Brasil é campeão em óperas bufas

quarta-feira, 06 de fevereiro de 2019

Nossos senadores, verdadeiros artistas de teatro, proporcionaram dois dias de um espetáculo deprimente, uma verdadeira ópera bufa. Tratava-se da posse dos novos ocupantes da casa, em número de 46, que segundo o site “Senadonotícias”, significou que de quatro que tentaram a reeleição, três não conseguiram. Além disso, o início dos trabalhos coincidiu com a eleição do presidente e da mesa diretora, com vários candidatos inscritos, entre eles, Renan Calheiros, exemplo bolorento do que de pior exista, na política nacional. No entanto, era um dos possíveis vencedores, talvez o candidato mais forte, apesar de nomes de peso como Álvaro Dias e Tasso Jereissati.

Diz o regulamento que a presidência da mesa deve ser exercida por um membro da legislatura anterior, caso o presidente não tenha sido reeleito, ou pelo senador mais velho, caso inexista membros da diretoria anterior. Foi assim que Davi Alcolumbre, do DEM-AP, assumiu a condução do evento. Como tinha sido suplente, anteriormente, nada contra não fosse o fato dele, também, ser candidato à presidência da casa, ato no mínimo reprovável. Foi aí, que Davi pôs em votação uma mudança regulamentar, mudando o rito do pleito para aberto.

Tal proposição foi aceita por maioria, mas isso contrariava frontalmente o desejo de Renan, pois ele sabia que dessa maneira, sua eleição estaria em risco. Nossos briosos senadores passaram à discussão acalorada, com xingamentos, dedo na cara, toda a baixaria digna de brigas de botequim, mas jamais no Senado Federal. Por falta de clima, a sessão foi suspensa e marcada para o dia seguinte, um sábado. Pelo menos justificariam seus altos salários.

Para complicar mais ainda o presidente do STF, Dias Toffolli, que dissera, quando de sua posse, que era chegada a hora do Poder Judiciário se voltar mais para as causas jurídicas e não interferir nos outros poderes, determinou que a eleição fosse secreta. Esse ato foi decidido na calada da noite, às 3h30 da madrugada, talvez para que não desse tempo de recursos, talvez para tentar salvar Calheiros. Isso se deu porque Tofffolli julgou ser inconstitucional a eleição aberta, já que isto não estaria previsto na Constituição, nem no regulamento interno do Senado. Determinou também que Davi Alcolumbre fosse substituído por José Maranhão, o senador mais idoso da casa. Só que regulamento pode ser mudado se a maioria assim o desejar, como foi o caso.

Claro está que na votação aberta, muitos senadores antigos não gostariam de atrelar seu voto num candidato que tem nove processos contra ele, no STF. Aliás, eles ainda não foram pautados Deus sabe lá porque, ou sabe e não quer nos dizer.

No sábado, 2, os trabalhos foram retomados. Eram 81 votantes, mas como nas eleições de grêmios estudantis, um engraçadinho colocou um voto a mais, e apareceram 82 envelopes. O presidente da mesa, José Maranhão, anulou a votação e determinou novo escrutínio, com novos discursos antes e mais presepada. Deu-se, então, um fato que expôs ao ridículo o presidente do STF, pois os senadores ao chegarem à boca da urna, abriam o envelope, e mostravam para a plateia e, diziam em alto e bom som, em quem estavam votando. Desrespeitaram uma norma do regulamento da casa que diz ser passível de punição, com perda do mandato, o candidato que declarar em quem votou, num pleito secreto.

Quando o mais votado atingiu 30 votos, o senador das Alagoas, renunciou à candidatura e ao final da votação, Davi Alcolumbre venceu com 42 votos, em primeiro turno, pois precisava de metade mais um, da preferência dos 81 senadores presentes. Renan, representante da velha política bolorenta, teve cinco votos, desmascarando de vez o repúdio dos novos tempos com o que de pior existiu, no Brasil, nos últimos 15 anos.

Ficam aqui as perguntas que não querem calar: Dias Toffolli, presidente do STF, vai solicitar a perda do mandato daqueles que tornaram a votação aberta? Os novos senadores serão capazes de restituir a dignidade que o cargo lhes exige? A conferir.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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