A romaria montada de São Sebastião do Paraíba

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

A romaria montada de São Sebastião do Paraíba é um evento esportivo e de cunho religioso no qual os participantes partem de Barra Mansa, no sul fluminense, à cavalo, com destino a São Sebastião do Paraíba, distrito de Cantagalo, no Centro-Norte do Estado do Rio de Janeiro. A iniciativa da cavalgada partiu de Carlos Elias dos Santos Curty e de José Rosa com o intuito de celebrar em sua cidade natal a memória de seus antepassados, todos suíços que emigraram para o Brasil no início do século 19. A família Curty é natural de La Roche, no Cantão de Fribourg.

Composta originalmente por dez indivíduos, cinco membros da família faleceram antes de chegar à Fazenda do Morro Queimado, sede da Vila de Nova Friburgo. O patriarca, o sapateiro Pierre Curty (50 anos) faleceu em Macacu em 18 de dezembro de 1819. Já a sua esposa Marie D’Angel (48 anos), morreu ainda a bordo do navio, no mesmo ano, de tuberculose, nos informa Henrique Bom, no livro “Imigrantes”. Três filhos do casal igualmente faleceriam no trajeto rumo à Fazenda do Morro Queimado: Jean Jacques (15 anos), Marie (24 anos) e Pierre (19 anos). Jean Joseph (22 anos) se casaria com a colona suíça Françoise Bard, que renderia vasta descendência.

Após o falecimento de Jean Joseph, em 1853, os Curty e os Bard se deslocariam para São Sebastião do Paraíba. Marie Elizabeth (12 anos) e Joseph Laurent (15 anos) se casam igualmente com compatriotas e esse último acumulou uma boa fortuna. Outros filhos do casal eram Jacques (25 anos), Joseph (17 anos) e Catherine (10 anos). Carlos Elias Curty criou um roteiro em que os cavaleiros partem de Barra Mansa, passando pelas cidades de Santa Rita, Amparo, São José do Turvo, Conservatória, Valença, Rio das Flores, Andrade Pinto, Paraíba do Sul, Três Rios, Chiador-MG, Sapucaia, Aurora (Carmo), Porto Velho até finalmente alcançar o distrito de São Sebastião do Paraíba, em memória de seus ancestrais que ali se instalaram.

O percurso da cavalgada é planejado de forma que chegue ao seu destino no dia 20 de janeiro, dia do santo padroeiro de Barra Mansa e igualmente do distrito de São Sebastião do Paraíba. Precede a romaria a celebração de uma missa na igreja de Santa Cruz. A jornada leva em média dez dias, iniciando-se no dia 11 de janeiro, na alvorada, às 6h. As paradas são previamente organizadas e a romaria é acompanhada por um caminhão, para suporte. Os cavalos são examinados e preparados fisicamente para o evento através de treinamentos com exercícios diários.

Durante o percurso, à noite, faz-se novenas nas pousadas e após a reza é aberto um debate sobre a romaria e a memória familiar. Devido ao forte calor do mês de janeiro, a marcha é iniciada sempre às 5h da madrugada. No caminho, avistam-se montanhas, rios, passa-se por inúmeras fazendas históricas e localidades ribeirinhas, uma verdadeira aventura cavalgando às margens do Rio Paraíba do Sul. Na chegada a São Sebastião do Paraíba, os romeiros são recebidos com muita festa pela população local, visto ser o dia do padroeiro do distrito. Juntam-se ao grupo aproximadamente 250 cavaleiros da localidade, abrilhantando ainda mais os festejos.

A romaria montada de São Sebastião do Paraíba é realizada há 23 anos. Em 2018, o tema da cavalgada será “200 anos da imigração suíça para o Brasil”, onde serão proferidas palestras sobre o tema, além de depoimentos de descendentes dos colonos suíços que participam do evento. São Sebastião do Paraíba é um pequeno lugarejo em que particularmente me apaixonei desde o dia em que conheci, quando fazia um trabalho de filmagem para o documentário “Caminho das Águas”. Certamente irei assistir a chegada da romaria montada e presenciar esse evento em memória dos colonos suíços da família Curty. 

  • Foto da galeria

    Carlos Elias Curty com traje típico de seus antepassados

  • Foto da galeria

    A romaria inicia em 11 de janeiro e leva dez dias

  • Foto da galeria

    Juntam-se aos romeiros 250 cavaleiros de São Sebastião do Paraíba

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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