Friburgo, parada de um caminho, a caminho do céu

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Subir as montanhas e passear pelos arredores de Nova Friburgo. Uma prática em que existe o registro desde 1886, quando os alunos internos do Colégio Anchieta faziam os denominados passeios higiênicos. No entanto, a prática do montanhismo se inicia com a vinda de imigrantes alemães para instalar indústrias têxteis em Nova Friburgo, na segunda década do século 20. Entre esses empresários alemães foi notadamente Otto Siemens, proprietário da Fábrica de Filó, que tinha o hábito do montanhismo e incentivou essa prática esportiva no município.

A trova é uma tradição de Nova Friburgo. E quem melhor descreveu as suas montanhas utilizando essa técnica literária foi José Guilherme de Araújo Jorge. Nascido em 1916, em Tarauacá, no Acre, diplomou-se no Rio de Janeiro em Ciências e Letras. Técnico educacional do Ministério da Educação e Cultura foi igualmente orientador do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial em Nova Friburgo. Como jornalista, foi redator dos jornais A Manhã e Resistência, além de colaborador do Correio da Manhã e redator e locutor das rádios Nacional e Cruzeiro do Sul. Faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 27 de janeiro de 1987. Comumente conhecido como J. G. de Araújo Jorge foi um apaixonado por Nova Friburgo. Esse talentoso trovador nos legou a obra Canto à Friburgo, publicado em 1961, com inúmeras trovas em que exalta, em outros aspectos do cotidiano da cidade, a sua natureza e notadamente as suas montanhas.

Nova Friburgo desde a sua fundação era conhecida como uma região salubre. Os tuberculosos a procuravam para a cura e convalescença de sua doença. E por isso, o trovador em A Palavra Saúde exalta a salubridade de seu clima.  “Friburgo é um coração bendito e milagroso que torna em sangue bom todo sangue venoso; e ressuscita sinos mudos, que jaziam, em torres arruinadas que se desfaziam. Dá força ao cansado; ânimo, ao doente; entusiasmo ao que estava mal e decadente; e, por isso, segundo a narração da lenda, impassíveis estão numa estranha oferenda cinco cumes da serra, e não há quem os mude, querem dizer no céu a palavra saúde”.

As montanhas de Nova Friburgo são o alinhamento mais importante do Brasil em termos geográficos, com 1.500 quilômetros de extensão. Nova Friburgo possui inúmeras montanhas, morros, picos e pedras como a dos Três Picos, Pico da Caledônia, Morro do Ronca-Pedra, Pedra Cabeça de Dragão, Pedra Garrafão, Pedra da Babilônia, Pedras da Catarina Pai, Catarina Mãe e Filho, Morro do Gato, Pedra do Chapéu da Bruxa, Pedra da Pirâmide, Pico do Von Veigl, Pedra Janela das Andorinhas, Duas Pedras, Pedra do Porcelet, Pedra do Imperador, Morro da Cruz, Pedra Riscada, Pedra do Cão Sentado, entre outras. Ficou constatado que os dois cumes mais altos da Serra do Mar são o Pico Maior dos Três Picos e o Pico da Caledônia. O primeiro situado no Parque Estadual de Três Picos, na região conhecida como Salinas, com 2.366 m e o segundo com 2.257 m, situado no bairro de Cascatinha.

O trovador Araújo Jorge escreveu igualmente em versos poéticos Montanhas de Friburgo. “Montanhas que parecem grandes ametistas ou ondas gigantescas de um estranho oceano espumantes e mais puro...e mais perto dos céus!(...) e sobre elas, o céu azul, descomunal é a cúpula sem fim de imensa catedral onde Deus pontifica em luz e canta em festas”.

O Pico do Caledônia possui uma das mais belas vistas tanto de Nova Friburgo como de outras localidades. Dele pode-se visualizar a baía da Guanabara, uma parte da cidade do Rio de Janeiro e da região serrana. Em dias mais claros avista-se São Gonçalo, Niterói, Itaboraí, Guapimirim, Magé, Nova Iguaçu e a região dos lagos como Maricá, Araruama e Cabo Frio. E em mais uma trova, o poeta apaixonado pela cidade serrana, escreve em Eis Friburgo uma das trovas mais conhecidas. “No cimo da montanha, em seu ninho florido eis Friburgo. Um jardim suspenso no alto erguido, paragem de beleza infinita e de calma, onde respira o corpo, e onde repousa a alma. Cidade cujo nome é um símbolo e um troféu, parada de um caminho...a caminho do céu”.

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    Araújo Jorge, trovador que destacou as montanhas de Friburgo

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    Pico Maior dos Três Picos, cume mais alto da Serra do Mar

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    Araújo Jorge, trovador que destacou as montanhas de Friburgo

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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