É você (dois)

sábado, 01 de junho de 2019

Queria você aqui. Acariciando meus cabelos e fazendo carinho em mim. Imagino a gente na sala discutindo que filme ver: terror ou comédia romântica? Após você ter cedido ontem, vou esperar que me proteja hoje dos sustos que vou levar. Mais tarde, quando nos deitarmos, sei que vai estar ali, abraçado comigo, me defendendo de todo o mal e eu te defendendo, inclusive de mim mesmo.

Na varanda com vista para as montanhas, observo nós dois jogando conversa fora entre uma taça de vinho e outra. E o mundo tão grande, fica ideal com nós dois ali consumindo as horas do dia e da vida. Passar a vida com você. É tudo o que eu quero agora. Precisei passar pelo que passei para saber o que já tinha dito outrora: é você. Se disse ontem, agora quero viver esse é você que a música canta e a natureza provoca.

Vem ser meu juízo e a falta dele. Vem ser minha força e também minha fraqueza. Vem ser o novo que não fica velho. Vem ser a certeza desse contraditório tão paradoxal. Vem ser essa inspiração que me vem para repetir sem parecer igual a brincadeira de palavras extremas.

Lembro das noites mal dormidas pela luz invadindo a sua cortina mal instalada. Lembro do seu corpo esparramado me espremendo na cama pequena. Lembro do seu charme para me pedir relatório do dia. Lembro do cheiro da sua comida caprichada para a janta e da sobra que ficou para o almoço. Lembro do seu sorriso... Nada me perturba mais que seu encantador sorriso, especialmente quando você guarda para si o que não esconde de mais bonito.

Saudade daqueles passeios que evitam se tornar nostalgia como a viagem a São Thomé ou a Arambaré. Não viajaremos juntos para Campos do Jordão. Nunca dá certo, se planejado. É o melhor a fazer. É doído ser assim, mas absolutamente necessário para fazer sobreviver. Maturidade não é confronto entre razão e emoção, mas equilíbrio entre ambas.

E você não me deixou ver a série que eu queria continuar assistindo, porque se desinteressou da história. Mas continuamos, ainda que longe, vendo os stories da Ana Laura e cada episódio do programa de culinária. E, rimos à distância querendo mandar um para o outro a impressão do que testemunhávamos sós. Não somos sol tão sós.

E não fizemos caminhadas. Não entramos para o crossfit ou para a musculação. E não fizemos nada que não fosse agitação. Não vi mais seus pais, a não ser pelo Instagram. Mas ainda ouço a nossa playlist conjunta e acrescento músicas lembrando da nossa história. Separação.

Volto a querer ter você aqui, perto de mim. Mas agora, minhas palavras são apenas difamações para você. Não acredita mais nelas. Não acredita mais em mim. Talvez, eu precise acreditar mais em mim, para celebrar nós dois. Todos os dias há uma coleção de histórias tristes que nos fazem pensar que a velocidade da vida nos atropela. Mas nos deixamos deliberadamente se atropelar. Por que?

Saudade das vezes que chegávamos bêbados em casa. Eu sempre mais que você. Eu quero você e nosso filho brincando pela casa. Eu quero você dançando comigo na noite que a gente acha bonito o que se discute ser bonito, mas sem ciúme, levar pra casa o bonito de nós dois: você e eu, você (dois).

 

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Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

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