A Praça das Colônias

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Nova Friburgo tem em sua formação social a composição de diversas nacionalidades. Alguns vieram na qualidade de colonos e outros como imigrantes, não obstante o fato de ser colono não excluir igualmente o de ser imigrante. Os suíços e os alemães tiveram uma particularidade, chegando a Nova Friburgo em um momento em que não havia uma política de imigração por parte do governo joanino.

‘Diferentemente, os italianos, portugueses, espanhóis e libaneses que chegaram a Nova Friburgo no fim do século 19, vieram dentro de um contexto em que a imigração era uma política pública notadamente para a substituição do trabalho escravo por braços europeus. Os austríacos, húngaros e japoneses chegaram à cidade serrana a partir do segundo quartel do século 20, em pequenos grupos familiares. Quanto aos africanos é notório a sua imigração forçada na condição de escravos.

No último sábado, 21, foi reinaugurada a Praça das Colônias. Para os que desconhecem havia anteriormente no local a mesma estrutura física, que foi totalmente destruída pela tragédia climática de 2011. A denominação de Praça das Colônias é equivocada e inapropriada, mas por razões desconhecidas manteve-se o mesmo erro do passado. Há consenso entre os historiadores e os representantes dos povos formadores de Nova Friburgo que o termo colônia é impróprio e isso porque a maior parte dos imigrantes não veio com o status de colono.

No entanto, vamos tentando com o tempo refinar essas representações equivocadas de nossa história. Segundo informações, as lojas de cada um dos povos formadores irão funcionar a partir do meio-dia, nas sextas-feiras, indo até a tarde dos domingos. É de grande importância ter esse espaço como forma de convergência dos descendentes de cada uma das nacionalidades, assim como de manutenção de sua memória.

Tenho certeza de que cada um de nós vai achar ali o seu locus de identidade. Cada um dos povos formadores já tem o seu calendário de eventos em celebração a memória de seus antepassados. Uns com uma programação mais definida e consolidada e outros celebrando ainda de forma incipiente. Mas não importa a dimensão do evento, o fundamental é lembrar, ou melhor, não esquecer. Existe um restaurante que será utilizado de forma compartilhada. É modesto quando se imagina que a gastronomia seria uma das prioridades desses grupos cujos países de origem possuem, sem exceção, uma culinária riquíssima, alguns com pratos ou iguarias reconhecidas como patrimônio imaterial da humanidade pela Unesco.

Tenho acompanhado há muitos anos o trabalho dos representantes dos povos formadores e percebo que não é uma tarefa fácil. Alguns até padecendo da falta de continuidade de sua memória e tradições pelas novas gerações, o que a meu ver é um dos maiores problemas. Outra questão é a de dar dinamismo em seus espaços na Praça das Colônias.

Ainda não assinaram o contrato com a prefeitura, mas terão possivelmente como uma das obrigações a manutenção da loja aberta, ao menos nos fins de semana. Cada qual tem as suas atividades profissionais e não será fácil manter a loja aberta bem como uma rotina de eventos e atividades culturais. Acompanhei no passado os grupos e esse era um dos gargalos, pois não tinham como pagar funcionários e sequer havia voluntários para manter as lojas abertas.

Por outro lado, acho uma exigência muito justa do poder municipal que disponibiliza o espaço. Mas estão todos muito motivados e os desafios que virão pela frente certamente serão contornados. A localização da Praça das Colônias é nobre. Está situada entre o Teatro Municipal Laercio Ventura e a capelinha de Santo Antônio. Bem próximo, está a histórica Fonte do Suspiro que o hino do município canta louvores, o obelisco com a memória dos soldados friburguenses que lutaram na Segunda Guerra Mundial e Praça dos Trovadores. Logo, a Praça das Colônias tem tudo para prosperar.

 Além de ser um local de sociabilidade, será nesse espaço que recordaremos nossas origens e manteremos sempre viva a memória de nossos antepassados.

  • Foto da galeria

    A Praça das Colônias está situada em um lugar nobre da cidade

  • Foto da galeria

    As lojas estarão abertas nos fins de semana

  • Foto da galeria

    Todos os povos formadores já tem o seu calendário de eventos

TAGS:
Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.