O emblemático Hotel Leuenroth

quinta-feira, 01 de fevereiro de 2018

Rua Leuenroth, bem no centro de Nova Friburgo. Qual seria a origem do nome dessa rua via à Avenida Alberto Braune? Ao longo do século 19, havia uma vasta oferta de hotéis na pacata Vila de Nova Friburgo. Essa circunstância deve-se ao fato de muitos procurarem o clima das montanhas para a cura ou convalescença da tuberculose, doença que fazia muitas vítimas naquele século, sem distinção de classe social. Com a independência do Brasil, mercenários europeus foram cooptados para servir nas forças armadas por D. Pedro I. Entre eles haviam muitos alemães. Extinto esse batalhão alguns ex-mercenários migraram para Nova Friburgo já que em 1824, colonos alemães haviam se estabelecido na vila serrana.

Um dos que se dirigiram para Nova Friburgo foi Friedrich Gustav Leuenroth (1800-1880), mercenário que serviu no Batalhão de Estrangeiros. Após dar baixa no Exército, migrou para Nova Friburgo inaugurando uma “casa de banhos”, assim se denominavam as hospedarias no passado. Prosperando, Gustav Leuenroth construiu o Hotel Leuenroth, na rua que leva hoje o nome desse hotel. Anos mais tarde, Karl Friederich Engert se casaria com a filha de Leuenroth e abriria mais um hotel, o Hotel Engert, um dos mais frequentados pela elite carioca desde o século 19.

Outro ex-mercenário que consta ter vindo para Nova Friburgo foi Paul Leuenroth, possivelmente parente de Gustav Leuenroth, se declarando hoteleiro. Quem primeiro nos deixou um interessante registro do Hotel Leuenroth foi Karl Hermann Burmeister (1807-1892), médico, paleontólogo, geólogo e zoólogo alemão. Burmeister chegou a Nova Friburgo na véspera do Natal, em 1851, hospedando-se nesse hotel. Registrou em seu diário que a hospedaria fornecia três refeições diárias: às 9h da manhã, às 14h e às 20h. Na sala de jantar reunia-se a família Leuenroth e junto à parede enfileiravam-se os criados pretos, meninos e meninas, descreveu Burmeister.

Bursmeister relatou em seu diário: “Nossa chegada a Nova Friburgo, a 24 de dezembro, coincidiu com a festa do Natal. Encontramos nossos cômodos já preparados na casa da amável família Leuenroth, da qual metade era integrada por hamburgueses natos... Nunca poderei dizer bastante dos cuidados e do carinho que a família Leuenroth me dispensou, especialmente quando meu filho adoeceu seriamente, logo após nossa chegada”. Já em 1874, D. Pedro II veio a Nova Friburgo acompanhando a Princesa Izabel em um tratamento à base de hidroterapia em razão de sua suposta infertilidade. Nessa ocasião, veio acompanhado de sua amante, a Condessa de Barral, dama de companhia da princesa.

O imperador teve um romance com a condessa baiana, sua “alma gêmea”, relata em seu diário. Era uma mulher inteligente, despojada, culta e que vivera boa parte de sua vida em Paris. Ficaram todos hospedados no Hotel Leuenroth. De acordo com o livro de Alcindo Sodré, “Abrindo um cofre”, D. Pedro II se recorda com carinho do Hotel Leuenroth e em sua correspondência em março de 1876, com a Condessa de Barral, possivelmente se hospedando novamente nesse hotel, escreveu que olhava sempre com imensas saudades para os quartinhos do anexo do Hotel Leuenroth.

Numa ocasião em que esteve hospedado esse estabelecimento mereceu o registro do fotógrafo que acompanhava D. Pedro II, possivelmente Marc Ferrez. Já no século 20, o Hotel Leuenroth foi alugado para o Colégio Modelo, fundado pelo casal de professores Carlos Cortez e Zélia Santos Cortez. O prédio tinha uma área jardinada com mais de 10 mil metros quadrados. No ano de 1933, ocorre uma tragédia, sendo esse hotel destruído por um incêndio. A família atribui esse sinistro a desafetos de Carlos Cortez, e em janeiro de 1934, o colégio foi transferido para o Hotel Rio Branco, antigo Hotel Internacional, na Praça do Suspiro. Restou apenas o nome do hotel Leuenroth, difícil de pronunciar pela população local. 

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    Foto tirada na ocasião da hospedagem de D. Pedro II no Hotel Leuenroth

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    Hóspedes no século 19 no Hotel Leuenroth

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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