O Chalet do Parque São Clemente

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

O clube social Nova Friburgo Country Club já pertenceu a duas importantes famílias na história da cidade: Os Clemente Pinto (Barão de Nova Friburgo) e os Guinle. A residência do Parque São Clemente, em estilo chalet, foi construída na década de 1860, pelo Barão de Nova Friburgo. Em sua área de 3,87km², a chácara possuía pomar, lagos, jardins, repuxos, casa para morada do administrador e dos empregados, casa do hospital, senzala, escravos, paiol, estrebaria, moinho, gado bovino e criação de porcos, nos informa Luiz Fernando Folly. Coube ao famoso arquiteto Glaziou, que servia ao imperador D. Pedro II, o projeto paisagístico de toda a propriedade. Os Clemente Pinto possuíam um bonde que saía de seu solar no centro da cidade (atual Casa de Cultura) e se deslocava direto ao parque, passando, nos parece, pela Rua do Arco. Uma exclusividade de um dos homens mais ricos do império. Do parque, os Clemente Pinto se deslocavam ao pavilhão de caça da família (hoje Sanatório Naval) e parece que utilizavam igualmente o bonde como transporte. 

Com o falecimento do barão, em 1875, o Conde de São Clemente herda a propriedade do pai. A partir de então, a Chácara do Chalet passou a ser conhecida como Parque do Conde de São Clemente, em decorrência do título nobiliárquico do filho do Barão de Nova Friburgo. Anos depois, a população local se referia apenas como Parque São Clemente. Herança passada por quatro gerações da família Clemente Pinto, os últimos descendentes do barão mal tinham condições financeiras de manter a propriedade. Em 1913, os netos do Conde de São Clemente alienam a propriedade a Eduardo Guinle (1878-1941). Rodolfo de Souza Dantas, um dos ex-proprietários, permaneceu durante anos como administrador do parque. Guinle se encantou com Nova Friburgo, elegendo o município paras as férias da família. Terminava, assim, a tradição familiar de passar as férias de verão em Petrópolis e Teresópolis. Não se quedou diante das dificuldades de se chegar a Nova Friburgo, comparado às outras cidades serranas. Na segunda década do século XX, a viagem de trem entre Niterói e Nova Friburgo durava cinco longas horas, sem qualquer conforto.   

O estado da propriedade era péssimo quando Guinle a adquiriu, devido à precária condição financeira da família Clemente Pinto em conservá-la. O encantado jardim assinado por Glaziou era um matagal. O chalet e as demais benfeitorias encontravam-se em estado lastimável. Do Rio de Janeiro, vieram artífices, técnicos e especialistas de diversas áreas para a restauração da propriedade. Por ser edificada século XIX, não havia banheiros internos no chalet. Para tanto, dois quartos foram transformados em dois banheiros, para maior comodidade da família. Os banheiros, a copa e a cozinha foram azulejados até o teto, uma novidade à época, com azulejos alemães. O suíço Henry Massard foi quem recuperou as iluminuras do chalet. Como Eduardo Guinle estava construindo sua residência no Rio de Janeiro, atual Palácio das Laranjeiras, residência oficial do governador do Estado, muito do material que sobrava vinha para o chalet do Parque São Clemente. Foram construídas no parque alamedas de "macadame” com sarjetas feitas pelo artesão italiano Paulete. Esse artesão construiu um imenso zoológico para os Guinle, com aves raras vindas da Amazônia e do exterior, a exemplo dos grous, emas, marrecos e antílopes da África. O lago possuía muitas espécies de peixes, carpas importadas da Europa, cisnes brancos e negros. Concluída a reforma, a família costumava passar três meses, durante o verão, em Nova Friburgo. Dos filhos de Eduardo Guinle, foi César Guinle (1911-1989) quem deitou raízes em Nova Friburgo, sendo eleito prefeito e deputado estadual pelo município. Em um período em que se cogitava a interiorização da capital do estado, César Guinle foi responsável por um projeto de viabilidade em transformar Nova Friburgo em capital do estado do Rio. Finalmente, na sua terceira fase, o Parque São Clemente foi adquirido pelos sócios do Nova Friburgo Country Club, em 1957. Para gáudio da população friburguense, o parque foi tombado pelo IPHAN e declarado Patrimônio Nacional, em 28 de novembro daquele mesmo ano. 


Janaína Botelho é professora de História do Direito na Universidade Candido Mendes e autora de diversos livros sobre a história de Nova Friburgo. Curta no Facebook a página "História de Nova Friburgo”

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História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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