Riograndina e a Estação do Rio Grande

quinta-feira, 07 de março de 2019

Em 25 de janeiro de 1924, Riograndina foi desmembrada do primeiro distrito, sede de Nova Friburgo, com o nome de Estação do Rio Grande. No entanto, não se sabe por que motivo esse nome não agradava. Em razão disso, no ano de 1943, o prefeito interventor Dante Laginestra realizou uma reunião com os moradores para dar outro nome à localidade. De acordo com a memória oral, Artur Pereira Borges sugeriu o nome de Bica do Conde, em homenagem ao Conde de Nova Friburgo. Outra proposta foi que chamasse a região de Rio de Baixo. Rejeitadas ambas as proposições se chegou ao consenso de chamar o segundo distrito de Nova Friburgo de Riograndina.

Região das famílias Cantelmo, Barrada, Feiteira, Saraiva, Pestana, Silva, Veloso, Lourenço, Borges e Chabdaux, a região foi um importante distrito agrícola de Nova Friburgo onde se plantavam legumes, frutas como lima, laranja, figo, pêssego e flores, tendo como mercado o Rio de Janeiro. \emEm virtude de sua beleza e importância na economia local, no ano de 1873, Riograndina chamou a atenção do Imperador D. Pedro II que, acompanhado do fotógrafo Marc Ferrez, tirou duas fotos da região quando esteve em Nova Friburgo para a inauguração linha de trem que subia a serra.

Essa foto é exibida com orgulho tanto pela professora Regina Lehrer, na sala de sua residência, como igualmente no Centro de Cultura de Riograndina. O pai da professora era agente da estação de trem e ela viveu toda a sua vida entre a estação e a sua casa, que ficava próxima. Segundo ela, o trem passava nos horários das nove, onze, duas e oito horas da noite. Regina Lehrer se recorda dos banhos no Rio Grande durante a estação mais seca, e igualmente das pescarias onde se pescava lambari, cará e bagre.

Esse distrito tem como santo protetor Nossa Senhora do Rosário que tem uma linda igreja na localidade. No passado, a festa da padroeira, realizada no mês de outubro, era bem frequentada pelos habitantes de Nova Friburgo. A produção agrícola desse distrito era tão significativa que mereceu uma estação de trem, a Estação do Rio Grande. A Estrada de Ferro de Cantagalo, que passava por esse distrito, partia de Porto das Caixas e seguia em direção a Cachoeiras de Macacu. Subindo a serra, alcançava Nova Friburgo cuja estação é hoje a prefeitura municipal. Prosseguia em direção ao vale do Rio Grande. O trem poderia seguir para o Centro-Norte fluminense ou para Sumidouro. No primeiro caso, seguindo para Cantagalo, passava por Riograndina. Após uma parada na Estação do Rio Grande o trem passava por Banquete, pelo centro de Bom Jardim, Monnerat, Cordeiro, centro de Cantagalo, Euclidelândia, Boa Sorte, Laranjais, Batatal, Itaocara, Macuco e Portela.

Próximo à estação de Riograndina, em frente à pracinha, há um amplo galpão de carga chamado pelos antigos moradores de “contorno”. Desativado, virou salão de bailes dançantes e local de ensaio do “Bloco do Boi”. O boi bumbá é figura marcante do folclore popular nos festejos de carnaval dessa localidade. Esporadicamente, aparecia nesse distrito um indivíduo que montava nesse galpão uma improvisada sala de projeção de cinema, para alegria e gáudio dos moradores.

O professor e filósofo Roberto Saraiva Kahlmeyer Mertens frequentou por muitos anos a estação de trem de Riograndina. Segundo ele, a estação se transformou em residência de seus tios avós, Aureliano e Carmem, quando a linha férrea se extinguiu na década de 1960. Ele recorda que na sala havia cadeiras de palhinha e ao fundo um grande espelho bisotado francês. A criançada corria pelos cômodos fazendo com que os pranchões de madeira do piso soassem como tambores, para desespero dos adultos. Uma parte da casa era um armazém atacadista de seu bisavô, um espanhol que negociava grãos e mantimentos. Foi a casa da família até 1985.

Um dos charmes de Riograndina é a ponte de ferro que existe até hoje no local. Foi construída pelo imigrante espanhol Francisco Vidal Gomes, natural de Pontevedra, na Espanha, o mesmo que executou toda a obra do Colégio Anchieta. A antiga Estação do Rio Grande é atualmente o Casarão de Cultura Riograndina. O conjunto de prédios em seu entorno é considerado como bem municipal, tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural do Estado do Rio de Janeiro, o INEPAC. Esse casarão promove aulas de música e artesanato gratuitamente para a comunidade, além de ser um centro de convivência e espaço de sociabilidade. Vale a pena uma visita ao distrito de Riograndina e desfrutar em sua encantadora pracinha a memória da velha Maria Fumaça.  

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    Em 1873, Riograndina mereceu fotos tiradas pelo próprio Imperador D. Pedro II

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    Riograndina tem como santo protetor Nossa Senhora do Rosário

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    A família Saraiva na Estação do Rio Grande, final do século 19.

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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