Os irmãos Scheiner

quinta-feira, 24 de março de 2016

O historiador tcheco Petr Polakovic, diretor do Museu de Emigração de Boêmios, veio ao Brasil pesquisar a emigração de seus conterrâneos que vieram para nosso país no início do século 19. Polakovic iria a Cantagalo em busca de informações dos irmãos Franz e Joseph Scheiner. Antes de ir a esse município me deu uma entrevista para falar de sua pesquisa. Franz Scheiner, imigrante originário da Boêmia foi cônsul geral da Áustria no Rio de Janeiro durante vários anos e isso explica a sua proximidade com a imperatriz Leopoldina, esposa de D. Pedro I, que era austríaca.

Franz Scheiner era confidente da imperatriz e emprestava regularmente dinheiro à ela. Franz se associou ao inglês George Brittaine fundou a empresa Brittain-Scheiner & Companhia para importação e exportação. Um dos irmãos Scheiner, Joseph, foi para Cantagalo e adquiriu uma fazenda de café. O historiador Petr Polakovic acha que possivelmente Franz Scheiner se casou com Elisabetha Martha Magdalena, filha do pastor luterano Friedrich Sauerbronn e isso facilita a sua investigação já que os Sauerbronn são conhecidos em Cantagalo. Mas por que Joseph Scheiner foi para Cantagalo?

Atualmente um município com pouca expressão, no século 19 tivera uma grande importância. As primeiras ocupações por europeus lusitanos em Cantagalo deve-se à procura de ouro de aluvião nos afluentes dos rios Grande, Negro e Macuco por garimpeiros provenientes de Minas Gerais. Essa região estabelecerá relações comerciais com a província mineira ao longo do século 19, acarretando a imigração de muitos fazendeiros para esse município. Com o esgotamento do ouro de aluvião de seus rios, os fazendeiros de Cantagalo migraram sua atividade econômica para a lavoura branca como milho e feijão e na criação de pequenos animais.

Com o passar dos anos, o plantio do café penetraria nos vales de Cantagalo, derrubando florestas, alastrando-se pelas encostas e o cultivo do café se torna dominante em Cantagalo, a partir de 1830. As construções modestas dos fazendeiros foram substituídas por imensos solares, mudando o estilo de vida da elite local, gerando uma aristocracia fluminense. Dezenove fazendeiros receberam títulos nobiliárquicos a exemplo do Barão de Nova Friburgo, Barão de Cantagalo, Barão de Duas Barras, Barão de Aquino, Barão de Rimes e Visconde de Imbé.

O Solar do Gavião, do Barão de Nova Friburgo, era a mais imponente sede de fazenda do Brasil Imperial, tendo hospedado o imperador Dom Pedro II e a família real por duas vezes. Cantagalo atraía, além de suíços e alemães que abandonavam o núcleo dos colonos em Nova Friburgo, investidores nacionais e estrangeiros, cientistas, viajantes europeus e até o príncipe Adalberto Hohenzollern, da Prússia, quis conhecer o município que exportava café para os Estados Unidos e para a Europa. Foi por isso que Joseph Scheiner se estabeleceu em Cantagalo, investindo no cultivo de café.          Petr Polakovic descobriu que Franz Scheiner era relacionado com Schaeffer, homem de confiança de D. Pedro I e contratado para cooptar mercenários na Europa. Assim como os suíços tiveram Gachet para intermediar a sua vinda ao Brasil, os alemães possuíam Schäffer. Em comparação a Gachet, Schäffer tinha muito mais poderes e influência junto às autoridades nacionais. Podem os irmãos Scheiner ter alguma relação com a vinda dos colonos alemães a Nova Friburgo, em 1824? Talvez sim, por sua relação com a nossa região e por vínculos estreitos à Dom Pedro I, que determinou a vinda desses colonos à Nova Friburgo e igualmente serem ligados a Schäffer, agente da imigração.

Mas quem responderá essa questão será o historiador Petr Polakovic que irá contribuir sobremaneira com a nossa história regional. Aguardemos o final de seu trabalho!

  • Foto da galeria

    Joseph Scheiner se estabeleceu em Cantagalo, investindo no cultivo de café. Fazenda São Lourenço, em Cantagalo

  • Foto da galeria

    O Solar do Gavião do Barão de Nova Friburgo era a mais imponente sede de fazenda do Brasil Imperial

  • Foto da galeria

    O historiador tcheco Petr Polakovic, diretor do museu de emigração na República Theca

TAGS:
Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.