Afeto, Emoção e Sentimento

quinta-feira, 04 de outubro de 2018

Qual a diferença entre afeto, emoção e sentimento? Afeto é a base biológica das emoções e dos sentimentos. É algo mais genérico que engloba tudo o que sentimos. Nascemos com capacidade afetiva, e não só racional. Ou seja, nascemos com a possibilidade de sentir e não só de pensar. Afetividade tem que ver com podermos sentir emoções e sentimentos. Nascemos com afeto e quando um afeto é acionado, é porque ele foi despertado por algo e nos motiva para agir.

Alguns transtornos mentais perturbam o afeto. A depressão, por exemplo, é uma doença afetiva ou do humor. A emoção de tristeza constante é um dos sintomas depressivos. Na esquizofrenia ocorre a alextimia, palavra criada por Peter Sifneos, da Universidade de Harvard, significando “incapacidade de sentir o sentimento”. Esquizofrênicos podem ter um embotamento afetivo, uma espécie de anestesia das emoções e dos sentimentos. A doença bipolar é outro exemplo de enfermidade dos afetos. Neste transtorno a pessoa apresenta em certos momentos emoções de euforia, e em outros se sente deprimida.

Então, afeto se relaciona com tendências para respondermos emocionalmente de forma positiva ou negativa às situações ligadas a pessoas e coisas. Quando se diz que uma pessoa tem afeto, estamos afirmando que ela tem capacidade de amar, ser amada, de ser agressiva, serena, de ser chata, ser agradável.

Emoção é a expressão afetiva intensa voltada para uma pessoa ou objeto. O afeto se manifesta através das emoções. Muitas emoções do passado podem permanecer vivas em nossa mente, podendo ser agradáveis ou desagradáveis, de alegria ou de angústia, de segurança ou de medo, de amor ou de ódio. E cada emoção tem um componente visceral, ou seja, se manifesta em nosso corpo. Exemplo, você tem uma emoção de medo e ao mesmo tempo surge uma sensação de frio da barriga ou tremor nas pernas. Você vive um momento de angústia e tem um aperto no peito e uma certa dificuldade para respirar.

As pessoas percebem nossas emoções. Elas são automáticas e geralmente surgem do inconsciente. Variam em intensidade (você pode ter uma raiva “mortal” ou uma raiva leve). E geralmente as emoções não são duradouras. Por isso o amor maduro não é uma emoção. Envolve a emoção e o sentimento, mas é mais que isto. Quando você ama uma pessoa, você não sente a mesma emoção e sentimento igualzinho o tempo todo.

E sentimento? Sentimento parece ser algo não público, ou seja, você sente algo mas as pessoas podem não saber o que é, a menos que você fale do que sente. Sentimentos são de nosso interior, mais privativos. Podem ser mais duradouros e menos intensos do que as emoções. Não precisam ter uma relação com algo imediato.

Exemplos de emoções: raiva, desprezo, medo, ciúme, decepção, entusiasmo, inveja, esperança, orgulho, alegria, tristeza, carinho, surpresa, nojo, constrangimento, vergonha, desesperança, ansiedade.

Você pode ter, por exemplo, recebido uma palmadas no bumbum quando era menino por ter respondido seu pai de forma agressiva. As palmadas geraram raiva em você. Só que para uma criança em torno de 4 ou 5 anos de idade, ter raiva do pai ou da mãe pode ser ameaçador para ela, porque ela depende dos pais para tudo, e se ela manifestar abertamente a raiva, isto a assusta porque será que ela perderá o amor deles? Então, muitas crianças, numa situação assim, expulsam a emoção (raiva) da consciência. Reprimem. Muitos anos depois, sendo você conhecido como uma pessoa calma, sai acelerando seu carro em perseguição contra alguém que lhe deu uma involuntária fechada no trânsito, emparelha o carro com o outro e grita palavrões para o motorista.

De onde veio esta crise de ira descontrolada em alguém geralmente sereno? Será que seus gritos com o motorista do outro carro tem correspondência com a reação que você gostaria de ter tido com seu pai lá no passado? Este é um exemplo de como emoções reprimidas podem surgir anos depois de maneira abrupta, que até assusta você mesmo.

Saúde mental tem muito que ver com ter as emoções, sem deixar que elas nos tenham.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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