Reencontrar

sábado, 25 de maio de 2019

Você vai dizer que sou bom com as palavras, mas que não tão entregue assim na prática. E você pode ter razão. Estou aprendendo a viver, enquanto o que escrevo é o que sonho em ser. Sempre sonhei com um grande amor. Quem nunca? Sempre quis conhecer o amor da minha vida, como se a vida só pudesse ter um. Nada mais ocidental. Não! Eu não moro com os pinguins da Antártica. Vivo nesse ocidente de fugacidades e dias velozes, sem meditação. Não me excluo da responsabilidade que tenho com esses pactos de desorganização mental e descompromisso com a respiração. Alegro-me em ter consciência de que nesse modo - não vamos bem.

O amor é difícil de definir, quando verdadeiramente ele nos visita e fica. Ficção e realidade. Fácil é definir a paixão: intensa, cega o cotidiano e transforma até os dias mais cinzentos em coloridos. Mas a paixão não fica. Ela, obrigatoriamente, vai. Simplesmente vai embora e só permanece se transformada em amor. E o amor é simplista. Tão simplista que nem sempre se sustenta na realidade que todo mundo tem. E não é porque é vacilante que deixa de ser amor. Quem ama também peca. A vida é ensaio-erro. Mas erros podem ser fatais. E o amor se vai na nossa petulância de ter razão, de insistir em destacar o ponto escuro no pano branco da paz.

A imperfeição é que traz lógica ao amor. A vida é roda gigante, dessas que param por alguns momentos com você em cima ou você embaixo. Às vezes a parada dura anos, n’outras apenas minutos. Em ambas, a alma sente e nesse sentir percebe sentido.

É duro olhar para cada canto do mundo e ver que conheceu o sentido e deixou escapar. Refuto quem tem talento para o vitimismo. Não há que se separar o mundo em culpados e inocentes. A lida nos ensina que julgamentos só fazem perder tempo para se angustiar. E angústia é veneno nocivo demais para se conservar. O meu sentido foi passear para longe de mim. Mas perto de onde estou, o sentido não só me rodeia, como está dentro de mim. É sentimento avassalador de ter tido toda a felicidade possível e ainda sim ter buscado algo a mais que não faz bem.

É preciso reconhecer: fui feliz. Agradecer por tanto. Se erguer sem querer reparar os danos. Se reencontrar. Porque o amor também gera dúvidas e isso é humano. Somos tão inexperientes nisso tudo. A vida é ensaio-erro e o medo de errar nos faz errar mais ainda. A inconstância faz parte do nosso agir. O reagir é experiência de quem sabe, pois já conheceu o outro lado. Eu quero voltar para cá.

A casa sem quem se quer é apenas teto sustentado por paredes frias. Você vai dizer que eu estou perdido. Preciso me achar. Aliás, foi tentando me achar que encontrei tudo que vivi. Vou continuar tentando até reencontrar o que me fez feliz. Vou continuar combatendo a ansiedade para encontrar as novidades das conhecidas artes de amar, aquelas repletas da certeza que tive outrora. Amor certeza é a certeza que mais sinto falta. Mas só sentir falta não basta – dirá, mais uma vez com correção.

Há de dar tudo certo, ainda que o certo não seja aquilo que vislumbro.

Vou aprendendo...

TAGS:
Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.