A origem de Nova Friburgo

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Na semana do aniversário de Nova Friburgo, a historiadora Janaína Botelho publica detalhes da história do município, desde a sua fundação, há 197 anos, até os dias atuais. Na segunda parte desta série especial a pedido de A Voz da Serra, ela destaca aspectos relativos à origem da cidade. Confira.

Além da transferência da capital do Vice-Reino para o Rio de Janeiro, colocando Cantagalo, outrora Sertões do Macacu, próximo da administração colonial, outro importante acontecimento irá ter relação com a fundação de Nova Friburgo: a transferência da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1808, que fugia da perseguição de Napoleão Bonaparte. A proximidade geográfica com o poder concorre para o surgimento de Nova Friburgo. D. João VI é procurado pelo agente Nicolas Gachet, que representava a Confederação Helvética (Suíça), que oferece-lhe colonos suíços para povoar o inabitado reino do Brasil. Aceitas as condições e firmado o acordo, foi o município de Cantagalo que D. João VI escolheu para abrigar a colônia dos suíços. Optou-se em Cantagalo, mais precisamente pela região da Serra da Boa Vista, possivelmente pelo seu clima e geografia muito semelhantes ao da Suíça. No entanto, o mais provável é que a localização dessa colônia visasse atender a Cantagalo, pois suas tropas levando produtos alimentícios para a Corte teriam um povoado para dar-lhes rancho, ou seja, uma estrutura como alimento para o gado, ferreiros, etc. Em 1818, D. João VI autorizou a aquisição de quatro sesmarias contíguas na Serra da Boa Vista para a instalação da colônia. Uma dessas sesmarias era a Fazenda do Morro Queimado, onde se instalaria a vila do termo de Nova Friburgo, nome com o qual ficou conhecida durante décadas: o Morro Queimado. O nome de Nova Friburgo foi escolhido em virtude de significativo número de colonos serem originários do Cantão de Fribourg, na Suíça. A Serra da Boa Vista já era ocupada por fazendas com engenhos de cana-de-açúcar e de produção de anil desde fins do século XVIII, quando portugueses provenientes de Açores, da Ilha da Madeira, e mineiros receberam sesmarias nessa região. Fundou-se a colônia dos suíços, distribuindo-se datas de terras aos colonos, objetivando que plantassem lavoura branca como milho, feijão, arroz e igualmente mandioca, trigo, batata, além da criação de gado. Para que a colônia melhor prosperasse, D. João VI desmembrou-a de Cantagalo, baixando o alvará de 3 de janeiro de 1820, criando o termo de Nova Friburgo e estabelecendo uma administração colonial independente da Câmara Municipal. Era a primeira divisão territorial da Magna Cantagalo. Até o fim do século XIX, novas divisões territoriais ocorreriam dando origem a Bom Jardim, Carmo, Sumidouro, São Sebastião do Alto, Itaocara, Macuco, Duas Barras, Santa Maria Madalena, Trajano de Moraes, etc, formando 14 municípios no Centro-Norte Fluminense. 

A implantação de uma colônia de suíços na região, além de favorecer Cantagalo, beneficiou igualmente os fazendeiros portugueses. A ereção de um povoado a “termo” naquela época era uma importante “mercê” que se fazia, pois dotava a terra de “justiças”, já que a Câmara Municipal tinha além dos poderes executivo e legislativo, o judiciário. Esse último órgão tinha muita importância pois regularizava a obtenção de sesmarias nas terras devolutas (abandonadas). E assim surge Nova Friburgo entre dois importantes municípios: Cantagalo e Santo Antônio de Sá (região metropolitana do Rio da Janeiro). O primeiro, produtor de gêneros alimentícios, e o segundo, possuidor de um importante porto, Porto das Caixas, que facilitava o escoamento da produção através de seus rios rumo a Baía da Guanabara. Continua amanhã com a matéria “A colônia de suíços e alemães.”

  • Foto da galeria

    Fazenda do Morro Queimado

  • Foto da galeria

    Nova Friburgo, por Debret

  • Foto da galeria

    Nova Friburgo, meados do século XIX

TAGS:
Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.