em: www.hazeldenbettyford.org/addiction/help-for-families/dealing-with-addiction

1) Perceba seu próprio comportamento. Está você atuando como detetive e tentando encontrar onde seu amado parente está escondendo álcool ou outras drogas? Observa constantemente seu parente? Cancela compromissos com familiares ou amigos porque você não está seguro em que condições estará seu parente que você suspeita estar usando drogas? Pede desculpas pelo comportamento ou pela ausência deste parente? Se isto está ocorrendo com você, então há um problema a ser resolvido e estes comportamentos não devem continuar para não perturbar mais sua saúde.

2) Reconheça os sinais de vício. Especialistas têm identificado sinais físicos e comportamentais de dependência química para o álcool e outras drogas. Algumas pessoas tentam parar sozinhas com o consumo de drogas. Se este for o caso em sua família, você verá sinais de abstinência e padrões de recaídas. Alguns deles podem ser: irritabilidade, insônia, agitação, tremores, conversas ao telefone feitas de forma secreta etc. A chamada Síndrome de Abstinência de drogas pode ser algo perigoso e se faz necessário atendimento médico em muitos casos.

3) Aprenda a manter o amor para com o dependente químico, mas com desligamento afetivo. Pense em 3 Cês: eu não Causei isto (o vício da pessoa), eu não posso Controlar isto, e não posso Curar isto. Desligamento afetivo para com o dependente químico não significa abandoná-lo. Significa que você não ficará responsável pelas besteiras que ele fizer, e o deixará assumir as consequências do comportamento dele. Você pode falar com ele sobre os problemas que a dependência química faz e que está trazendo para a família e para ele. Mas qualquer mudança de comportamento dele está nas mãos dele.

4) Considere que pode existir outros problemas de saúde mental nesta pessoa. Muitos dependentes químicos possuem também outro diagnóstico que pode ser depressão, transtorno de personalidade etc. Daí ser necessário avaliação com psiquiatra. 

5) Não julgue. Dependência química é uma doença. Por isso precisa tratamento e não julgamento. Mas o dependente precisa decidir por si mesmo querer ajuda. Não invista em despesas com tratamento se ele não estiver disposto a buscar recuperação.

6) Tome a iniciativa de conversar sobre o assunto, mas baixe as expectativas. Não é fácil mesmo saber o que dizer ou o que fazer. Mas pense: você está tentando salvar uma vida. Mas só converse quando a pessoa estiver sóbria. Expresse sua preocupação de uma forma honesta e carinhosa. Fale sobre o efeito que a bebida ou outra droga tem produzido sobre qualquer coisa que o dependente gosta, podendo ser filhos, profissão, saúde física, esportes. Escreva num papel o que você irá dizer, assim estará melhor preparado.

Não chame para um diálogo quando a pessoa estiver bêbada ou drogada. Não use um tom de voz de reclamação. Não ofereça soluções porque isto é papel do profissional em dependência química. Não vá conversar com a pessoa sozinho, leve alguém com você. Desista de tentar mudar o comportamento dele. Isto é impossível. Não entre em desespero e nem traga a coisa pessoalmente caso a conversa termine mal. Se você se aproximou para tentar ajudar seguindo os passos acima, isto já terá sido um bom passo inicial e a semente foi plantada.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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