A aceitação da ingratidão

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Podemos definir ingratidão como o não reconhecimento do bem oferecido ou da ajuda concedida a alguém. Você sente falta de gratidão para com coisas boas que realmente tem feito pelas pessoas? É você uma pessoa ingrata? Há um conceito na política de que quando um prefeito faz obras que não aparecem, o povo não valoriza. E, ao contrário, quando faz coisas extravagantes ao olhar das pessoas, elas gostam. Fazer uma rede de esgotos que proporciona infraestrutura sanitária não aparece porque está sob a terra. Mas fazer um monumento inútil que todos enxergam, pode enganar com a ideia de “ele faz obras para o povo”.

Talvez na sua vida ocorra algo parecido. Você pode fazer coisas boas para pessoas ao seu redor, sejam familiares, vizinhos, colegas no trabalho ou na escola, e ninguém dar o devido valor, sendo ingratos. Vamos supor que você faça uma arrumação em um cômodo da casa, ajeitando a bagunça, colocando em ordem os objetos nos armários, fazendo boa limpeza, e tendo convicção de que o que fez realmente facilitará a vida do outro. Mas este outro, dependendo do tipo de pessoa, poderá não valorizar seu esforço e possivelmente bagunçará tudo de novo. E para ela estará “tudo bem” viver na desordem.

O que você faz? Arruma de novo? Reclama? Fica criticando a outra pessoa bagunceira? Ou faz o bem sempre, sem se importar com receber ou não gratificação e reconhecimento? Você reelege o líder político que realmente fez o bem para a comunidade ou se deixa levar pela lábia maligna dele e por conflito de interesses?

Todas as pessoas possuem coisas boas. Mesmo as mais maldosas e agressivas. As pessoas desorganizadas são boas em outras coisas. Nem todo mundo é só mau. O desafio nas relações humanas é aprender a conviver bem com a injustiça, com a falta de apropriada e justa gratificação verbal e reconhecimento do bem que você faz. E com a corrupção que não tem jeito, a menos que a pessoa corrupta decida mudar e se tornar decente.

Talvez a pessoa que mais sofreu ingratidão foi Jesus Cristo. A maioria das pessoas era ingrata com ele que vivia fazendo o bem, curava enfermos, anunciava as boas novas da vida eterna, ensinava sobre o perdão, perdoava indivíduos complicados, ajudava a consolar os tristes, confortar os enlutados. Ele ressuscitou mortos, deu de comer ao faminto, animou o deprimido, acalmou o ansioso. A multidão que à princípio o saldou na entrada triunfante em Jerusalém foi a mesma que gritou dias depois: “Crucifica-o!” Como pode?

Como pode o povo reeleger políticos corruptos, até os que haviam sido cassados? Troca de voto por tijolos de barro, por um botijão de gás, ou por um lanche? Uma equipe de reportagem tentou entrevistar pessoas que agitavam bandeiras da CUT numa manifestação pública, sendo agredidas por ativistas da própria CUT. Mesmo assim o repórter conseguiu obter a declaração de um homem que agitava para lá e para cá a bandeira vermelha da CUT. Ao ser perguntado se ele sabia o significado daquela manifestação, se ele estava de acordo com as reivindicações daquele movimento, ele disse que não sabia de nada e que estava ali por um prato de comida e alguns miseráveis reais.

Faça o bem conscientemente, para qualquer pessoa, mesmo para quem lhe trata mal, pois isto será um tapa na maldade e pode curar, no mínimo você mesmo. Ajude sem esperar que as pessoas lhe agradeçam, sem contar com gratidão. Às vezes ela virá. Mas muitas vezes não. O que importa é que você ajudou a aliviar o sofrimento de alguém e sabe disto, tem consciência de que o que você fez realmente tem um valor de ajuda.

Ah! Se os poderosos de nossa nação fizessem isto, como a população seria ajudada, não é? Mas a gente sabe que não é assim que funciona. O egoísmo domina infelizmente, e destrói quem é dominado por ele, e esta pessoa pensa que é o contrário. Mas para os que agem com decência, ética, verdade, consciência de fazer o bem e faz continuamente, há muita gratificação, porque produz paz interior e saúde, além, claro, da alegria de saber que muitos são ajudados.

No livro de Isaías na Bíblia, capítulo 53, versículo 11 está escrito sobre a ingratidão sofrida por Jesus Cristo em sua vida aqui na terra: “Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito.” Fique satisfeito também por saber que o que você faz ajuda as pessoas. Não é isto o que mais nos gratifica?

TAGS:
César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.