Uma vida feliz

sábado, 14 de abril de 2018

Quem é que não sonha com uma história que seja feliz? Sim, toda vida se escreve em páginas tristes e felizes, mas o que se espera, o que se quer, a esperança é que no fim de tudo, ao reunir todas as passagens, possa se deitar e dizer: eu tive uma vida feliz! Agradecer por ter tido uma vida feliz!

O coração funciona como peça fundamental de uma máquina. Essa máquina nos permite ser, fazer, buscar, ter... Mas o coração não é uma peça fundamental por ter razões e emoções que não se pode mensurar ou ajustar como um aperto aqui ou uma função acolá. O coração nos move sem destino e toda ação do coração tem por objetivo atingir a tal felicidade que permitirá se vangloriar, sem pretensões, de se comparar a qualquer outro: eu tive uma vida feliz tendo! E como se tem uma vida feliz? Perguntinha danada!

Para uns, talvez, ter filhos e passear com os filhos, acordar os filhos, brincar com os filhos no parque, vê-los crescer e cumprir a missão de criá-los ainda que a missão de um pai nunca termine. Para outros, ter um bom trabalho ou no melhor estilo ocidental ter uma casa, um carro na garagem, um cão no jardim e um trabalho que ajude a manter tudo isso. Para aquele ou aquela, ter poder. Para muitos encontrar um grande amor ou mais, ter tudo isso, filhos, trabalho, casa, poder, dinheiro, amor e viagens pelo mundo vez em quando.

Mas não há resposta concreta ou absoluta para tal pergunta, ainda que alguns bons autores tentem respondê-la em seus inestimáveis livros de auto-ajuda. Na sua busca, até vale recorrer a tais bibliografias, mas a resposta se encontra no dia-a-dia e é mutável e até passível de ser taxada de temperamental. A resposta está no coração, peça fundamental da máquina. Coração que é a balança da justiça de nossas almas nem sempre atentas para essas questões que podem soar como bobagens.

Bobagem é não ser feliz! Idiotice é esperar que intervenções divinas surjam no meio de tudo para nos conceder a felicidade.

Só se vive vivendo, só se é feliz vivendo com a dor e a delícia de ser o que é - como diz a música. Uma vida feliz! Se tivesse duas, três, cinco... gostaria de ter uma, duas, três, cinco vidas felizes. Não há razão de ser menos feliz, pouco feliz, nada feliz. Felicidade não se poupa para amanhã. Se é feliz agora! Uma vida feliz a múltiplos expoentes, uma vida feliz com o completo que a felicidade traz. Aliás, o grande adversário da felicidade é o vazio. Esse vazio que fugimos, às vezes, esquecendo que na fuga acabamos mais incompletos.

Ser completo. Ter a casa cheia. Não envelhecer ainda que os anos, inevitavelmente levem aos cabelos brancos e à rugas na pele ainda que exista tinta de cabelo e plástica. Não. Uma vida feliz é aceitar também a dor que existe e virá vez em quando. É ela que concederá o discernimento. É saber que sempre faltará um pedacinho disso e daquilo e mesmo que se tenha tudo e todos, pediremos mais e sentiremos ausências. Vamos querer mais ainda que exista satisfação em muitos momentos. Somos assim, insuportavelmente exigentes ao mesmo tempo em que não queremos nada demais: apenas uma vida feliz!

Uma vida feliz! É o desejo de todos que encontram inúmeras maneiras de experimentá-la. Feitos loucos, ponderados, exagerados, equilibrados... Não se importe com a maneira. Seja feliz e respeite a maneira que cada um encontra para fazer a sua biografia, ainda que queira dizer a mesma coisa: um dia de cada vez, com todos os dias reunidos, alguns fatalmente melhores do que os outros... “Fui feliz ao ponto de garantir que tive uma vida feliz!” E só se tem uma vida feliz  - vivendo!             

TAGS:
Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.