Amor ou apego?

quinta-feira, 08 de novembro de 2018

O amor é o principal ingrediente para a saúde mental. Amor não no sentido de paixão, de desejo sexual, de dependência do afeto do outro, mas no sentido de desejar e fazer o bem para você mesmo e para as pessoas ao redor. Amor não é apego. Muitos sofrimentos que experimentamos podem ser devido ao apego. E quando se pensa no contrário, no desapego, isto pode criar em nossa mente uma sensação de indiferença, frieza, negligência e egoísmo. Mas não é assim. Desapego é libertador. Ele não é se tornar indiferente para com a vida, os bens materiais e as pessoas. Não significa que você abre mão de tudo o que é de valor em sua vida. Não tem que ver com romper relacionamentos afetivos com as pessoas.

Uma boa definição de desapego pode ser esta: “Desapego significa saber amar, apreciar e se envolver nos relacionamentos com uma visão mais equilibrada e saudável, libertando-se dos excessos que o prendem”. Já reparou como muito dos sofrimentos humanos se relacionam com o excesso de apego ou a falta dele para com pessoas importantes na vida? Um desafio para a saúde mental é ter apego sem exagerar para os dois extremos de grudar no outro ou nas coisas materiais, ou se tornar indiferente para com elas.

Desapego também tem que ver com você ser responsável por si mesmo. Ninguém pode viver em seu lugar. Ninguém pode assumir suas tristezas ou sentir suas angústias. Cuidado para não colocar sua felicidade dependendo do comportamento dos outros. Felicidade não tem que ver com encontrar a pessoa ideal porque ela não existe, e, aliás, você também não é ideal, sem defeitos, como todos nós. Não existe uma pessoa que possa suprir todos os nossos desejos.

Procure viver no presente, aceitar e assumir a sua realidade. Muitas vezes, não conseguimos aceitar que nesta vida nada é para sempre. Muitas pessoas estão sempre focadas no que aconteceu no passado, e isso se torna um fardo pesado que carregamos no presente. Podemos olhar para dores e perdas do passado e nos atacar ou atacar pessoas ligadas ao sofrimento que tivemos, podemos fazer isso em nossa mente. Mas para você poder se sentir melhor será preciso aceitar o passado, parar de brigar com ele, e perdoar. Perdoar a si mesmo por não ter funcionado de uma maneira melhor, e perdoar as pessoas ligadas ao seu sofrimento, porque elas fizeram também o melhor que podiam com o que eram como pessoas.

Importante entender que ao desapegar isto significa que você não assumirá a responsabilidade pela vida das outras pessoas, assim como você não permitirá que elas queiram impor as ideias delas sobre você. No desapego você se torna responsável para com a pessoa ao invés de responsável pela pessoa.

Parece que o desapego saudável nos prepara para lidar com as perdas de maneira melhor, sem desespero, sem deprimir, sem desistir de si e da vida. As perdas virão, para o indivíduo culto e para o analfabeto, para o rico e para o pobre. As pessoas morrem, os filhos crescem e vão embora para a vida deles, a aposentadoria chega, e a nossa morte.

Saia com seus netos pequenos. Passeie mais com seus filhos. Tire um tempo para ler aquele livro que está na sua estante. Faça caminhadas perto da natureza. Num dia de sol, observe a beleza da claridade do céu. Num dia de chuva sinta o cheirinho dela e agradeça por ela vir regar a terra.  Desenvolva a sua capacidade de amar. Isto pode começar por aceitar as pessoas, parar de criticar os outros aí em sua consciência, praticar cortesia para com qualquer pessoa, inclusive com você mesmo.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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